Especialistas abordam mitos vinculados à educação inclusiva. Assista!

“O nosso sonho [para uma educação inclusiva] deve ser uma ‘escola irregular’ […] muito diferente desta que a gente tem hoje em termos de estrutura, currículo, avaliação, materiais”. Essa é uma das ideias destacadas por Raquel Paganelli, membro da equipe DIVERSA, no seminário virtual sobre inclusão no ensino promovido pela Comunidade Educativa CEDAC. No bate-papo, Raquel debate sobre mitos da educação inclusiva ao lado de Marília Costa Dias, professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz e coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC.

Assista ao debate na íntegra:

A conversa foi mediada por Camila Fattori, coordenadora do Programa Parceria Votorantim pela Educação da Comunidade Educativa CEDAC. Entre os temas abordados estão: as consequências da alegação de despreparo dos educadores para lidar com alunos com deficiência, a singularidade de todos os sujeitos e as polêmicas em torno dos laudos diagnósticos e das escolas especiais.

Sobre esses assuntos, Raquel cita a ideia de “escola irregular” criada pesquisador australiano Roger Slee, referência internacional nos estudos sobre educação inclusiva. “Ele fala que enquanto trabalharmos numa perspectiva de ‘escola regular’, não vamos conseguir aquilo que queremos quando falamos de educação inclusiva. Isso porque a escola inclusiva que queremos é muito diferente desta que temos em termos de estrutura, em termos de currículo, de avaliação, materiais, tudo”, diz a especialista.

Preparo na educação inclusiva

Para as debatedoras, a ideia de que as inseguranças dos professores quanto ao trabalho com alunos com deficiência justifica a dificuldade em construir escolas inclusivas é um mito a ser combatido. “Pode ser que uma criança não tenha acesso à escola em função dessa sensação de despreparo do professor ou do gestor. Muitas vezes um professor que assume não estar preparado para trabalhar com o estudante com deficiência delega a responsabilidade de trabalhar com esse aluno para um especialista, alguém que teria esse preparo”, diz Raquel.

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Nesse sentido, mais do que serem enxergados como auxiliares para a execução de trabalhos paralelos com alunos com deficiência na sala de aula comum, os profissionais de apoio devem dar sustentação aos docentes. “Juntos eles vão auxiliar todos os estudantes que precisam, inclusive os que têm deficiência”, afirma Marília.

Singularidades dos estudantes

Para as pesquisadoras, a ideia de despreparo no lido com alunos com deficiência é decorrente da expectativa de um “saber pronto” para o trabalho com as diferenças e especificidades dos alunos. “Essa noção é, no mínimo, simplista, já que todas as pessoas são diferentes umas das outras, independentemente de seus diagnósticos”, pontua Raquel.

Sob essa perspectiva, os docentes devem aprender a lidar com o desafio de abordar o mesmo conteúdo de diferentes formas. Além disso, indica-se que professores, coordenadores, diretores, demais funcionários da escola e familiares sejam escutados sobre como veem os pontos fracos e fortes de cada aluno. A partir daí, é possível estabelecer metas compartilhadas para o desenvolvimento individual do estudante, pensando numa educação mais customizada.

Cobrança de laudos para alunos com deficiência

Questionadas sobre o que acham das adaptações curriculares, das escolas especiais e da necessidade de laudos diagnósticos para a inclusão de estudantes com deficiência no atendimento educacional especializado (AEE), as debatedoras destacam aspectos polêmicos.

Para Raquel, o currículo adaptado como proposta de inclusão remete à ideia de redução. Sendo assim, caminha na contramão da diversificação de estratégias de avaliação e atividades de aprendizado para todos os estudantes, os com e os sem deficiências.

Com relação aos laudos, destaca-se o fato de não serem cobrados por nenhuma lei federal, mas sim por normas municipais e estaduais. A exigência, por vezes, reforça o mito do despreparo dos profissionais de educação como justificativa para não promover a inclusão.

“Muitas vezes, o laudo gera uma tendência dos profissionais de educação olharem para as deficiências dos alunos como incapacidades ou limitações. E devemos sempre apostar na potência das pessoas. Quando fazemos isso, podemos nos perguntar: por que esse aluno deveria ir para uma escola especial [ao invés de poder frequentar uma escola comum]?”, diz Raquel.

5 Comentários

  • Muitos dos nossos colegas não gostam de falar sobre este assunto pois acham que seria mais serviços a fazer. Tenho muitas dúvidas, sobre o autismo, preciso de ajuda.

  • Onde posso encontrar orientações sobre autismo de forma real, alguns livros são muito irreal com o que tenho vivido na realidade dos autista da escola os livros não contemplam as minhas necessidades.

    1. Olá, Maria.

      No Diversa, nós contamos com uma série de artigos de especialistas, relatos de experiência e discussões entre nossos usuários sobre transtorno do espectro autista (TEA). Esses conteúdos estão reunidos no link: diversa.org.br/inclusao-de-alunos-com-autismo-na-escola-dicas-e-exemplos-para-pratica.

      Se você desejar, também pode compartilhar seu caso com outros educadores que estiveram em uma situação parecida com a sua, trabalhando com alunos com autismo. Eles podem te auxiliar, apontando possíveis caminhos. Para isso, basta enviar sua dúvida para o nosso fórum: diversa.org.br/forum.

      Abraços,

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