No Dia da Educação Ambiental, educadoras mostram os benefícios da trabalhar o tema em sala de aula e a necessidade da participação da comunidade escolar
Desde 2012 passou a ser comemorado, no dia 3 de junho, o Dia Nacional da Educação Ambiental. A data, instituída pela Lei 12.633/2021, tem como intuito fortalecer a importância de práticas educativas e políticas públicas que visam a conservação do meio ambiente.
A comemoração foi escolhida para ser na mesma data em que teve início a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. Essa foi uma das conferências que discutiu a importância da Educação Ambiental como forma de conscientizar e inserir hábitos sustentáveis na sociedade.
O Brasil conta, desde 1999, com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que coloca o ensino do tema como processo permanente de construção de valores, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente e também destaca a necessidade da participação da sociedade nesse movimento.
Dessa forma, os currículos escolares trazem o tema para ser abordado em todos os níveis de ensino da educação básica, com objetivo de formar cidadãos críticos e comprometidos com o futuro do planeta.
A importância da educação ambiental
Por ser um tema que objetiva a compreensão de conceitos relacionados ao meio ambiente, sustentabilidade, preservação e conservação, a educação ambiental possui grande importância.
Desde cedo, as crianças podem aprendem a lidar com o desenvolvimento sustentável, como aponta a professora de química, Bárbara Rodrigues, da Escola Estadual Professor Sebastião de Oliveira Rocha, em São Carlos (SP): “A educação ambiental permite entender o meio em que vivemos e saber a necessidade de preservá-lo”.
Além disso, a educadora destaca que a educação ambiental também conscientiza os estudantes sobre o poder das pequenas ações:
“Quando tratamos de ensinar sobre sustentabilidade e meio ambiente, é a oportunidade de mostrar aos alunos que toda ação de preservação faz diferença sim para o planeta. O individual impacta no global.”
Na mesma linha, a educadora Karina de Borba, da rede municipal de São Paulo (SP), entende que a consciência desenvolvida com os conteúdos é fundamental para saber que os seres humanos fazem parte do meio ambiente: “Muitas vezes temos o discurso de que precisamos salvar a natureza, como se fosse algo a parte de nós, mas nós somos parte disso. Quando preservo, estou deixando de fazer mal para mim mesmo.”
Em 2018, Karina participou da formação Materiais Pedagógicos Acessíveis, do Instituto Rodrigo Mendes (IRM). Na oportunidade, foi desenvolvido o Jogo de Trilha Interativo. Segundo ela, a experiência possibilitou que os estudantes criassem práticas sustentáveis:
“É perceptível que, após as experiências pedagógicas sobre o tema, os estudantes começaram a entender a importância de preservar os recursos naturais. As próprias famílias dizem que os estudantes levam esses hábitos para casa, orientando como o lixo deve ser descartado, sobre a economia de água etc.”
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+ Conheça o Jogo de Trilha Interativo
Interdisciplinaridade do tema
Por ser um tema transversal, ou seja, pode estar presente em diferentes disciplinas, a educação ambiental possibilita estratégias pedagógicas interdisciplinares.
Vânia Porcho, educadora da rede municipal da capital paulista, vê como “essencial e possível” associar o tema a diversas disciplinas: “Conseguimos falar sobre reciclagem em matemática, por exemplo, calculando a quantidade de lixo produzido, quanto conseguimos reciclar etc. Em história, é possível falar sobre quando a sociedade entendeu a necessidade real de preservar e os impactos históricos causado ao meio ambiente.”
O Jogo Trilha Interativo, produzido pela turma de Karina de Borba, é um exemplo de trabalho interdisciplinar. A prática envolveu todas as áreas do conhecimento e, de modo mais específico, as disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências e língua inglesa.
“O trabalho interdisciplinar é muito rico e propicia experiências como essa. Reunir a equipe e planejar ações pedagógicas interdisciplinares para assuntos como esse é um grande desafio, mas necessário. Ainda falta dentro da educação valorizar, de maneira efetiva e prática, o processo de planejamento coletivo pedagógico.”, afirma Karina.
Para Bárbara Rodrigues, o processo interdisciplinar é mais que desenvolver atividades sobre meio ambiente em diversas matérias, envolve a mudança de comportamento: “Mais que trabalhar em disciplinas, hábitos sustentáveis devem ser incorporados dentro da escola (reciclar, diminuir o consumo de água, evitar o desperdício), pois refletem no comportamento além dos muros.”
A inclusão e a família no processo de aprendizagem
Assim como as demais disciplinas e tudo que envolve a rotina escolar, a educação ambiental deve ser feita de forma inclusiva. Nessa perspectiva, o material pedagógico acessível da professora Karina é um exemplo de como possibilitar o ensino a todas e todos.
Com essa e outras experiências, a educadora afirma que “se torna natural” planejar atividades que contemplem todos. Especificamente sobre educação ambiental, ela diz: “O meio ambiente também somos nós. Não tem como falar sobre um tema que envolve e é de responsabilidade de todos, deixando alguém de fora.”
A professora Vânia também participou da formação do IRM e desenvolveu o Painel de Adivinhação para trabalhar o reino animal e a alfabetização no ensino fundamental. Na opinião da educadora, o trabalho inclusivo envolve também a família e a comunidade: “Temos que conscientizar os estudantes e os demais, pois são eles que propiciam que as práticas sustentáveis virem hábitos. A escola deve realizar trabalhos contínuos para que a comunidade tenha consciência da preservação ambiental e que sejam agentes replicadores para mais pessoas.”
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+ Conheça o Painel da Adivinhação
Pensando a longo prazo, a professora Bárbara considera a inclusão e a participação dos familiares como fundamental no desenvolvimento sustentável: “Todos ganham nesse aprendizado, tendo em vista que os estudantes e envolvidos irão futuramente colocar em prática essas ações em qualquer área de atuação.”
Formação sobre o tema
Uma educação ambiental efetiva e de qualidade exige que o corpo docente e a gestão escolar estejam preparados para trabalhar com o tema. De acordo com Karina, são necessárias mais formações que falem sobre a realidade da escola e seu entorno: “A formação em meio ambiente precisa falar sobre o território, pois é diferente falar sobre o ponto de vista de diferentes regiões e fazer com que o estudante e os educadores se identifiquem com algo que está longe da realidade”.
Em consonância, Bárbara acredita que a formação continuada é uma das ferramentas para que o educador consiga apoiar uma educação de qualidade e falar sobre meio ambiente da melhor forma. Ela pontua que a atuação na escola, a fim de melhorar o planeta, deve ser acompanhada de outros incentivos: “Precisamos de mais investimentos e incentivos sustentáveis na educação e na sociedade civil para melhorarmos o nosso hábitat. Temos que lembrar que os recursos em nosso país são abundantes, mas eles são finitos.”
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