Escola usa ginástica rítmica para incluir crianças de área de vulnerabilidade

Levar a ginástica rítmica a crianças de uma comunidade marginalizada parecia uma realidade distante para a Unidade de Educação Básica (UEB) Professor Rubem Almeida, em São Luís (MA). Mas meses de planejamento e trabalho colaborativo tornaram esse desafio realidade. A iniciativa nasceu com a participação de nossa escola no curso Portas abertas para a inclusão, do Instituto Rodrigo Mendes, em 2016. A partir dos conhecimentos sobre inclusão escolar proporcionados pela formação, organizamos um projeto que levou aos alunos a oportunidade de trabalhar de forma autônoma os movimentos do esporte olímpico.

O vídeo está disponível com recursos de acessibilidade em Libras e audiodescrição.

Localizada em um dos bairros mais violentos da capital maranhense, a UEB Professor Rubem Almeida oferece ensino fundamental e educação de jovens e adultos (EJA) para cerca de 1.400 estudantes. A escolha da ginástica rítmica se deu por sugestão da professora Juscilene Nascimento, que participou da Seleção Maranhense da modalidade por doze anos. Além disso, àquela altura do ano letivo, a docente trabalhava com a temática das Olimpíadas. Usando o esporte como estratégia para incluir, o projeto foi desenvolvido em parceria entre os docentes de educação física e contou com a participação da equipe gestora.

As atividades adotaram princípios de respeito à construção coletiva, à participação de todos e à diversidade. Por isso, houve a preocupação de incluir não só as crianças com deficiência, mas também os meninos, que costumam ficar de fora desse tipo de prática. Ao todo, 45 alunos do 6º ao 8º ano foram envolvidos, entre eles Renato, que tem deficiência física e usa um andador.

 

A ginástica rítmica

Garoto com deficiência física faz movimento de saltito apoiando-se em andador.
O salto grupado é feito com as duas pernas unidas, flexionando-se os joelhos. Foto: Leonne Sá Fortes.

O primeiro passo foi apresentar nossa intenção para a gestão escolar. Após garantirmos esse apoio, partimos para uma primeira atividade com os alunos; uma roda de conversa sobre o projeto e sobre a inclusão. Depois, iniciamos as aulas teóricas sobre a ginástica rítmica, contando a trajetória da modalidade desde os tempos dos jogos olímpicos da Grécia Antiga.

Nas aulas práticas, na sequência, os estudantes iniciaram o aprendizado dos movimentos básicos da modalidade. Para estimular a autonomia, incentivamos que cada um fizesse os exercícios do seu jeito, dentro de seu potencial, sem a cobrança do rigor técnico. Nesses momentos, a professora os instigava a pensar juntos em adaptações para as variadas limitações físicas.

As aulas de ginástica artística se iniciavam com o alongamento e o aquecimento para estimular articulações e musculatura. Depois, eram feitos exercícios de equilíbrio e flexibilidade. Em um deles, as crianças sentavam-se na quadra, de costas para um colega, e esticavam-se uma sobre as outras. Esse tipo de atividade visava trabalhar a questão da confiança no parceiro.

Dois meninos fazem movimento do salto tesoura, levantando alto uma das pernas.
Alunos realizam salto tesoura na quadra da escola. Foto: Leonne Sá Fortes.

Depois, os alunos iam para o fundo da quadra para treinar lateralidade, deslocamento, saltos e saltitos – pulos mais próximos ao chão, considerados a base da ginástica rítmica. Foram praticados os seguintes tipos de salto:

• Grupado: de pernas juntas, flexionando-se os joelhos;
• Tesoura: com as pernas alongadas imitando o movimento de uma tesoura;
• Frontal: de frente, com as pernas levantadas nas laterais.

Conforme o domínio dos estudantes sobre os movimentos se aprofundava, passamos a inserir os aparelhos característicos da ginástica rítmica. Para driblar o alto custo dos equipamentos, o material foi confeccionado pelas próprias crianças ou adquiridos por baixos valores. As fitas foram feitas com palitos de churrasco, cetim e linha. Já para os arcos foram comprados bambolês em uma feira local, o que reduziu os gastos.

As atividades resultaram na criação de uma coreografia. Com ensaios aos sábados, os alunos montaram uma apresentação, que foi feita ao final do projeto para toda comunidade. Nesse dia, muitos pais ficaram surpreendidos com o potencial de seus filhos.

 

Resultados da iniciativa

Garoto executa o salto frontal, esticando pernas e braços no ar.
Garoto executa o salto frontal, esticando pernas e braços no ar.

De modo geral, o projeto diminuiu a timidez e melhorou a autoestima dos estudantes. Muitos demonstraram um forte interesse pelo novo esporte. Além disso, notamos que eles mudaram suas visões com relação à deficiência após verem seu colega Renato participando e realizando os movimentos da ginástica artística com autonomia.

No ano seguinte, continuamos com a iniciativa, mas a partir de um novo enfoque. Muitos alunos estavam apresentando problemas de aceitação do próprio corpo e sentiam-se inferiorizados por terem um determinado tipo de cabelo, de tamanho, de cor, etc. Por isso, trabalhamos o esporte como uma estratégia para desenvolver a autoestima e a auto-aceitação das crianças. Mesmo após nossa formação com o Instituto Rodrigo Mendes, continuamos a estudar e pesquisar sobre inclusão e fomos convidados pela Secretaria de Educação do município para levar a metodologia para outros professores da rede.

Projeto participante do curso Portas abertas para a inclusão. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2016.

Deixe um comentário