No Brasil, até 1983, as pesquisas das relações do cérebro com a cognição eram desenvolvidas de maneira isolada. Foi o professor, doutor e neuropediatra Norberto Rodrigues, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, quem iniciou um movimento pela integração dos diversos grupos de estudo sobre o tema.
Em setembro de 1988, fundou-se a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp), em Assembleia Geral da Academia Brasileira de Neurologia, durante o XIII Congresso Brasileiro de Neurologia, em São Paulo.
Desde então, profissionais de diferentes áreas do conhecimento em atividades clínicas e de pesquisa no campo das ciências cognitivas, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas-ocupacionais, pedagogos, psicopedagogos, linguistas, biólogos, fisioterapeutas, professores universitários e estudantes descobriram a importância da integração dos esforços nos estudos das neurociências para atender as demandas da saúde, da educação e, por fim, para vencer limites, aumentando as possibilidades de inclusão de todas as pessoas.
Sobre a neurociência
A neurociência se ocupa das relações entre a neurologia e as demais especialidades que estudam os fatores biopsicossociais envolvidos no desenvolvimento e comportamento. A área investiga aspectos ligados às estruturas cerebrais e aos processos cognitivos, interessando-se não só pela educação comum como também pela educação especial.
A neurociência tem o compromisso de reunir saberes para apoiar profissionais e familiares na busca dos melhores recursos na educação de crianças e jovens, visando seu desenvolvimento integral.
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Estratégias pedagógicas
Diante de uma fase de revolução tecnológica e de comunicação irrestrita, que desafia valores na formação de professores, são muitas as barreiras no campo de atuação desse profissional, com um abismo social e cultural presente na sociedade brasileira.
Esse novo terreno, que exige respostas rápidas, instiga a ansiedade e a paralisação a um só tempo, comprometendo o desenvolvimento de crianças e adolescentes, inclusive ao se tratar de estudantes público-alvo da educação especial. É preciso o desdobramento de novos recursos para alavancar mudanças, que dependem de pesquisas, informação e formação.
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Por isso, a reunião de pesquisas e práticas de estudiosos, para formular técnicas eficazes e transcender os conhecimentos atuais, mostrou ser uma estratégia de atuação excelente por articular competências.
Entretanto, é preciso que a pluralidade de saberes de especialistas seja acessível aos profissionais da pedagogia, para que a neurociência possa eliminar barreiras na prática docente. Isso, não apenas para os que se formam a partir de agora, mas para aqueles professores já experientes, porém não tiveram os benefícios da comunicação tecnológica atual.
É essencial o incentivo a pesquisas em busca de soluções estratégicas embasadas, e planejadas com conhecimento, que se interacionem com a teoria para mudar paradigmas milenares em busca de acompanhar a realidade atual de cada município, comunidade, instituição escolar, cada professor.
Os estudos não podem ser vistos apenas superficialmente, mas com a solidez de especialistas experientes, indispensáveis para a inclusão aplicada, não limitada a um “fazer” psicopedagógico pessoal.
Acessibilizar o espaço para todos
Muitas mudanças ocorreram no caminho da psicopedagogia, de quem se espera a qualidade de vida desejada. Desde a Grécia Antiga, filósofos tentavam decifrar o enigma da existência da felicidade. Nas últimas décadas, as atenções se voltam para a construção do conhecimento e para a busca de evidências sobre o bem-estar e os fatores que integram uma vida saudável.
Quanto mais cedo e mais profundamente foram entendidas as dificuldades do entorno, mais facilmente surgem as soluções. Então, para alcançar a inclusão, é preciso entender e desafiar nosso comportamento para dar espaço a todos, com iguais chances de felicidade.
Possibilitar a aprendizagem
Se a explosão do universo tecnológico trouxe recursos para a realidade, novas metodologias de ensino podem ser inseridas em sala de aula para oportunizar a aprendizagem de estudantes com deficiência.
Tal percurso deve envolver uma revolução de costumes, que não podem mais ignorar os avanços tecnológicos, conquistados para a nova geração de estudantes, contribuindo para que a aprendizagem inicial seja também ambiental e ecológica, inserida no cotidiano.
Incluir implica em mudar paradigmas, e eliminar barreiras são nossos desafios para nos transformar constantemente. Reconhecer nossos limites, e todos temos, nos une àqueles que nos rodeiam para que juntos possamos cruzar fronteiras.
Considerando as políticas públicas que garantem o direito à matrícula das pessoas com deficiência na sala comum, faz jus conhecê-las para aceitar a diversidade existente, porque é assim que se somam competências e resultados.
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Neurociência e saúde educacional
Chegaremos, então, à educação e à sociedade no século XXI. Como é o sujeito de hoje e seu mundo? Como viver a relação indissociável entre fazer e pensar a docência, ou seja, o “ensinar” tão incompreendido nos dias atuais, que atropelam o professor que precisa entender uma escola aberta às diferenças?
Há uma organização sistêmica na completude que buscamos em nossas ações e emoções, para encontramos aquela experiência que chamamos de felicidade e para que possamos seguir vencendo limites, nos alimentando da competência que está no amor e enfrentando as dificuldades que nos levam a novos saberes, sempre ampliando nossos limites.
A dança, os jogos e os brinquedos nos fazem ver que a Escola da Nova Era brada por um novo olhar, sem deixar de repensar sobre as propostas de educação inclusiva para crianças hospitalizadas, que mostram que a educação tem que estar inserida em todos os espaços, especialmente nos momentos mais vulneráveis. E, há, ainda, aqueles que deixaram a infância sem superar os obstáculos da aprendizagem, necessitando de um currículo pensado para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Os temas citados aqui são abordados com base em um único título: “Neurociência e Saúde Educacional: vencendo limites”. É tempo de derrubar preconceitos culturais para perceber que a sociedade pode ser melhor, redesenhando a vida para a felicidade que cabe em todos os seres.
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle é psicóloga, bacharel, licenciada e mestre em psicologia escolar e educacional. Especializada em Educação Especial. Está entre os organizadores do livro “Neurociência e Saúde Educacional – Vencendo limites”.