Atividades de arte no AEE auxiliam aluno a conhecer e expressar própria identidade

Marcos, estudante do 5º ano do ensino fundamental, frequenta a Escola Municipal Gaspar de Godoi Moreira, na zona rural da cidade de Cotia (SP), desde a educação infantil. Quando chegou à unidade, o aluno apresentava um comportamento difícil, não aceitando regras e combinados. A postura da família complicava ainda mais a situação: eles não aceitavam as propostas de trabalho conjunto que fazíamos, nem realizavam os acompanhamentos de outros profissionais que eram indicados (havia uma hipótese de diagnóstico de deficiência intelectual sendo investigada). Um irmão de Marcos também estava matriculado na unidade e apresentava comportamento semelhante.

Primeiras conquistas

Desenho do rosto de um garoto pintado com lápis de cor. A pele é marrom, o cabelo é preto e ele usa uma camiseta azul.
Autorretrato feito por Marcos. Foto: Arquivo pessoal.
No jardim II, Marcos tinha dificuldades para se relacionar com professora e colegas, mas a cada dia apresentava pequenos avanços. Ao ingressar no 1º ano, trocou de turma e isso fez os episódios de agressividade aumentarem. Com frequência, ele ficava longos períodos no pátio ou nos banheiros, sem entrar em sala de aula. Esse comportamento se estendeu ao longo de todo 2º ano e, por isso, questões relacionadas à aprendizagem ficaram em segundo plano.

No 3º e 4º anos, o estudante estabeleceu um vínculo com o professor da classe e, com isso, houve uma mudança em sua postura. Ele passou a permanecer mais tempo em sala de aula, a registrar as atividades e a cumprir as orientações do docente. Paralelamente, encaminhamos seu caso ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) para acompanhamento familiar.

No decorrer desses anos, o aluno avançou na questão da socialização, integrando-se à rotina escolar. Seu maior prazer era o trabalhar com desenho e pintura, mas ele ainda relutava muito frente aos saberes escolares e à aquisição do currículo. A relação família/escola ainda era um desafio, bem como o autocuidado e o trabalho em grupo.

Mudança de olhar

Quando surgiu o convite para participarmos do DIVERSA Presencial em 2018, decidimos apresentar o caso do Marcos pois nossas ações, muitas vezes, não surtiam os resultados desejados. Ao longo dos encontros da formação em educação inclusiva oferecida pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM), entre ricas discussões e trocas de saberes, percebemos que nossas angústias eram iguais a de muitos outros educadores que estavam ali.

O curso nos proporcionou uma mudança de olhar com relação a diferentes aspectos da inclusão escolar. E ao colocar o conhecimento adquirido na prática, conquistas apareceram.

As ações na escola

Desenho feito por Marcos do personagem Sonic, dos videogames.
As atividades tinham relação com os gostos do estudante. Foto: Arquivo pessoal.
Nossa primeira iniciativa se deu no contexto do atendimento educacional especializado (AEE). Para os momentos em que o estudante estava na sala de recursos, proporcionamos mais atividades artísticas, jogos, vídeos e recursos tecnológicos que permitissem a ele se conhecer, se expor, errar, construir e aprender. O garoto se identifica com o personagem de videogame Sonic, que foi usado como estratégia para explorar as características do aluno e trabalhar sua identidade. Ao final dessas ações, foi produzido um vídeo com um relato pessoal.

Na sala de aula comum, a professora desenvolveu ações de afeto, utilizando os sentidos (olfato/aromas) para abordar questões de identidade e autocuidado. As atividades foram feitas em duplas, em grupos e colaborativos. A sala se apresentou muito amiga e parceira de Marcos.

Continuidade das iniciativas

Pretendemos, futuramente, articular o trabalho dos professores das disciplinas junto com o de educação física. Nossa ideia é desenvolver propostas interdisciplinares, com jogos, expressões artísticas e muito trabalho colaborativo.

Compartilhando experiências com outros educadores ao longo do DIVERSA Presencial, percebemos que muitas dificuldades que enfrentávamos com a família do aluno só seriam transpostas quando nós mudássemos nosso olhar com relação à mesma. Além disso, a formação nos auxiliou a criar uma cultura de troca entre os professores da sala regular e do atendimento educacional especializado.

Prestes a concluir o 5º ano, Marcos deverá deixar a escola, que não oferece o ensino fundamental II. Agora, nossa grande preocupação, e de sua família também, é matriculá-lo em uma unidade com um projeto inclusivo, onde ele possa frequentar o AEE.

 

Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2018 do DIVERSA presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.

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