Localizada na região centro-sul da cidade de São Paulo, a Escola Estadual Roldão Lopes de Barros funciona em três turnos e oferece ensino médio, ensino fundamental II e educação de jovens e adultos (EJA) para cerca de 600 estudantes. Por 15 anos, fui professora do atendimento educacional especializado (AEE) na unidade durante a manhã e intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) nas aulas regulares no período noturno. Todos os anos procurava desenvolver atividades em parceria com outros professores para melhorar a interação entre surdos e ouvintes por meio do ensino de Libras para todos. Já havia realizado um trabalho de cinema mudo sobre uma obra da literatura brasileira e utilizado a cultura afro-brasileira como tema para levar a língua de sinais para uma turma do ensino fundamental II. Naquele ano, desenvolvemos um projeto de animação digital em uma classe de EJA, no qual os alunos criaram seus próprios desenhos animados baseados em poemas.
A classe de 3º ano era composta por 43 jovens e adultos; sete deles tinham deficiência auditiva. O projeto teve início a partir do interesse de um ilustrador em dar aulas voluntárias na escola. No início, ele tinha a intenção de ensinar os fundamentos de seu trabalho somente para os estudantes surdos. Fiquei empolgada com a ideia, já que sempre procurei valorizar os recursos visuais em sala de aula. Mas antes precisei deixar claro o que era a inclusão e na perspectiva inclusiva pela qual trabalhávamos era essencial que os alunos ouvintes também participassem das atividades.
Animação digital e literatura
Planejei as ações juntamente com a professora de língua portuguesa da turma. Na época, ela estava trabalhando a poesia com os estudantes, um tipo de texto bastante complexo para ser transmitido por meio da Libras. Como intérprete, não posso traduzir palavra por palavra. Ao invés, devo interpretar o sentido do poema como um todo. Por isso, decidimos utilizar os conhecimentos de animação digital que seriam ensinados como um recurso a mais para a interpretação desses textos.
As duas primeiras aulas do projeto foram abertas a toda comunidade escolar. Nelas, o ilustrador mostrou as técnicas básicas de desenho e as etapas de produção de uma animação. Ele também instalou softwares de edição gratuitos nos computadores da sala de informática e os ensinou a usá-los. Um dos alunos de seu curso particular de desenho se prontificou a nos apoiar nos dias em que o desenhista não pôde ir até a escola.
Depois de familiarizados com o programa, os estudantes foram divididos em grupos de 4 a 5 pessoas, incluindo surdos e ouvintes. A professora de língua portuguesa apresentou um conjunto de poesias e pediu para que cada grupo selecionasse uma para servir de base para criação de uma pequena animação digital. Para isso, eles poderiam fazer desenhos à mão ou usar montagens com imagens da internet.
Comunicação entre os estudantes e resultados
Durante todo o projeto, além de realizar a interpretação em Libras das aulas para os surdos, também garantimos que os estudantes ouvintes aprendessem a fazer os sinais relacionados ao universo da animação digital. Assim, eles tiveram mais facilidade para se comunicar e trabalhar juntos.
Percebemos como essa interação levou cada grupo a encontrar diferentes caminhos para realizar a atividade: alguns recorreram ao uso de imagens e texto, já outros utilizaram somente desenhos; alguns optaram por representar uma cena de modo mais amplo, outros focaram a interpretação em um elemento central da poesia. Ao longo do ano outros professores passaram a incorporar em suas aulas. O uso de animação digital como estratégia pedagógica proporcionou uma atividade diferente e cativante para toda a escola.
Projeto participante do Prêmio Educador Nota 10 de 2012.