Ao trazer as tecnologias para a sala de aula, o professor está cada vez mais desafiado a pensar em caminhos para a mediação tecnológica
O comunicar é uma prática cidadã e, portanto, extremamente democrática. A comunicação está entre as práticas que são trabalhadas transversalmente no currículo e é impossível, hoje, não trabalhá-la com as tecnologias do nosso cotidiano escolar. É importante que possamos refletir em caminhos para mediar a tecnologia presente na sala de aula e não pensar somente a tecnologia pela tecnologia, mas nas relações sociais que a envolvem.
O uso das tecnologias na educação
Pensar sobre as tecnologias na educação não é reinventar a roda. É refletir sobre nossas práticas pedagógicas, que, com o apoio de determinados instrumentos, podem facilitar e aprimorar o processo de ensino-aprendizagem. Em razão disso, a educomunicação pode servir como uma prática de quebrar os paradigmas no processo de ensino-aprendizagem, utilizando a tecnologia para colocar os estudantes como sujeitos importantes na elaboração da aula.
Talvez seja palpável pensar a participação de todos e todas de uma forma diferente, trazendo as pautas preferidas dos estudantes para a discussão e ajudando a construir os conteúdos trabalhados em aula: um exercício democrático e extremamente educomunicativo.
Os recursos tecnológicos disponíveis são meios abundantes para que o professor crie estratégias pedagógicas ao trabalhar o conteúdo, seja na construção de narrativas ou mesmo em apresentações. Vamos refletir sobre algumas das diferentes tecnologias que estão presentes no contexto escolar e as suas finalidades para facilitar o ensino de todas e todos os estudantes.
Você já ouviu falar sobre educomunicação?
A educomunicação consiste no trabalho de mediação e facilitação dos conteúdos, ou seja, nada mais é que a gestão da comunicação e das tecnologias em ambientes educativos. Em que, a partir da prática, os processos de comunicação possibilitam a implementação da cidadania.
É uma prática e também um conceito. Propõe novas vias de aprendizagem com os recursos tecnológicos e também novas relações de comunicação mais democráticas e igualitárias e menos hierarquizadas.
Considerada uma tecnologia social, a educomunicação tem sido uma concepção de mediação tecnológica cada vez mais aplicada nos desafiadores contextos escolares contemporâneos — visto a importância de pensar a tecnologia e a informação na escola.
Nesse contexto, é importante que os professores estejam cada vez mais atentos em trazer a tecnologia para a aula — sendo essa não o fim, mas o meio para multiplicar as possibilidades do ensinar e do aprender em sala.
Mas o que são as tecnologias?
Bem, antes de enlouquecer de tanto repetir a palavra tecnologia, é importante consolidar seu significado, para depois refletir sobre seus efeitos. Etimologicamente, “tecnologia” tem origem grega: Technología, sendo Techno – “técnica, arte, ofício” e Logía – “estudo”. Ou seja, quando mencionamos uma tecnologia estamos nos referindo a algo que teve uma técnica ou método — e que pode ser sempre aprimorado, assim como a ciência.
Isso mesmo! Você deve estar constatando que praticamente tudo o que conhecemos como produção humana possui uma determinada tecnologia. E é praticamente tudo mesmo. Desde a tela em que você acaba de ler este texto, as palavras codificadas e que são apresentadas em uma determinada língua e hierarquia de informação, até o óculos que uso para enxergar o ônibus na rua (inclusive também são tecnologias o ônibus, a rua e por aí vai).
As possibilidades das tecnologias e as potencialidades do currículo
As tecnologias podem contribuir com as diferentes vias de aprendizagem. É importante saber que existem diversas tecnologias e diversas formas de aprender, como já vimos algumas metodologias ativas que podem ser trabalhadas no nosso pensar pedagógico, intervindo tecnologicamente nas necessidades individuais em um ensino que é comum.
Todos nós somos diferentes e temos diferentes características. O olhar, portanto, deve ser individualizado e algumas tecnologias estão aí para suprir necessidades individuais, contribuindo para a participação de todas e todos. Por exemplo, se eu uso uma prótese é porque a tecnologia tenta suprir um impedimento individual para eliminar barreiras que são específicas de uma determinada atividade física e que podem impedir a minha participação na aula de Educação Física.
