Início de ano, escola nova. Essa é uma situação que deixam muitos professores preocupados. Mais ansiosa fiquei quando soube que minha turma do 3º ano, a qual já tinha 35 estudantes, receberia um garoto com deficiência visual, intelectual e que por motivos desconhecidos havia perdido a oralidade. Sua única forma de comunicação eram as palmas, os getos de “sim” ou “não” feitos com a cabeça e as expressões faciais.
A classe era extremamente agitada, com um grupo ainda em fase de alfabetização. Foi, então, necessário estabelecer alguns combinados referentes à locomoção, pois não seria possível correr e nem trocar a mobília de lugar sem avisar o estudante cego com antecedência. Para a comunicação alternativa, criamos códigos para manifestar seus desejos, como fome, sede e vontade de ir ao banheiro. No começo, o sistema pareceu confuso para as crianças, mas com o decorrer dos dias, todos se apropriaram dessa prática.
Já as atividades de alfabetização eram realizadas por meio de cantigas e histórias. Um programa de um amigo parceiro foi criado, e este era responsável por ilustrar as leituras com os materiais adaptados antecipadamente, confeccionados com dobraduras, EVA, papel cartão, papelão e desenhos. Os textos pequenos eram feitos em cartazes com ilustrações em tinta auto alto-relevo.
O aluno vivenciou e aprendeu a se locomover pelos espaços escolares, reconhecendo colegas, professores e funcionários.
Realizamos parcerias com os outros profissionais da escola. O professor de educação física elaborou sensibilizações com todos, aulas de equilíbrio e coordenação motora, desvio de obstáculos e jogos em parceria com os colegas. A docente do atendimento educacional especializado (AEE) resgatava os mesmos conteúdos trabalhados em sala, com materiais diferenciados e adaptados, reforçando assim as potencialidades e focando as dificuldades. A gestão administrativa e pedagógica estava sempre envolvida no processo de inclusão e aprendizagem.
As conquistas foram se dando durante todo o ano letivo, a aprendizagem foi mútua, ganhamos todos, principalmente as crianças, que conheceram um pouco de braile, se apropriaram de habilidades interpessoais e hoje sabem respeitar o limite e o tempo de cada ser humano.
Participante do Prêmio Educador Nota 10 de 2011.