Contar uma história de convívio entre diferentes por meio da dança e da música. Essa foi a proposta apresentada pela professora de educação física Márcia Gurgel a nós, seus colegas educadores na Escola Haroldo Jorge Braun Vieira, em Fortaleza (CE). O desafio foi aceito pelo grupo e em alguns meses produzimos o musical “O ciclo da vida”, inspirado no filme O Rei Leão. O espetáculo envolveu nossos estudantes com e sem deficiência e foi protagonizado por Emerson, garoto com autismo da educação infantil.
Localizada em uma comunidade de baixa renda da capital cearense, a Escola Haroldo Jorge atendia cerca de 660 alunos da educação infantil, do ensino fundamental e da educação de jovens e adultos (EJA) em três turnos. Entre eles, 27 apresentavam alguma deficiência e recebiam atendimento educacional especializado (AEE) no contraturno. As especificidades presentes no ambiente escolar eram as deficiências intelectual e física e o transtorno do espectro autista (TEA).
Escolhemos a obra O Rei Leão por considerarmos que sua narrativa permite falar de inclusão de modo lúdico e atrativo para crianças e adolescentes. Na história, o pequeno Simba é expulso de seu bando e cresce sozinho na selva, tendo que lidar com a diversidade de animais e buscando acolhimento em outros grupos. A produção do espetáculo ocorreu durante as aulas de educação física e contou com a participação das turmas da educação infantil e do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.
Atividades interdisciplinares antes do show
Nosso primeiro passo foi realizar uma reunião com a comunidade escolar para explicar a iniciativa. Ao final do encontro, exibimos um trecho do espetáculo musical de O Rei Leão. Em outro dia, para que os estudantes entendessem o roteiro, realizamos sessões do filme da Disney para todos na biblioteca da escola. Após assistirem à animação, os alunos foram estimulados a contar o que acharam da narrativa, discutindo temas como convívio com as diferenças, superação das adversidades, amizade, confiança, respeito etc.
Antes de partirmos para os ensaios, ainda promovemos outras atividades para que as crianças e adolescentes refletissem sobre o tema da inclusão. Com as turmas da educação infantil, fizemos oficinas de pintura e brincadeiras de imitação relacionadas ao filme. Emerson, um dos garotos com transtorno do espectro autista (TEA), destacou-se no trabalho em grupo e na dinâmica de imitação dos animais. Muito querido por seus colegas, ele foi posteriormente escolhido para interpretar Simba, o personagem principal do musical.
Com caráter interdisciplinar, as atividades preparatórias para o musical permitiram o envolvimento de professores de diferentes disciplinas. Muitos ainda estavam atrelados a um ensino tradicional: cadeiras enfileiradas, alunos como meros espectadores e o livro como principal recurso didático. Com o projeto, propomos que usassem outros arranjos metodológicos. Para isso, os docentes contaram com o apoio do atendimento educacional especializado (AEE), que usou pranchas de comunicação temáticas para facilitar a aprendizagem das crianças e adolescentes com deficiência intelectual.
O musical “O ciclo da vida”
Os figurinos foram adquiridos de modo colaborativo. A professora de educação física doou roupas de seu acervo e muitos alunos trouxeram apetrechos de casa para emprestar a seus colegas. Na escola, confeccionamos batas com TNT e outros adereços com EVA. Os educadores foram responsáveis pela produção do cenário com pássaros de origami.
Resultados e continuidade
Com a realização do projeto, entendemos que para uma escola ser realmente inclusiva, cada um importa. O tema principal da peça, a diversidade, se refletiu na pluralidade de estudantes de diferentes idades e habilidades. Sobretudo, mostramos que todos são capazes de dançar e participar. Temos intenção de ampliar a iniciativa nos próximos anos, introduzindo mais músicas e alunos no espetáculo para contar a história do rei da selva sem cortes.
Projeto participante do curso Portas abertas para a inclusão. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2016.