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Perceba que mesmo pequenas tecnologias podem causar os mais significativos impactos. Temos, por exemplo, ferramentas que eliminam as barreiras do registro: os conversores de voz para texto e os leitores de texto para áudio, por exemplo, como vimos no artigo da professora Beth Holland. Qual seria o impacto no aprendizado do estudante, caso essa tecnologia fosse usada com uma finalidade pedagógica?
Imagine que produzir textos a partir de ferramentas que estão presentes online ou até mesmo em seu smartphone podem facilitar a experiência pedagógica positivamente. Até uma tecnologia presente em qualquer aparelho celular, como a ferramenta de gravação de áudio, possibilita a qualquer estudante reproduzir as instruções do professor sem que ele as repita.
Conceitualmente, as tecnologias assistivas são diferentes das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Elas alcançam uma necessidade que não é necessariamente individual, mas coletiva. Como exemplo disso, temos o celular. Quando o utilizamos com uma finalidade pedagógica, ele não visa suprir apenas um impedimento específico de um estudante, mas tem ali uma necessidade informacional e ou comunicacional que se dá entre pessoas e grupos, construindo um conhecimento que é coletivo.
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Logo, o celular em si é uma tecnologia que cumpre um papel informacional e ou comunicacional para a participação. Ele possui aplicativos, como a câmera, que é um exemplo de instrumento que pode servir para captura de imagens ou vídeo. Ou seja, ele possui tecnologias que podem servir para atender necessidades individuais, mas também à construção de narrativas — na produção de um ensaio fotográfico ou um filme, por exemplo.
A tecnologia na construção de recursos pedagógicos
Desse modo, algumas tecnologias vão além do uso individual e existem para a construção de um sentido que é coletivo. É o caso dos materiais pedagógicos acessíveis, que são tecnologias produzidas pelos professores em um desenho universal, visando a aprendizagem e a participação de todos os estudantes desde o plano pedagógico. Você já deve ter ouvido falar dos materiais pedagógicos acessíveis no Portal Diversa.
Imagine construir a tecnologia que quiser. Agora, imagine desenhá-la para cumprir a finalidade pedagógica específica do seu plano de aula, no qual todas e todos podem ser incluídos nela desde a sua concepção. Esse é um dos pontos principais quando pensamos nas tecnologias em sala de aula: suas potencialidades pedagógicas.
Os materiais pedagógicos acessíveis são construídos com uma finalidade pedagógica para o ensino comum, com base no currículo. Com a ajuda de técnicos que entendem dos aparatos tecnológicos necessários, o professor pode fazer a tecnologia que melhor atende às suas finalidades pedagógicas, do seu plano de aula, mas também construindo algo que amplie o acesso ao conhecimento para todas e todos.
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Essa concepção advinda do professor traz, não só a liberdade do desenho da tecnologia para percorrer altas expectativas de cada estudante, como também a importância do protagonismo do professor ao criar o material.
Vale lembrar também que não é uma pedagogia da tecnologia que se encerra por si só, mas uma tecnologia pensada e baseada em um currículo. As potencialidades das tecnologias para educação estão de fato na mediação que se faz delas, ao aproveitar as multifuncionalidades dessa tecnologia utilizada para um aproveitamento e potencialização real dos conteúdos e habilidades que o currículo exige. Em um próximo artigo, iremos desenvolver melhor a questão da mediação da tecnologia na sala de aula e como podemos dar luz às relações humanas.
Portanto, com esse vislumbre de algumas das diferentes tecnologias que podem estar presentes no espaço escolar, podemos refletir sobre as diferentes possibilidades que elas nos proporcionam. As possibilidades são muitas, como vimos, mas como fazer com que o uso da tecnologia em sala de aula não caia na monotomia do simples usar por usar?
Realmente, o maior desafio é que a tecnologia não caia na pura instrumentalização e, é nesse sentido, que a mediação da tecnologia deve ser algo que nós educadores devemos nos atentar cada vez mais para encontrar caminhos e possibilidades pedagógicas mais eficazes no ensino de todas, todos e cada um.
Paulo Lopes é licenciando em Educomunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e atua na área de formação do Instituto Rodrigo Mendes.
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2 Comentários
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Concordo plenamente com seu artigo.
Devemos ter em mente que a tecnologia tem que evoluir para o bem em comum,
Trazendo avanços na vida das populações em geral
Muito bom!