Proposta estabelece diálogo e trabalho colaborativo entre professoras do AEE e da sala comum para proporcionar autonomia a estudante
Em 2019, nós – educadoras e gestoras da rede municipal de Suzano – iniciamos nossa participação no Diversa Presencial – curso de formação em educação inclusiva. Logo no início ficamos muito felizes, pois percebemos que o trabalho que desenvolvemos no nosso município estava dentro do que a formação propunha: uma perspectiva inclusiva.
Na formação, levamos o caso do estudante Pedro*, de 6 anos, para ser discutido. Ele tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e está matriculado no 1º ano do ensino fundamental I na EMEF Antônio Marques Figueira, localizada no município de Suzano (SP). A escola está situada na região central da cidade e atende 1.315 estudantes entre o 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Destes, 27 possuem deficiências variadas.
Pedro chegou à unidade escolar este ano, vindo de uma escola de ensino infantil. No início, mostrou-se bastante resistente ao novo ambiente: chorava e não queria ir para a aula, além de apresentar dificuldades para se relacionar com colegas e professores. Na entrada da escola, o profissional de apoio precisava utilizar vários recursos para convencê-lo a deixar a mãe e ficar.
Na classe, ficava agitado e andava pela sala, o que o impedia de concluir as atividades propostas. Era dependente do agente de apoio para ir ao banheiro, beber água, na hora de merenda e em alguns momentos em sala.
Durante o Atendimento Educacional Especializado (AEE), Pedro também mostrava bastante resistência para participar das atividades propostas na sala de recursos multifuncionais (SRM).
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Cultura de colaboração
A partir das discussões vivenciadas no DIVERSA presencial, desenvolvemos um plano pedagógico para mudar essa situação. O método de ação reuniu toda a gestão escolar, como diretoria, coordenação e corpo docente, do AEE e da sala de aula comum, além da família do estudante.
Conversamos com os professores, profissionais de apoio e com a família do aluno. O intuito era mostrar as potencialidades do estudante e incentivar o diálogo permanente entre todos os atores, de forma a garantir mais condições de desenvolvimento e autonomia a Pedro. Com isso, foram propostas modificações na rotina do estudante, já que havia um histórico de infantilização nos cuidados em casa.
Além disso, inicialmente, a professora da sala comum havia solicitado que ele fosse acompanhado durante todo o período de aula, mas aos poucos foi retirando o profissional de apoio da sala, dando mais independência a Pedro. As rotinas domiciliar e escolar foram alinhadas para que o estudante pudesse se desenvolver integralmente.
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Resultados na prática
Após as atividades propostas, Pedro apresentou alguns avanços, como maior autonomia e participação em sala de aula, bem como interesse pelas atividades pedagógicas e rotina da escola.
Foi constatada a importância do envolvimento da família para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem e para o desenvolvimento do estudante. Por meio da relação de confiança construída com a família, a postura e a conduta do estudante no ambiente domiciliar foram modificadas, impactando sua vivência escolar.
O conhecimento construído no DIVERSA presencial fortaleceu algumas ações da equipe escolar, ajudando a desmistificar o tema da educação inclusiva. Algumas discussões e reflexões geraram mudanças na forma de pensar da equipe. Os saberes e vivências produzidos no curso deixaram marcas positivas e reforçaram as práticas que nosso município já vem trabalhando. Mas temos consciência de que o caminho é longo e temos muito a alcançar ainda.
* nome fictício
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do DIVERSA Presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.