Por meio da construção de modelos com sucata, estudantes descobrem a importância do trabalho colaborativo e do protagonismo
O projeto “EJA trabalhando Cultura Maker e robótica” foi desenvolvido no segundo semestre de 2019 com estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do CEU EMEF Manoel Vieira de Queiroz Filho, em São Paulo (SP), onde trabalho há dez anos, atualmente como professora orientadora da sala de informática. Da alfabetização à oitava série, as turmas da EJA eram heterogêneas, com jovens e adultos com idades variadas. Apesar dos diferentes níveis em sala, houve sintonia, comprometimento e empenho entre os pares.
Aproximando a atividade da realidade dos estudantes
Alguns alunos da EJA trabalhavam com coleta de recicláveis. Então, pensando em explorar conteúdos previstos no currículo de Tecnologias da Cidade de São Paulo e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), e em como associá-los à realidade dos educandos, foi planejado o desenvolvimento de um projeto de cultura maker e robótica com sucata.
Além disso, como o bairro onde a escola está inserida e onde muitos estudantes residem não contava com o serviço de coleta seletiva, pensamos em reaproveitar materiais que são descartados, mas poderiam ser reutilizados. Coletamos itens como garrafas PET, papelão, palitos de churrasco e tampinhas.
Desenvolvimento do projeto
A princípio, houve uma conversa sobre “Cultura maker” e reciclagem. Em seguida, foram exibidos alguns vídeos, além da realização de pesquisas sobre o tema. Como a coleta de recicláveis é a atividade profissional de alguns estudantes, estes se sentiram valorizados ao perceberem a ação benéfica desse serviço.
Na segunda etapa do projeto, cada grupo decidiu em que protótipo iria trabalhar. Os estudantes fizeram a coleta da sucata necessária e montaram o material para ser apresentado no final do mês de outubro. Como as aulas no laboratório de informática aconteciam apenas uma vez por semana, alguns ajustes e retoques puderam ser realizados em casa, mas a maior parte foi feita na escola. Todos os integrantes do grupo precisavam participar. Pude notar muito envolvimento, responsabilidade e satisfação por parte das alunas e dos alunos.
No prazo estabelecido, os projetos foram apresentados, expostos na escola e ainda foram avaliados de maneira coletiva, os educandos apontaram os pontos negativos e positivos de sua produção e contaram com a intervenção dos demais colegas. Alguns dos materiais construídos pelos próprios estudantes foram o Robô de papelão com controle remoto, o Helicóptero de cano PVC com motor e o Aquecedor feito com tijolo e resistência de chuveiro elétrico.
Protagonismo como princípio
Enquanto professora, eu apenas orientava e acompanhava o que estava sendo desenvolvido e, às vezes, dava sugestões para que aprimorassem os materiais, mas o protagonismo dos educandos foi essencial. Um grupo apoiava o outro e havia a preocupação em realizar um bom trabalho.
O resultado foi tão satisfatório que rendeu um convite para participar da feira de tecnologias, onde alunos expõem e apresentam seus trabalhos para outras escolas da rede municipal de ensino e visitantes. Foi a primeira vez que a feira contou com a participação de uma turma da EJA e essa oportunidade deixou a mim e aos estudantes muito felizes.
Os alunos foram entrevistados por outros educandos da imprensa jovem, o que fez com que eles desejassem fazer projetos ainda melhores em 2020. No início deste ano, alguns alunos já estavam desenvolvendo materiais com os kits de robótica disponíveis na escola, mas, devido à pandemia, tivemos que interromper os projetos. Quando tudo isso passar, com certeza, iremos retomar os projetos.