Trabalhei como diretora de uma escola municipal de educação infantil e ensino fundamental durante oito anos (de 2001 a 2008, respectivamente), ciclo 1, num bairro da cidade. Foi minha primeira experiência como gestora de uma escola. Logo no primeiro ano, lembro-me do caso de uma criança que foi matriculada na pré escola, tinha seis anos de idade na época. A professora da classe, já nos primeiros dias de aula, observou que aquela criança era diferente das outras. Muito preocupada, relatou-me o fato dizendo que a menina não conseguia realizar as atividades propostas, era bastante tímida e não brincava com ninguém. Supúnhamos que se tratava de uma criança com deficiência, mas não tínhamos diagnóstico e na escola não havia nenhuma especialista na área para nos auxiliar, então minha primeira atitude foi conversar com a mãe a fim de obter informações acerca da filha. Percebi que a mãe era super protetora e também tinha um comportamento diferente. Quando propus que a menina passasse por uma avaliação no CEMAE (Centro Municipal de Atendimento Especializado), a mãe ficou bastante alterada e não aceitou de forma alguma, alegando que a filha não tinha nada. Essa, então, foi minha primeira batalha, convencê-la quanto à importância dessa avaliação para a aprendizagem da criança. Foram meses de luta, até que, finalmente, ganhei a confiança dela e levamos a menina até o CEMAE.
Chegando lá, a equipe gestora fez os encaminhamentos e alguns dias depois pegamos o diagnóstico: deficiência intelectual leve (assim como a mãe). A partir daí, a professora começou a trabalhar com mais segurança, pois, recebeu apoio das especialistas em relação à forma pela qual deveria conduzir o trabalho . E assim passaram-se os anos… Da pré escola foi para o ensino fundamental, onde além do reforço ela participava da Oficina do Saber, um projeto à parte, com um ensino mais individualizado, que só a rede municipal da cidade oferecia. A aluna B foi retida durante vários anos, a equipe optava pela retenção mas pensando no bem da menina, ficando na escola conosco, ela teria mais chance de desenvolver, pois, infelizmente sabíamos que se ela fosse para outra escola seria mais uma excluída, e não queríamos isso, de maneira que ela saiu da nossa escola com catorze anos, uma mocinha!
O que me emocionava muito era ver o carinho e o compromisso das professoras em trabalhar com a B, todas aceitavam o desafio. Outro ponto positivo é que não havia rotatividade das professoras do ensino fundamental na escola, então cada ano era uma que trabalhava. Na semana do planejamento era discutido sobre os avanços da menina e o que precisava ser trabalhado com ela. Nunca nenhuma se negou ou demonstrou qualquer sentimento de rejeição e, por isso, eu sempre tive o maior respeito e admiração por elas e faço questão de mencioná-las: Márcia Barbosa, Elisandra Ap.Rodrigues, Lúcia Cristina de Souza Lima, Gisele Gisele R. Martins Barbosa e Gilda do Rocio Gomes, essa era “A Equipe”. Os anos se passaram e posso afirmar que a B se desenvolveu muito bem, percebemos o quanto ela evoluiu, participava de todas as atividades desenvolvidas pela escola, aprendeu a se cuidar, a interagir com os colegas, se alfabetizou, era uma criança feliz e era isso que importava. Acredito piamente que ao valorizar a convivência, aceitação e aprendizagem, a criança se desenvolve física e cognitivamente, e consegue ter boa inserção social, portanto, se nós pecamos, bem, foi pelo excesso de zelo, mas afirmo que ainda assim valeu a pena e não me arrependo.