No meio do caminho tinha uma menina
Em meu trajeto para chegar até a sala de materiais esportivos, eu passava pela sala de Aline (nome fictício). Ela se sentava bem na porta para facilitar o trânsito de sua cadeira de rodas. Ela não participava de minhas aulas, que eram ministradas em período contrário ao das aulas dela e não havia ninguém para levá-la até a escola. Aline cursava o 1º ano do ensino médio.
Em um de meus cursos de capacitação na Secretaria Estadual de Educação, assisti a um filme de um professor de Educação Física que tratava da inclusão de um jovem que nem era seu aluno. No filme, ele se perguntava como podia ter passado tantas vezes por aquele jovem e nunca tê-lo notado. Foi quando percebi que minha situação era bem parecida.
Estávamos em novembro e perto da comemoração do dia de Ação de Graças, então tive a ideia de fazer uma coreografia com cadeiras, na qual Aline pudesse participar. Para minha surpresa, ela aceitou antes de eu terminar o convite. Como tínhamos pouco tempo, pelo menos duas vezes na semana eu ia até sua casa para trazê-la ao ensaio que era de tarde.
A apresentação foi emocionante ao ponto de arrancar lágrimas de muitos presentes.
No ano seguinte, as aulas de Educação Física foram colocadas no período de aulas e Aline passou a frequentar minhas aulas. Descobri durante o ano que ela tinha um sonho: jogar voleibol com as demais meninas. Inventei um jogo de voleibol misturado com câmbio com todas sentadas em cadeiras. Todos descobriram que sentados tinham dificuldades em jogar, pois os movimentos mudavam muito. Divertido mesmo foi jogar basquetebol, onde a única que andava com a bola no colo era Aline, empurrada por sua melhor amiga Bianca (nome fictício).
Este foi o despertar em querer ensinar para todos ou pelo menos buscar uma forma, tentar encontrar caminhos, ter um olhar diferente para cada aluno.
Não é tão impossível quanto parece. Exige apenas um pouco de amor, muita dedicação e vontade de fazer. As derrotas e vitórias só fazem parte do processo de aprendizagem de ambos os lados.
GIANE GONÇALVES DE SALES FALSETI, PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA