Proposta pedagógica promove trabalho colaborativo e estimula autonomia para aprendizado sobre pirâmide alimentar
A turma de 2019 do 4º ano do ensino fundamental da EMEF Roquette Pinto, situada na zona leste da capital paulista, era bem heterogênea. Uma das alunas, a Yasmin, tem deficiência intelectual, apresenta distúrbios na fala e não estava alfabetizada.
A turma contava com o apoio de uma estagiária do Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI) da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Além da Yasmin, outros estudantes também não eram totalmente alfabetizados, demonstrando dificuldades para produzir e interpretar textos. Por conta disso, idealizamos uma atividade que fosse comum aos estudantes da sala e garantisse a participação e o aprendizado para todos.
Como a professora de sala de aula estava trabalhando temas ligados à alimentação saudável por quase um semestre, pensamos em desenvolver um jogo para proporcionar aprendizado sobre o assunto a todos os estudantes. A ideia era utilizar um recurso lúdico e atrativo para garantir a todos o acesso ao currículo.
A Pirâmide alimentar: trabalhando conteúdos interdisciplinares
Para tanto, chegamos ao consenso de que deveríamos desenvolver um material pedagógico acessível sobre a temática da pirâmide alimentar. O recurso auxiliaria os nossos alunos e alunas a identificar os alimentos, o grupo ao qual pertencem e a quantidade e valores calóricos para obtermos uma refeição balanceada e saudável.
Em sintonia com o currículo da cidade de São Paulo, articulamos conteúdos da língua portuguesa, matemática e ciências. Em matemática, utilizamos situações relacionadas à quantidade de ingestão diária de nutrientes ideal para um ser humano, além de analisarmos valores calóricos, de proteínas e de gordura corporal saudáveis.
Já em língua portuguesa, trabalhamos a formação das palavras e realizamos o levantamento de informações a respeito dos alimentos por meio de pesquisa em texto e em livros didáticos. E também formulamos um questionário com perguntas e respostas sobre alimentação saudável.
Além disso, estabelecemos um processo de conscientização e conhecimento, estimulando a reflexão sobre a importância de se manter um hábito alimentar saudável. Nossos objetivos com o material pedagógico acessível eram proporcionar aos estudantes:
1. Reconhecer os grupos de alimentos;
2. Quantificar a composição de uma refeição completa e balanceada para as necessidades diárias;
3. Conhecer tipos de alimentos necessários para o desenvolvimento do corpo.
+ Saiba como o material se articula com os conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
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Como funcionou?
Para alcançar o objetivo da aula, trabalhamos os grupos nutricionais dos alimentos, bem como valores de referência diária para cada faixa etária. Para isso, os estudantes foram organizados em grupos heterogêneos e trabalharam colaborativamente.
Os estudantes elaboraram, com o auxílio da professora de sala de aula e da professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE), um caderno de EVA com exemplos de alimentos de cada grupo e classe alimentar. O material serviu de apoio para os estudos em sala: as alunas e os alunos tinham que identificar os alimentos e relacioná-los aos grupos correspondentes. Ao final, tinham que selecionar alguns alimentos para produzir uma refeição saudável.
Após os estudos prévios, a Pirâmide alimentar foi apresentada para turma com a realização de uma dinâmica em grupo. Ao escutarem as perguntas gravadas no material, os estudantes deveriam respondê-las levando em conta os conteúdos estudados.
Aprendizado prazeroso e significativo
Os próprios estudantes se organizaram em grupos e participaram da atividade com o material da Pirâmide alimentar. E ajudaram seus pares de forma a proporcionar a participação de toda a turma. Todos responderam positivamente ao projeto, com envolvimento e receptividade em todas as fases de execução.
O projeto foi tão positivo que os familiares dos estudantes, embora não tenham participado diretamente das atividades, foram atingidos na medida em que praticaram a reorientação alimentar dentro de casa. Além disso, realizamos a exposição do material no Dia da Família para que mães e pais também pudessem conhecer um pouco mais do projeto.
As atividades também foram compartilhadas com a equipe escolar, potencializando e ressignificando a proposta pedagógica. Os educadores receberam com entusiasmo a iniciativa, planejando a utilização do material em outras turmas.
Entendemos que conseguimos garantir o direito à aprendizagem utilizando as características lúdicas e concretas do material, proporcionando aos alunos e alunas um aprendizado mais prazeroso e significativo, além de estimular a autonomia e o trabalho colaborativo.
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Lemann. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.