Após completar o ensino básico em escolas comuns e ter oportunidades equitativas de aprendizagem, William Truppel vivenciou ensino superior inclusivo
Sou uma pessoa com deficiência congênita. Fui diagnosticado com paralisia cerebral após parto prematuro. Contudo, isso nunca me impediu de estudar, desenvolver-me e viver a vida com intensidade e responsabilidade. Ser matriculado na escola comum, desde os anos iniciais até o fim do ensino médio, foi uma decisão acertada e os benefícios dessa trajetória pela educação básica regular podem ser conhecidos em outro relato de experiência que escrevi sobre o assunto.
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As experiências que tive na escola comum me possibilitaram potencializar habilidades, capacidades e competências para ingressar no ensino superior mais preparado. Cursei Jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e me pós-graduei em Master in Business Communication (Gestão de Comunicação e Mercado, em português) pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
Optei pelo Jornalismo depois de assistir a um programa esportivo, do qual participou como um dos convidados Edson Arantes do Nascimento, o “Rei Pelé”. Acreditei, então, que esse seria o caminho ideal para poder estar perto dos meus ídolos. Pesquisei sobre a profissão e achei ter os requisitos mínimos necessários para trilhar uma jornada de sucesso como jornalista.
Meu desejo até bem recentemente era me tornar um profissional especializado em esportes. A paixão esportiva começou quando criança e as aulas de educação física inclusiva no ensino fundamental e médio ajudaram muito a despertar esse sentimento. Porém, oportunidades interessantes surgiram em outros setores e me guiaram para uma nova direção. Atualmente trabalho na área de comunicação do Instituto Rodrigo Mendes (IRM) e me sinto extremamente feliz.
Por ser uma pessoa sociável e comunicativa – características que desenvolvi também com a convivência na escola comum –, consegui estabelecer vínculos e romper supostos paradigmas desde a minha chegada à universidade. Meus colegas e professores sempre me trataram com muito respeito. Não houve qualquer tipo de distinção por conta da minha deficiência. Tive as mesmas oportunidades de desenvolvimento que qualquer outra pessoa do grupo de estudantes dentro da sala de aula e nunca me senti discriminado. Por isso, acredito que a minha passagem pelo ensino superior tenha sido bem-sucedida e as boas relações foram fundamentais para isso.
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Minhas aulas favoritas na universidade eram as de rádio e as de produção textual, pois gosto de escrever e considero ter um bom domínio da língua portuguesa desde garoto. Em relação ao rádio, seu dinamismo é algo que me encanta, além de ser um veículo de comunicação acessível a um grande número de pessoas. O rádio é fascinante.
Mesmo não trabalhando diretamente como jornalista esportivo, pude conhecer algumas personalidades do esporte. Além de ter estado presente nos Jogos Universitários de Comunicação e Artes (JUCA) como espectador, um dos momentos mais marcantes que vivenciei durante as minhas experiências no ensino superior foi ter a oportunidade de conversar e tirar fotos com as jogadoras de vôlei que faziam parte da Seleção Brasileira naquela época. Conheci: Fofão, Sheila, Mari, Fabiana Alvin (mais conhecida como Fabi), Fabiana Claudino, Thaísa, entre outras atletas, além de Bernardo Rezende, o “Bernardinho”.
Acessibilidade
A acessibilidade adequada nas universidades pelas quais passei certamente foi outro fator que contribuiu para que eu me sentisse à vontade no ambiente acadêmico, possibilitando o meu pleno desenvolvimento. Tanto na Metodista quanto na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, não tive dificuldade de locomoção dentro dos espaços de ensino.
Todos os prédios do complexo universitário tinham elevadores e/ou rampas. Ambas as instituições também cederam mesas de estudo com vão, ao invés das “tradicionais” carteiras escolares, para que eu permanecesse sentado em minha cadeira de rodas.
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Conciliação da vida pessoal e acadêmica
Passei por alguns desafios e pensei em abandonar a universidade em certos momentos, pois era difícil conciliar o período de estágio, que acontecia no contraturno das aulas regulares, com a fisioterapia. E as horas extracurriculares são obrigatórias para a formação.
Diante da situação, o diálogo, a compreensão e o apoio do corpo docente e da gestão da universidade foram fundamentais para que eu mudasse de ideia e concluísse o curso. A solução foi realizar matérias jornalísticas aos fins de semana. Lembro-me de assistir a jogos de futebol, handebol e vôlei, por exemplo, e enviar o resumo das partidas ao jornal da Metodista para a publicação. Também produzi conteúdos sobre cultura e lazer.
Além disso, ficou estabelecido que algumas das atividades feitas por mim em sala de aula, assim como o meu trabalho de conclusão de curso, se somariam ao acervo de materiais complementares necessários para a minha formação.
Essa atitude da universidade me fez perceber que devemos ser tratados com equidade e não com igualdade, pois enquanto a igualdade busca tratar todos da mesma forma, independentemente da sua singularidade, a equidade trata as pessoas de formas diferentes, levando em consideração o que elas precisam.
O carinho da minha família e amigos, as experiências adquiridas na escola comum e a equidade vivenciada no ensino superior foram fatores essenciais para minha evolução pessoal e profissional.
William Truppel é formado em Comunicação Social: Jornalismo e pós-graduado em Master in Business Communication (MBC). Trabalhou no departamento de comunicação de empresas multinacionais, tais como Santander Brasil S.A. Atualmente, faz parte da área de comunicação do Instituto Rodrigo Mendes Site externo.