Como a geografia contribui para uma sociedade crítica e inclusiva

Em homenagem à data, confira entrevista com o educador Paulo Magalhães, que aborda a importância da disciplina na formação acadêmica

A geografia é uma ciência que estuda, analisa e compreende a lógica de produção e transformação do espaço humanizado, bem como a relação dos seres humanos com o meio natural. Um dos seus objetivos é entender a dinâmica do espaço para auxiliar no planejamento das ações dos seres humanos sobre ele. 

No dia 29 de maio é comemorado o Dia do Geógrafo, data escolhida para celebrar a criação do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1936, atual Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e uma forma de homenagear aqueles que atuam na área. 

Assim como em outras disciplinas, os geógrafos que atuam na educação têm o desafio e a preocupação de proporcionar um ensino de qualidade para todas e todos.  Essa área do conhecimento é um estudo fundamental na formação acadêmica de cada estudante e, por isso, tem grande relevância na trajetória escolar em toda a educação básica, de acordo com as competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

Cidadania e compreensão do território

Seguindo nessa linha, o professor de geografia Paulo Magalhães, que trabalha na EMEF Duque de Caxias, na capital paulista, atua há 30 anos para que seus estudantes evoluam com a matéria: “Desde que entrei no magistério, tenho me empenhado para que os estudantes possam ter um norte e sejam cidadãos globais e críticos, entendendo qual o seu espaço no território”. 

Para isso, o educador mantém, desde 2010, o projeto “Aula Pública”, uma proposta na qual ele, junto com estudantes de diferentes anos, vai às ruas próximas da escola com o intuito de ocupar os espaços públicos e conhecer a história e o presente dessas localidades, para que cada criança e adolescente saiba o motivo de estarem inseridos naquela realidade. 

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“A maioria dos nossos estudantes residem nas proximidades, então andamos nas ruas do Glicério, da Liberdade, trazendo o conteúdo como algo real para cada um, e eles se sentem protagonistas, por terem curiosidade no conhecimento e vontade de participar de cada aula. Trazemos a história de cada local, colocamos eles para refletir sobre as mudanças já realizadas e evidentes no espaço, como a construção de prédios no lugar de antigas casas”. 

Educador realiza explicação a seis estudantes em uma rua do bairro da escola durante o projeto “Aula Pública”. Fim da descrição.
Foto: arquivo pessoal Paulo Magalhães.

Paulo sentiu a importância de seu trabalho no auge da pandemia de covid-19, quando as aulas presenciais foram suspensas e não teve contato direto com suas turmas. Ele conta que a maior parte dos educandos vivem em situação de vulnerabilidade social e, com o ensino remoto, as desigualdades sociais foram acentuadas: “Quando pensamos em cidadãos críticos, é imaginar que entendemos a nossa realidade e a dos demais. Com o isolamento social, percebi que os estudantes começaram a ver essas diferenças na sociedade, principalmente porque muitos sofriam e sofrem na pele os impactos desse momento”. 

Inclusão geográfica

Pensando nisso, praticar uma educação inclusiva, de qualidade para todos, torna-se mais importante quando destacado o sentido que a geografia pode e deve trazer às alunas e aos alunos. A luta pelos direitos das pessoas com deficiência também passa por conhecer seu lugar na comunidade do entorno, e a disciplina consegue clarear o que o ser humano, em sua relação com o meio natural, pode fazer para impulsionar a inclusão. 

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O educador Paulo Magalhães tem atuado constantemente com a diversidade em sala de aula. Além de estudantes com deficiência, a escola em que leciona recebe um grande número de imigrantes, oriundos de diferentes continentes. 

Ele destaca que, ao ter uma visão de inclusão, conseguiu fazer todos os estudantes participarem do processo de ensino-aprendizagem: “Com mais de 15 nacionalidades na escola, acolhemos cada um, desenvolvendo uma forte relação com a criança e a família. Também é uma oportunidade de desenvolver nas crianças brasileiras o conhecimento e o respeito às diferentes culturas e costumes”. 

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Da mesma maneira, seu trabalho com estudantes público-alvo da educação especial sempre foi ativo. Durante a pandemia, por exemplo, ele desenvolveu histórias em quadrinhos que contavam os trajetos pelas ruas do entorno da escola. Essa alternativa atrativa de continuar o projeto no formato remoto foi indicado por estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) do sexto ano que queriam acompanhar os conteúdos nesse período, considerando suas predileções. 

Na perspectiva inclusiva dentro e fora da escola, o educador acredita que seja uma forma de todos, estudantes com e sem deficiência, refletirem sobre o território e entenderem se ele é acessível a qualquer cidadão: “A geografia pode fazer com que a pessoa se questione sobre a acessibilidade arquitetônica, uma vez que percebemos a falta de recursos, em diferentes pontos da cidade, para que pessoas com deficiência física, mobilidade reduzida ou alguma dificuldade de locomoção, acessem ambientes que têm direito”. 

Inspirações para a inclusão

Assim como o trabalho do educador Paulo Magalhães, existem outras estratégias pedagógicas na área de geografia com uma perspectiva inclusiva, em consonância com o currículo de cada cidade.  

Abaixo, confira uma seleção de conteúdos do DIVERSA, entre relatos de experiência e materiais pedagógicos acessíveis, trabalhados na disciplina de geografia e de forma interdisciplinar. 

+ Material possibilita manuseio de placas tectônicas para compreensão de fenômenos naturais  

Educadores construíram recurso pedagógico acessível para eliminar barreiras ao aprendizado de conteúdos com elevada exigência de abstração. 

 + Nos trilhos da democracia: projeto desenvolve conceitos políticos  

A partir de conteúdos de geografia, iniciativa desenvolveu a importância da participação na vida pública e dos serviços públicos locais. 

+ Mapa mundi interativo promove protagonismo e aprendizado significativo  

O envolvimento dos alunos tanto na confecção como na utilização do material em sala de aula proporcionou uma aprendizagem muito mais significativa para todos. 

+ Material pedagógico interativo é usado em aulas sobre projeção cartográfica na EJA  

Aproveitando a realização da Copa do Mundo, educadora do Rio de Janeiro tratou temas como continentes, países e oceanos dentro da disciplina de geografia, aproveitando o interesse dos alunos pelo evento esportivo. 

+ Escola indígena resgata tradição em aulas inclusivas de geografia  

Buscando a sobrevivência e a preservação do etnoconhecimento do povo Paiter, professor realizou projeto para fortalecer a identidade indígena dos estudantes, não como sujeitos à parte da história nacional e mundial, mas como povos que fazem parte dos processos históricos. 

+ Estudantes de Santarém aprendem com os encantos do Muiraquitã 

Jogo pedagógico valoriza a cultura de Santarém e Oeste do Pará, fazendo uso da tecnologia de áudio e uma régua de luz colorida. 

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