Na educação inclusiva, as Salas de Recursos Multifuncionais são os locais onde preferencialmente ocorre o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que tem função pedagógica e complementar à sala de aula e é ofertado no contraturno da escolarização para estudantes público-alvo da educação especial.
A presença dessa estrutura em escolas comuns cresceu a partir do “Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais”, lançado em 2007 pelo governo federal. Uma série de outros marcos normativos também colaboraram para a expansão dessas salas Brasil afora. Embora o modelo multifuncional seja o mais difundido, ainda existem salas de recursos especializadas por área de deficiência.
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Mais de uma década após o início do programa, estima-se que 31 mil salas foram instaladas na rede pública. Dados do Censo Escolar 2020, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) ilustraram a incidência dessa política pública nos estados e no Distrito Federal. Rondônia, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal são os destaques, com, respectivamente, 37%, 39% e 44% de suas escolas com salas de recursos.
Uma sala dedicada ao AEE
As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços livres de barreiras arquitetônicas, com materiais pedagógicos e recursos de tecnologia assistiva, onde educadoras e educadores de AEE se dedicam a potencializar a plena participação de estudantes com deficiência, Transtornos do Espectro Autista (TEA) e altas habilidades/superdotação e complementar a aprendizagem da sala de aula.
É importante esclarecer que o AEE nunca deve ter função substitutiva e que os professores especializados sempre devem trabalhar em colaboração com aqueles regentes das salas de aula comuns.
As salas de recursos são consideradas multifuncionais quando atendem a quaisquer grupos de estudantes público-alvo da educação especial, independentemente do tipo de deficiência ou neurodiversidade que possui. Porém, ainda existem no Brasil salas de recursos especializadas por tipo de deficiência, o que contraria os princípios da educação inclusiva por focar no impedimento do estudante e não em sua aprendizagem.
Embora a existência da sala de recursos seja importante, professores, funcionários, familiares e estudantes devem se conscientizar sobre acessibilidade arquitetônica, tecnológica, atitudinal e comunicacional em todos os ambientes da escola.
O retrato das Salas de Recursos Multifuncionais em 2020
O Censo Escolar 2020 apontou que mais de 90% de estudantes público-alvo da educação especial estavam matriculados em escolas comuns, um importante marco que mostra o avanço no acesso a um direito básico e fundamental de estudantes com deficiência.
Enquanto elemento que visa fortalecer o AEE, a presença de Salas de Recursos Multifuncionais representa um compromisso com a inclusão que deveria estar presente em todas as escolas. O retrato de 2020 mostra os desafios a serem superados.
Como já citado, os três estados brasileiros com maiores percentuais de escolas com salas de recursos em relação ao total foram: Distrito Federal, com 44%; Rondônia, com 39%; e Rio Grande do Sul, com 37%. E ainda assim são estados que não atingiram nem metade das escolas. Os menores percentuais foram: Bahia e Piauí, com 13%; Amazonas, com 11%; e Maranhão, com 8%. O estado de São Paulo apresentou apenas 16% das escolas com salas de recursos.
Os dados por estado e região foram os seguintes:
Região Centro-Oeste:
- 44% Distrito Federal
- 31% Mato Grosso
- 30% Mato Grosso do Sul
- 26% Goiás
Região Norte:
- 39% Rondônia
- 36% Amapá
- 29% Tocantins
- 24% Acre
- 22% Roraima
- 17% Pará
- 11% Amazonas
Região Sudeste:
- 35% Espírito Santo
- 24% Rio de Janeiro
- 20% Minas Gerais
- 16% São Paulo
Região Sul:
- 37% Rio Grande do Sul
- 33% Paraná
- 24% Santa Catarina
Região Nordeste:
- 22% Ceará
- 21% Alagoas
- 18% Rio Grande do Norte
- 17% Paraíba
- 16% Sergipe
- 15% Pernambuco
- 13% Piauí
- 13% Bahia
- 8% Maranhão
A baixa porcentagem de salas de recursos nas escolas representa prejuízos em relação à permanência de estudantes público-alvo da educação especial, já que os obriga a se deslocarem para outras escolas ou instituições para realizar o AEE. Além disso, enfraquece as possibilidades de trabalho colaborativo entre professores de AEE e de classe comum para um planejamento pedagógico acessível e inclusivo.
A construção de uma cultura inclusiva não recai unicamente sobre a presença de salas de recursos multifuncionais nas escolas. Todavia, além dos recursos nelas disponíveis e da atenção especializada à aluna ou ao aluno, as salas representam a garantia da presença de uma educadora ou educador dedicado a ser vetor de práticas pedagógicas que beneficiem a todas e todos.
Acompanhar e monitorar a implementação das salas de recursos e no ambiente em que o estudante já frequenta são essenciais para o avanço das políticas públicas de incentivo ao investimento de recursos nesse âmbito.
Luiza Corrêa é coordenadora de advocacy do Instituto Rodrigo Mendes. Possui mestrado e doutorado em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e é especialista em desenho instrucional pelo SENAC.
Karolyne Ferreira é analista de advocacy do Instituto Rodrigo Mendes. Bacharel e licenciada em geografia e mestre em ciências pela Universidade de São Paulo (USP).
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Urge políticas públicas na fiscalização das salas de recursos.