Com gestão de continuidade, Silvia Grecco, atual secretária da pessoa com deficiência do município de São Paulo, pretende ampliar iniciativas
“Eu sempre fiz as narrações, para ele entender o que está acontecendo em jogo, para que as pessoas não dissessem ‘para que um cego no jogo de futebol se ele não está vendo?’. Ele está sentindo, interagindo, entendendo. Ele pode estar onde ele quiser estar, basta dar oportunidade.”
Desde o início de 2021, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED) de São Paulo (SP) está com uma nova gestão: Silvia Grecco, ativista e mãe de Nickollas e Márjori. Silvia ficou conhecida internacionalmente ao ganhar o prêmio FIFA FAN AWARDS 2019, como melhor torcedora do mundo por narrar jogos de futebol para Nickollas, que tem deficiência visual e Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Mais do que a premiação em si, o ganho foi falar sobre a pessoa com deficiência. Aí começa uma responsabilidade ainda maior de que lutemos para que o nosso discurso se torne realidade. (Na premiação) eu deixei essa mensagem para falar que eles existem, precisam ser respeitados e incluídos. Eu entendo e percebo que, na atividade esportiva mundial, acabou-se tendo um olhar diferente para isso, tanto que até hoje nós participamos de vários eventos da FIFA e das discussões sobre estádios acessíveis no mundo.”
A ativista já foi secretária municipal da pessoa com deficiência em Santo André (SP), assessora especial na SMPED São Paulo, presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade, também na capital, e atuou como Secretária Municipal de Assistência Social e foi presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente no município de Mauá (SP).
Ela acredita que, para que a inclusão aconteça de fato, é necessário ter um olhar para a pessoa com deficiência, não um olhar de piedade, mas sim um olhar de oportunidade, de respeito: “Os pilares da nossa gestão serão baseados no amor, no respeito e na oportunidade, assim chegando na inclusão verdadeira.”
Assista a trechos da entrevista realizada em fevereiro de 2021 com a secretária Silvia Greco e a então secretária adjunta Marinalva Cruz:
Gestão de continuidade
Embora a gestão da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência seja nova, o plano é dar continuidade a programas e iniciativas que já vinham sendo realizadas na cidade de São Paulo.
Alguns exemplos de ações já implantadas pela SMPED são a Paraoficina Móvel, van que conta com serviços gratuitos de manutenção e reparos em cadeiras de rodas, órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção; o Festival Sem Barreiras, que mostra o potencial de artistas com deficiência e também reforça importância dos recursos de acessibilidade comunicacional; a Central de Intermediação em Libras; e o Programa de Estágio, que é um estímulo dentro da própria prefeitura para contratar cada vez mais pessoas com deficiência, garantindo a primeira oportunidade de trabalho.
O impacto positivo que essas ações têm gerado para as pessoas com deficiência é significativo e será ampliado, como explica Marinalva Cruz, que atuou como secretária adjunta da SMPED até março deste ano: “A intenção é sempre ampliar essa política pública para atender mais e cada vez melhor a população com deficiência. Nessa linha, tudo que já vinha sendo desenvolvido vai continuar sendo desenvolvido.”
Marinalva tem experiência na área da inclusão da pessoa com deficiência há quase 20 anos e trabalhou por quatro anos com acessibilidade e inclusão na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência.
Articulação com outras secretarias
Por ser uma secretaria meio, a SMPED desenvolve projetos junto de outras secretarias municipais, como a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), com a iniciativa Paraoficina Móvel, e a Secretaria Municipal de Educação (SME), que tem apoiado o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva para diversos estudantes da rede municipal de ensino, antes e durante a pandemia.
“Uma educação inclusiva com cada vez mais qualidade é fundamental para que a gente tenha um país, uma nação, cada vez mais acessível e inclusiva, respeitando as diferenças, lembrando sempre que antes da deficiência existe o aluno, existe a pessoa”, afirma Marinalva.
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Levando isso em consideração, a secretária da pessoa com deficiência Silva Grecco conta que, em sua administração, o diálogo com a SME é imprescindível para garantir uma educação de qualidade para todos. Para ela, a educação inclusiva deve ser incentivada, para que não haja retrocesso nos direitos já conquistados até hoje:
“A educação tem começo, meio e fim na vida das pessoas com deficiência. A convivência com a diversidade faz muita diferença, até na formação do caráter dos próprios alunos no futuro, então entendo a educação inclusiva como um ponto importantíssimo.”
Cidade a favor da inclusão
A cidade de São Paulo tem evoluído muito nas questões relacionadas ao processo de educação inclusiva. Contudo, Marinalva alega que ainda existem barreiras a serem eliminadas para oportunizar a participação plena das pessoas com deficiência, não somente na educação: “Essas barreiras envolvem não só as pessoas que estão diretamente envolvidas com a educação, mas a sociedade como um todo”.
De acordo com ela, os avanços necessários para a construção de uma sociedade inclusiva devem contar com o empenho de todos: da família, da comunidade escolar e dos gestores públicos.
Em consonância, Silvia afirma que a conscientização também é um ponto a se considerar. Para que a inclusão ultrapasse os muros das escolas, a sociedade precisa entender seu papel e mudar seu olhar, de modo que uma diferença positiva seja feita na vida das pessoas com deficiência:
“Tenho todos os dias um aprendizado com meu filho Nickollas: para ele existe a pessoa, o caráter, aquela pessoa que agrada, que conversa e tem carinho por ele. Ele conhece pessoas. Não conhece o branco, o negro, o magro, o gordo, com cabelo ou careca. Ele conhece a essência da pessoa.”
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