Estudantes do ensino médio são protagonistas no processo de criação de biodigestor que visa diminuir desperdício de alimentos em escola estadual de SP
Somos educadoras da Escola Estadual Professor Sebastião de Oliveira Rocha, em São Carlos (SP). Localizada no Jardim Bethania, a unidade atende estudantes do ensino fundamental II e do ensino médio.
Em 2019, demos início ao projeto “Tesla – Reaproveitamento de resíduos orgânicos para a produção de biogás” nas disciplinas de química, com a professora Bárbara Rodrigues, e biologia, com a professora Isabel Kakuda. O projeto foi realizado com estudantes do ensino médio que fazem parte do Clube de Ciências Tecnologia Escolar Sustentável Ligada ao Arduino (Tesla).
O projeto contempla três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU): número 4 (educação de qualidade), 7 (energia acessível e limpa) e 12 (consumo e produção responsáveis).
Inicialmente, ao observarem na fila do refeitório da escola a grande quantidade de comida que ia para o lixo, começamos a pensar de que forma diminuir esse desperdício e minimizar o impacto do descarte no meio ambiente.
Entre as primeiras ações do projeto está o levantamento de dados por parte dos estudantes para que cada um soubesse a quantidade de alimentos que era descartada.
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Escuta ativa e mais ações
Para ter um melhor diagnóstico sobre o desperdício e conscientizar a todos sobre a importância de se alimentar corretamente, ouvimos os estudantes das turmas em uma ação a fim de organizar o funcionamento da merenda escolar e, assim, diminuir a quantidade de sobras.
Entre os motivos apontados pelas alunas e alunos para essa problemática estão: não ter conhecimento do cardápio com antecedência; grande quantidade de comida servida no prato; restrições alimentares (intolerância ao glúten e à lactose; veganos e vegetarianos etc.); e pouca variação no cardápio diário.
Após esse levantamento, alguns questionamentos foram feitos: “como controlar o número de refeições servidas no dia para que não haja sobras?”, “como ofertar o cardápio semanalmente?”, “como controlar a quantidade de comida servida por prato e em qual segmento esse problema é maior?”, “como conscientizar o estudante da importância de se alimentar corretamente e que isso está diretamente relacionado a um melhor rendimento escolar?”.
Demos início a uma nova ação ao trabalhar, sensibilizar e conscientizar os estudantes quanto à questão do desperdício, buscando formar multiplicadores que ajudem na diminuição do gasto em suas casas e na comunidade.
Achamos importante também encontrar formas para divulgar o cardápio semanalmente. Essa ação começou a ser realizada por meio de um site no qual se disponibilizou o cardápio diário, dicas e a importância de uma alimentação saudável, dados sobre o desperdício, formulário de pesquisa sobre as preferências alimentares e sugestões de receitas, além de uma pesquisa de satisfação.
Para atingir um maior número de alunas e alunos, o projeto conseguiu mais pessoas para ajudarem no desenvolvimento das ações. Os que frequentavam as aulas práticas de química, em uma turma do segundo ano do ensino médio, divulgaram ações sustentáveis em redes sociais, além de ministrarem uma aula para os estudantes do ensino fundamental sobre não desperdiçar os alimentos.
A avaliação de aprendizagem durante as atividades foi realizada pela aplicação de um formulário diagnóstico antes e depois das aulas. Como desafio, os estudantes do ensino fundamental tiveram que montar uma mini composteira em suas casas, além de sugerirem receitas para o reaproveitamento de alimentos.
Outra ação em desenvolvimento, que pode ser replicada em todas as escolas do estado, é a criação de um aplicativo que terá a função de divulgar o cardápio semanal, coletar dados de quantos alunos irão se alimentar na escola e atender todos que tiverem restrições alimentares.
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O biodigestor
Em 2020, o Clube Tesla desenvolveu um biodigestor caseiro de baixo custo para a produção de biogás com a meta de abastecer o fogão da escola. O biodigestor é alimentado por sobras de cascas de verduras e legumes descartados na produção da merenda, bem como os restos de comidas que inevitavelmente vão para o lixo.
Ele foi criado para que seja simples e de fácil replicação, para poder ser instalado nas casas da nossa comunidade escolar até o final deste ano. Além disso, o biodigestor utiliza um sistema de placa solar para alimentar o Arduino e os sensores que o monitoram. Almejamos um dia em que o clube desenvolva um sistema que transforme a energia térmica gerada nesse sistema em energia elétrica.
Em busca de apoiar as merendeiras a preparar a quantidade adequada de alimentos, o grupo de estudantes também criou uma calculadora específica para essa demanda.
O retorno do projeto
A escola e a comunidade são as grandes beneficiadas por esse projeto. Acreditamos que a iniciativa trouxe um sentimento de pertencimento para cada estudante, o que desenvolveu ainda mais o protagonismo com foco na resolução de problemas.
Ver o protótipo funcionando, saber que esse projeto foi construído do zero e o reconhecimento recebido nacionalmente e internacionalmente, ao ganhar o prêmio “Respostas para o Amanhã”, melhoraram muito a autoestima de cada um, pois todas e todos participaram do processo. Todos os envolvidos conseguiram entender que é possível fazer a diferença, basta dedicação e muita mão na massa.
Mais um resultado positivo do projeto é a procura da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) a fim de conhecer mais sobre o que está sendo feito em nossa escola, por conta de haver poucos trabalhos e dados sobre desperdícios de alimentos em instituições de ensino.
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O projeto “TESLA – Reaproveitamento de resíduos orgânicos para a produção de biogás” foi o vencedor do Prêmio “Respostas para o Amanhã” de 2021.
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Um trabalho que beneficiou a escola e a comunidade.