MEC discute educação inclusiva em programa televisivo
Exibido na TV aberta e na internet, Inclusão pra Valer convida especialistas, muitos dos quais pessoas com deficiência, para dialogar sobre conceitos e práticas que visam garantir o direito à aprendizagem de todos os estudantes

“O modelo social da deficiência propõe deslocar a percepção do corpo (da pessoa) para o todo: a sociedade enquanto estrutura é que cria coletivamente a experiência da deficiência”, explica Thaís Becker, pesquisadora da Universidade de São Paulo (SP). Ela completa: “Embora a deficiência tenha essa dimensão de ser uma experiência de opressão que nos coloca o tempo todo em situações de violência e de discriminação, temos tentado produzir um outro lugar, da deficiência enquanto algo potente, que nos possibilita estar no mundo de uma forma diferente”.
A declaração acima foi feita em entrevista durante o primeiro episódio do programa Inclusão pra Valer, lançado pelo Canal Educação, a TV do Ministério da Educação (MEC). Em debate, estava o conceito de deficiência, principalmente o modelo social, que norteia a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências da Organização das Nações Unidas (ONU) e fundamenta os marcos legais brasileiros, inclusive a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI).
No modelo social, a deficiência é uma condição relacional entre as características da pessoa e as barreiras de diferentes naturezas (físicas, atitudinais, de comunicação, tecnológicas etc.) existentes na sociedade e que criam impedimentos ou dificuldades para que ela se desenvolva ou se expresse plenamente.
No Inclusão pra Valer, que é orientado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), a cada episódio, Mariana Rosa, pesquisadora em educação inclusiva, diretora do Instituto Cáue – Redes de Inclusão e conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE), conversa com um especialista a respeito de temas relacionados à educação inclusiva, tais como o conceito de deficiência, paradigmas da educação, acessibilidade, práticas pedagógicas, atendimento educacional especializado (AEE) etc.
Segundo Mariana, o programa tem o objetivo de contribuir para a divulgação dos princípios, fundamentos e práticas da educação inclusiva. “A ideia é aprofundar essa conversa e difundi-la para qualquer pessoa que se interesse pelo tema. Queremos que essas informações cheguem às pessoas com e sem deficiência, às famílias, aos coordenadores pedagógicos, professores e trabalhadores da educação, da saúde e da assistência social. Enfim, para qualquer pessoa que queira ampliar seu repertório de humanidade.”
Nos episódios já gravados, de um total de oito, além de Thaís Becker, Mariana conversa sobre paradigmas da educação com Martinha Dutra, doutora em educação e membro da Rede Ibero-Americana para o Desenvolvimento de Sistemas Educacionais Inclusivos e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República; sobre currículo e práticas pedagógicas com José Eduardo Lanuti, doutor em educação e professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), e sobre AEE com Virgínia Andrade, que atuou como professora no AEE na rede pública por mais de 30 anos.
O programa pode ser assistido pelos canais do MEC na TV aberta, pelo portal do Ministério e também pelo Canal Educação no YouTube. Para Mariana, a iniciativa de divulgar o Inclusão pra Valer em canais públicos compromete o governo e o estado com os princípios e os fundamentos da educação inclusiva a partir da PNEEPEI. “Quando a gente faz uma série de programas que referenciam a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva em um canal oficial do MEC, estamos dizendo que esse é um preceito que o governo não só assume como também assegura.”
Com três programas no ar, Mariana comemora a repercussão, principalmente entre estudantes com deficiência e suas famílias e profissionais da educação. “Tenho encontrado muitas pessoas que disseram o quanto o debate tem feito sentido para elas e como ele tem ajudado a compreender alguns conceitos que pareciam complexos ou distantes. Elas dizem sentir que as conversas dialogam com a realidade vivida.”