Avaliação inclusiva: o ótimo de cada estudante

Na última semana, tive o prazer de reencontrar Lino de Macedo, educador que sempre me inspira com suas provocações. Estávamos conversando sobre um dos desafios atualmente enfrentados pelas escolas brasileiras: como conciliar a cobrança por melhores notas de nossos estudantes com o dever de atender toda criança e adolescente?

Leia também:
+ Qual a diferença entre a avaliação tradicional e a inclusiva?
+ Pistas e desejos para uma avaliação inclusiva
+ Desafios na sala de aula: dimensões possíveis para um planejamento flexível

A cobrança vem do fato de que o Brasil, sétima maior economia do mundo, ocupa o 53° lugar no Programme for International Student Assessment (PISA), ranking que compara a qualidade da educação de diferentes países. Apesar das insuficiências desse ranking, há um consenso de que temos muito a aprimorar. O dever, por sua vez, é fruto dos avanços de nossa democracia, cuja legislação prevê que toda pessoa tem o direito a uma educação gratuita e de qualidade na escola comum. Isso inclui estudantes com deficiências, historicamente encaminhados para instituições de ensino especial.

O aparente dilema reside na suposição de que todos os educandos aprendem da mesma forma, no mesmo ritmo e no mesmo espaço de tempo. A partir dessa crença, predominam métodos de ensino padronizados e espera-se que todos possam atingir um parâmetro de desempenho pré-estabelecido. Em outras palavras, o modelo é orientado para aquilo que é considerado “normal”, ou estatisticamente mais frequente. Como resultado, aqueles que não se adequam ao normal, não alcançam esse parâmetro.

Um caminho mais coerente seria investir em práticas educacionais pautadas pelas singularidades humanas, as quais reconhecem que cada pessoa tem uma forma particular de aprender e, por isso, contemplam estratégias diversificadas de ensino. Segundo Lino, devemos nos relacionar com os estudantes visando o “ótimo” de cada um, ou seja, o seu melhor, de acordo com suas possibilidades. Dessa forma, a escola mediará de fato o desenvolvimento de cada aluno e desconstruirá o dilema “desempenho x diversidade”, na medida em que todos poderão atingir o seu “ótimo” em termos de aprendizagem.


Rodrigo Hübner Mendes é fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva. É mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (EAESP), membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial) e Empreendedor Social Ashoka.

Esta é uma adaptação do artigo publicado na revista “Tam nas Nuvens”, edição 36, em junho de 2013.

© Instituto Rodrigo Mendes. Licença Creative Commons BY-NC-ND 2.5. A cópia, distribuição e transmissão dessa obra são livres, sob as seguintes condições: Você deve creditar a obra como de autoria de Rodrigo Hübner Mendes e licenciada pelo Instituto Rodrigo Mendes e DIVERSA.

Deixe um comentário