Material pedagógico elaborado para o aprendizado de conteúdos de geografia estimula senso de pertencimento em estudantes
Somos educadores da EMEF Dr. João Naoki Sumita, localizada na zona leste da capital paulista. Em 2019, uma de nossas turmas do 6ª ano do ensino fundamental era bem heterogênea e contava com estudantes com dificuldades de aprendizagem e em vulnerabilidade social.
Vitória Fernanda, aluna com paralisia cerebral, apresenta certa dificuldade para se comunicar: suas palavras são um pouco incompreensíveis para os educadores e ela acaba utilizando gestos para externar seus sentimentos e conhecimentos. Além disso, tem limitações para caminhar e redução dos movimentos das mãos, apresentando espasmos e ações involuntárias recorrentes.
Repensando práticas pedagógicas
Diante do desafio de garantir o acesso aos conteúdos para todas e todos, fomos motivados a repensar e reinventar nossas práticas pedagógicas para a turma. Nossa intenção era envolver os estudantes do 6° ano em uma experiência de ensino-aprendizagem que valorizasse suas potencialidades.
Ao iniciarmos a formação “Materiais Pedagógicos Acessíveis”, fomos incentivados a resgatar os princípios da educação inclusiva, em sua narrativa que objetiva promover uma educação de qualidade para todos os estudantes, assim como conquistar meios e estratégias de eliminação de barreiras à aprendizagem.
Processo de construção em sala de aula
Assim, considerando o Currículo da Cidade de São Paulo para a disciplina de Geografia, elaboramos uma proposta de trabalho geoespacial com base no entorno territorial da nossa escola. A ideia era construir um material que estimulasse o senso de pertencimento e de identificação com a comunidade escolar.
Nesse sentido, dividimos as atividades em algumas etapas:
1) Primeiro, propusemos à turma que realizasse um levantamento da localização da escola no Google Maps. Com a ajuda do software, os estudantes identificaram os principais pontos comerciais, além das principais ruas, avenidas e centros históricos da comunidade.
+ Saiba como o material se articula com a Base nacional comum curricular (BNCC)
+ Aprenda a fazer o material do jogo do território
2) Em seguida, com o auxílio de ferramentas cartográficas, construíram em sala de aula mapas do território, a partir das informações obtidas previamente. Os materiais produzidos durante essa etapa serviram de apoio para as aulas futuras.
3) Após o levantamento, os estudantes foram às ruas para uma pesquisa de campo, com o objetivo de conhecer a história da nossa comunidade. Entrevistaram comerciantes e líderes comunitários. O momento promoveu diálogo e trabalho em equipe.
4) De volta à sala de aula, construíram em cartolina mapa da região, analisaram os áudios das entrevistas e elaboraram um quiz de perguntas e repostas sobre a comunidade.
5) Por fim, com todos os recursos e aprendizados acumulados ao longo das atividades, construímos o Jogo do território, material de representação geoespacial da comunidade escolar.
Como eliminamos barreiras e tornamos o material acessível
O jogo conta com um percurso de estudos multidirecional determinado pelo tabuleiro. É uma atividade colaborativa, em que não há um vencedor, mas múltiplas formas de experienciá-lo em equipe.
Para a construção do material, consideramos a tecnologia do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e utilizamos recursos de eletrônica básica, de impressão 3D e corte a laser. Nossa proposta era tornar o jogo acessível e garantir o direito a todos de participar da vivência em sala de aula e ter acesso ao currículo.
Leia mais relatos da edição de 2019 do Materiais Pedagógicos Acessíveis:
+ Mancala promove inclusão e descolonização do currículo na EJA
+ Material em 3D facilita estudo sobre sistema solar
Levamos em conta também as barreiras que a aluna Vitória enfrentava. Dessa forma, colocamos um plano imantado para permitir o manuseio das peças pela estudante, bem como um dado digital sonoro para sortear o trajeto do jogo, e botões com áudios reproduzindo as descrições sobre os pontos comerciais e históricos do bairro.
Acreditamos que o projeto contribuiu para a formação sociocultural, ampliando a compreensão do contexto territorial e espacial do entorno escolar. Os estudantes adoraram todas as atividades: foi nítido o envolvimento, o engajamento e o protagonismo de todas e todos durante as etapas.
Em relação à aluna Vitória, ela demonstrou muito entusiasmo e esforço para desenvolver as atividades propostas. Ficamos felizes pelo fato de ela ter participado ativamente do jogo, interagindo com a turma da sala em uma atividade para todos. Eliminamos uma grande barreira!
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes Site externo em parceria com a Fundação Lemann Site externo. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.