Givânia Silva discute ações para fortalecer a educação indígena e quilombola

Em live promovida pelo IRM, conselheira do CNE defende que o direito de todos à educação inclusiva deve considerar as especificidades dos diferentes grupos

“A escuta é a grande oportunidade para nos aproximarmos de uma educação para todos. A sabedoria da escuta é algo que nós não vamos encontrar nas teorias. […] Então, é preciso que a gente a exercite.” Esse é o convite que a educadora quilombola Givânia Silva fez durante a segunda live da série sobre inclusão no contexto educacional brasileiro, promovida na última terça-feira (17) pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM).  

O encontro contou com a mediação de Katia Cibas, coordenadora da área de Formação do IRM, e teve como mote a “Educação indígena e quilombola e a transversalidade da Educação Especial”.  

Cofundadora e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE), Givânia compartilhou suas reflexões sobre como fortalecer a educação inclusiva e superar a lógica que naturalizou a ideia de todos, mas que “esquece cotidianamente de olhar para as individualidades dentro de coletividades específicas, como é o caso dos povos quilombolas e indígenas”. 

“A inclusão precisa ser um princípio educacional [compreendido] de forma ampla, ao contemplar os diferentes grupos, sejam quilombolas, indígenas, pessoas com deficiência etc. Sendo assim, a educação tem de ser antirracista, anti-homofóbica, antipatriarcal e anticapacitista”, defendeu a convidada, que também é professora, mestre em políticas públicas e gestão da educação e doutora em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). 

Para a especialista, a efetivação da educação inclusiva requer que professores, gestores e demais pessoas envolvidas na educação reconheçam as individualidades dos estudantes e os contextos nos quais eles estão inseridos (aldeias indígenas, quilombos, comunidades rurais, ribeirinhas e urbanas, periferias etc.), de modo a contemplá-los nos processos de ensino e aprendizagem. Por isso a escuta e o vínculo são essenciais. 

“Ao olhar para todos, naturalizamos, de certa forma, não termos o exercício de considerar as individualidades, principalmente dentro de coletividades específicas, como os povos quilombolas e indígenas. O resultado é a criação de estratégias e políticas unificadas que partem do princípio de que as pessoas estão nos mesmos lugar e nível e negam as suas vivências e realidades”, afirma Givânia. 

Segundo ela, um dos fatores que podem ajudar a enfrentar esse desafio e merece atenção é a formação inicial e continuada de professores. “Não é possível que a gente espere que um professor que nunca discutiu a temática indígena, nunca discutiu a temática quilombola, assuma uma sala de aula e já esteja preparado para esse desafio”, argumenta. 

Fortalecer a gestão escolar é outra ação essencial. Para a especialista, diretores e coordenadores pedagógicos desempenham um importante papel para a inclusão de todos, seja promovendo um currículo que tenha intencionalidade e dialogue com o contexto no qual os estudantes estão inseridos, seja incentivando a participação ativa de diferentes atores da comunidade escolar.  

Para serem colocadas em prática, Givânia indica que essas ações devem vir acompanhadas de dois questionamentos: “Quem são esses todos [que queremos envolver]? E qual é a parte de todas e todos que ainda não acessa uma educação de qualidade?”. Ao refletir sobre essas perguntas, a comunidade escolar pode encontrar caminhos para sanar as lacunas e desenhar estratégias para efetivar uma educação inclusiva, equitativa e igualitária.  

Próxima live acontece em 19/8 

A terceira live da série já tem data marcada: será no dia 19 de agosto e terá como tema “Práticas pedagógicas diversificadas”. Cada um dos quatro encontros tem como objetivo promover reflexões e apresentar experiências que contribuam com a construção de uma educação mais equitativa e acessível para todos.  

A iniciativa faz parte das ações do projeto “Alavancas para a educação inclusiva de qualidade”, do IRM, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Movimento Bem Maior, o Instituto Ambikira e o apoio do Instituto Machado Meyer (saiba mais sobre a iniciativa ao final do texto). A realização da live também tem o apoio da Coalizão Brasileira pela Educação Inclusiva. 

No primeiro debate, realizado em maio, a live teve como mote “Como organizar o atendimento educacional especializado (AEE) na escola de tempo integral?”. Participaram das discussões Liliane Garcez, coordenadora-geral de Estruturação do Sistema Educacional Inclusivo do Ministério da Educação (MEC), e Raquel Franzim, coordenadora-geral de Educação Integral e Tempo Integral do MEC. 

As duas primeiras lives da série estão disponíveis na íntegra no canal do IRM no YouTube.   

Alavancas para a educação inclusiva de qualidade      

O projeto “Alavancas para a educação inclusiva de qualidade” é uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Movimento Bem Maior, o Instituto Ambikira e o Instituto Machado Meyer, e visa a formação de educadores, gestores escolares e técnicos de secretarias municipais de Educação de todo o país. O objetivo é potencializar práticas e políticas públicas locais que proporcionem uma educação de qualidade para todas e todos.       

Dividido em diferentes etapas, que vão de 2023 a 2025, o programa é realizado em parceria com dez secretarias municipais de Educação, que representam as cinco macrorregiões do Brasil: Maués (AM), Óbidos (PA), Campo Formoso (BA), Gado Bravo (PB), Irauçuba (CE), Lucas do Rio Verde (MT), Cajati (SP), Patos de Minas (SP), Alvorada (RS) e Canguçu (RS).         

Em 2023, a equipe do IRM conduziu uma formação semipresencial com cerca de 400 educadores desses municípios, que incluiu orientação e apoio para a elaboração e o desenvolvimento de cem projetos inclusivos, com foco na promoção do protagonismo e da autonomia de todos os estudantes (confira alguns desses projetos aqui). 

No ano passado, as ações formativas do projeto “Alavancas” tiveram como público-alvo técnicos das secretarias municipais de Educação. O objetivo era que, ao final do percurso, cada rede elaborasse uma política pública voltada à educação inclusiva.     

Em 2025, estão em desenvolvimento o monitoramento das políticas elaboradas e uma pesquisa sobre os impactos gerados pelas formações, além de dois cursos que serão disponibilizados na plataforma de formação do IRM. 

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