Entrevistados falam da importância do DIVERSA para educação inclusiva

Pessoas que colaboraram com o portal ao longo dos 10 anos de existência falam da contribuição do DIVERSA para um ensino inclusivo de qualidade

O portal DIVERSA continua as comemorações de uma década de existência compartilhando conhecimento e boas práticas sobre educação inclusiva. Essa é a última notícia na série de publicações realizadas a cada semana deste mês, para que a sociedade esteja cada vez mais envolvida nesse movimento.

O DIVERSA entrevistou três pessoas que contribuíram com o portal ao longo desses anos. Os especialistas em educação abordam a contribuição do site para um ensino de qualidade que agregue todas e todos, os desafios encontrados no início do projeto e o atual momento da educação no país.

 

Crianças jogam vôlei sentados na quadra. Ao centro, um menino em cadeira de rodas se prepara para rebater a bola que chega até ele. Fim da descrição.
Foto: Pat Albuquerque. Fonte: Instituto Rodrigo Mendes

Início do projeto

O portal DIVERSA entrou no ar em 4 de outubro de 2011, com o objetivo de garantir um ensino de qualidade para pessoas com e sem deficiência em escolas comuns do país. Aquele era um momento de avanços em políticas públicas relacionadas à educação, principalmente com a criação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, em 2008.

Apesar do clima favorável à educação inclusiva, Augusto Galery, doutor em psicologia social que foi coordenador do DIVERSA entre 2011 e 2015, lembra do grande desafio no início do projeto: “Na época, a relação entre escolas, educadores e famílias, para que todos percebessem as necessidades de mudança e se prepararem para elas, era o maior desafio do portal.”

 

Augusto posa para foto. Ele é um homem branco, com cabelos, cavanhaque e bigode grisalhos e usa uma camisa clara. Fim da descrição.
Augusto é doutor em psicologia social e pesquisador em sociedade inclusiva. (Foto: Augusto Galery. Fonte: Arquivo pessoal)

Augusto ainda conta que o desafio era acompanhado de certa resistência à nova política de educação, já que antes do portal havia poucos estudos de casos e experiências que realmente fossem inclusivas: “Educadoras, educadores e escolas estavam assustados com a mudança, assim como as escolas especializadas, que temiam perder seu papel social.” 

Contribuição para verdadeira inclusão

O acervo do DIVERSA contempla ao longo desses dez anos mais de mil conteúdos, entre relatos de experiências, materiais pedagógicos acessíveis, estudos de caso, artigos e notícias produzidas com o apoio de educadores, gestores, mães, pais e estudantes.

 

Pilar posa para foto. Ela é uma mulher branca, com cabelo curto grisalho e usa uma blusa na cor laranja com detalhes em branco. Fim da descrição.
Pilar é ex-secretária de Educação Básica do MEC (Foto: Pilar Lacerda. Fonte: Arquivo Pessoal)

Pilar Lacerda, ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) que também colaborou com o site, avalia que todo o trabalho desenvolvido nessa primeira década de existência mostra que a “inclusão é possível, desde que tenha formação e acolhimento.”

Segundo ela, além disso, é apresentado claramente no portal que a educação inclusiva é boa para todo mundo, pois ensina a conviver com as diferenças: “Eu não posso defender a diversidade na sociedade se eu não conheço pessoas diferentes de mim. O DIVERSA possibilita conhecer experiências educacionais positivas que mostram na prática exatamente isso.”

Na mesma linha, Ana Elisa Siqueira, diretora da Escola Municipal Amorim Lima, em São Paulo, aponta que o DIVERSA traz à tona todos os envolvidos com a educação: “É muito bacana que o site traz todos os atores sociais em pauta. Ele traz a fala da mãe, do pai, do estudante, do especialista e outros.”

Ela ressalta que outra contribuição importante é mostrar que o educador não está sozinho no desafio de colocar a inclusão em prática: “Ele tem a família, os outros educadores, a equipe gestora e o próprio estudante para fazer um ensino de qualidade para todos.”

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Experiências que inspiram

Atualmente, o site disponibiliza 374 relatos de experiência onde educadores de todo o país buscam compartilhar suas práticas em educação inclusiva, em diferentes níveis de ensino.

 

Ana Elisa posa para foto. Ela é uma mulher branca, com cabelo ruivo na altura do ombro e usa uma jaqueta e cachecol na cor preta. Fim da descrição.
Ana atua há 26 anos na escola municipal Amorim Lima onde atualmente é diretora (Foto: Ana Elisa. Fonte: Arquivo pessoal)

Ana Elisa destaca que o espaço dedicado a compartilhar as experiências práticas em inclusão traz uma realidade possível para todas as escolas: “Se em outro lugar pode, todos os lugares podem, desde que as pessoas se permitam traçar esse caminho. As histórias mostram que a educação inclusiva não é algo fictício, é algo que dá certo e que todos os educadores e gestores têm condições de realizar, basta querer.”

De acordo com Pilar, a falta de registros de experiências é uma característica da educação básica no Brasil: “Se esse professor sai da escola, ninguém fica com essa memória. Esse é outro ponto em que o DIVERSA beneficia a educação do país”. A diretora da Fundação SM menciona que os relatos disponibilizados pelo portal criam uma identificação com os educadores, uma vez que são práticas na realidade brasileira.

“Você lê e fala: ‘não é o teórico da Universidade de Harvard que está falando, é o professor que dá aula na escola municipal na periferia de São Paulo’. As pessoas se tornam mais sensíveis a isso.”

A luta continua

Durante esses dez anos de existência, o DIVERSA acompanhou discussões, avanços e tentativas de retrocessos em políticas públicas relacionadas à educação. Os três entrevistados avaliam a atual realidade da educação no Brasil e o futuro da inclusão escolar.

Para Augusto, atualmente o portal acompanha um momento em que a inclusão nas escolas está em risco: “A educação inclusiva está sob ataque, do ponto de vista das políticas de governo. Declarações absurdas são jogadas na mídia o tempo todo. Isso põe em risco todos os ganhos dos últimos 10 anos na promoção da inclusão na sala comum.”

Na avaliação de Ana Elisa, a luta pelo ensino de qualidade está em um momento difícil por falta de conhecimento por parte da sociedade: “Tem situações sobre preconceitos que acontecem não por maldade, mas sim por desconhecimento. O conhecimento e o debate devem ser cada vez mais públicos, como é feito no DIVERSA, pois é um conceito de sociedade.”

Segundo ela, o portal é fundamental para que todos entendam a importância da inclusão: “Enquanto tiver uma pessoa que não consiga entender a diversidade, temos que continuar trabalhando, e o DIVERSA é uma grande ferramenta para conseguirmos êxito.”

Na luta pela educação de qualidade há décadas, Pilar afirma que a luta de todos ainda continua: “Todos nós, educadores, DIVERSA e sociedade em geral, temos um grande trabalho pela frente para que possamos ter a escola que a gente sonha e, principalmente, a escola que o Brasil, como nação, precisa.”

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