Jackson, estudante de 8 anos, chegou à EMEF Almerinda Delega Delben em agosto de 2017, após passar por outras três escolas de Nova Odessa, cidade da região metropolitana de Campinas (SP). Seu histórico revelava um aluno que constantemente dormia em sala de aula e que vivia em um ambiente familiar disfuncional. Ele foi matriculado no 2º ano do ensino fundamental da unidade, que atende em período integral.
Nos primeiros meses, Jackson faltava com frequência e, quando estava presente, sentia muito sono durante as aulas. Além disso, o garoto tinha dificuldades em acompanhar as atividades de alfabetização e memorização. Sem um laudo médico fechado (havia uma hipótese de diagnóstico de deficiência intelectual sendo investigado), o estudante passou a frequentar o atendimento educacional especializado (AEE) da unidade. E com isso – junto a outras intervenções na sala de aula comum – ele começou a se mostrar mais aberto, ativo e curioso em aprender.
Relação com a família
Somente planejar estratégias pedagógicas, contudo, não era o suficiente para garantir a plena inclusão do Jackson. Logo entendemos que, para incluir com qualidade, era fundamental entendermos a dinâmica de sua família. Era muito claro como seu contexto familiar afetava sua autoestima e aprendizado na escola.
Em contato com a família, descobrimos uma situação de muita precariedade. O estudante vivia com a mãe e quatro irmãos em uma casa pequena, com recursos escassos e sem o básico de infraestrutura para uma moradia.
Procuramos não julgar, mas compreender o contexto de vulnerabilidade no qual aquela família estava inserida. Não podíamos nos deixar cair num lugar de investigação ou de culpabilização da mãe. Se nossa postura fosse a de apontar “culpados”, perderíamos o aspecto humano da relação. Independente das circunstâncias, era preciso encontrar caminhos para o diálogo.
Criando uma rede de proteção
Tomamos, então, duas iniciativas para criar e fortalecer uma rede de cuidados para Jackson. A primeira foi prestar apoio à família, fazendo uma articulação com serviços da Assistência Social como o CREAS e o CRAS. A segunda foi entender os motivos e condições que desencadeavam os episódios de agressividade do aluno.
Por atuação do Conselho Tutelar, o estudante e seus irmãos foram abrigados, devido à alegação de precariedade na casa e da negligência parental. Com isso, Jackson precisou mudar de escola. Apesar do nosso receio inicial quanto ao atendimento que seria dado ao garoto, ficamos animados por termos conquistado um lugar para o sistema educacional dentro da rede de proteção da cidade.
Nosso aprendizado
Como forma de registrar nossas vivências com o Jackson, criamos uma paródia da canção “O bêbado e a equilibrista”, contando essa trajetória. Confira!
Um dia apareceu em nossas vidas
Uma criança alegre, mas sofrida…
Me lembrou a vida
A escola tal qual a dona do momento
Pedia agora um alento
Um tempo de atenção
Pessoas vão se mobilizando
A situação vai se agravando
Que sufoco
Olha
Uma mão tão de repente
Surge surpreendendo a gente
Para inclusão
É o DIVERSA
Família que precisando de um apoio
Fomos envolvemos todos
Numa rede
CREAS
Nosso grupo se uniu
CRAS e também o Tutelar
Pela causa infantil
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser indiferente
Há esperança
Mudanças aconteceram nessa história
E nesta trajetória sempre se mostrou feliz
Há diferença em nós
Com o apoio do DIVERSA
A construção de todo artista
Tem que continuar
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2018 do DIVERSA presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.
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O assunto é desafiador. A união e contribuição de todos envolvidos é fundamental.