As diferentes inteligências fazem parte da diversidade da constituição humana. Pensando logicamente, se existem várias inteligências, também existem diversas maneiras de aprender e, por isso, várias maneiras de ensinar. Mas, mesmo na atualidade, um olhar para dentro de nossas escolas revela que nem todas as inteligências são conhecidas, reconhecidas e valorizadas. Ao contrário, o planejamento docente, em geral, prioriza a inteligência linguística e a lógico-matemática, em detrimento das demais. O argumento mais utilizado por educadores, para justificar tal proceder, é o vestibular e seu formato.
Realmente, há que se concordar que as provas de vestibular priorizam apenas algumas inteligências, mas, ultimamente, as universidades já estão revendo alguns conceitos, pois alunos com deficiências, por exemplo, necessitam de avaliação diferenciada. A educação é um direito humano e não pode ser negado.
A escola não deveria se omitir de realizar um trabalho mais sensível às necessidades e inteligências dos alunos, escudando-se no vestibular. É fato que muitos dos nossos alunos seriam bem melhor sucedidos no campo profissional se tivessem suas habilidades bem desenvolvidas, por meio de um planejamento escolar docente que levasse em conta as múltiplas inteligências. Na coleção “Inteligências múltiplas e seus jogos”, o educador Celso Antunes explica como as inteligências múltiplas se manifestam nas pessoas e ensina que, por meio de jogos e atividades, é possível que professor identifique as inteligências principais dos estudantes para potencializá-las. Com base nisso, proponho uma reflexão acerca dos métodos e técnicas atuais de ensino utilizados por professores nas escolas: a conduta docente de educadores e a relação que se estabelece com o desenvolvimento das múltiplas inteligências e por extensão a inclusão de todos os alunos nas turmas regulares de ensino.
As inteligências múltiplas e suas manifestações
• Linguística: manifestada em escritores, jornalistas, palestrantes e poetas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e de usar a linguagem para expressar e avaliar significados complexos;
• Interpessoal: é a capacidade de compreender outras pessoas. Vendedores, professores, políticos, clínicos e líderes religiosos têm essa inteligência bem apurada;
• Intrapessoal: é a capacidade correlativa, voltada para dentro. É a capacidade de formar um modelo de si mesmo e usar esse modelo para operar a vida;
• Ecológica: está ligada à competência para perceber a natureza de forma integral e envolver-se com profunda empatia com os mundos vegetal e animal;
• Sonora ou Musical: considerando, pois, a sensibilidade universal pelo ambiente sonoro é possível afirmar que praticamente todos os seres humanos possuem a inteligência sonora em grau mais ou menos desenvolvido e que pessoas como Mozart, Bach, Beethoven a possuem em grau muito acentuado. É a inteligência que mais cedo se manifesta no ser humano. Crianças com autismo severo conseguem tocar maravilhosamente um instrumento musical, ainda que não possam falar;
• Cinestésico-corporal: capacidade de controlar os movimentos do corpo e de manusear objetos com habilidade representa a base dessa inteligência;
• Espacial: centrais à inteligência espacial estão as capacidades de perceber o mundo visual com precisão, efetuar transformações e modificações sobre as percepções iniciais e ser capaz de recriar aspectos da experiência visual, mesmo na ausência de estímulos físicos relevantes.
Diversificar estratégias pedagógicas
Considerando que em uma sala de aula com 30 alunos estão presentes algumas ou todas essas inteligências ao mesmo tempo, priorizar apenas uma ou duas seria o mesmo que tocar um violão utilizando apenas uma ou duas cordas, desprezando as outras. Ou seja, os resultados obtidos são mínimos quando poderiam ser amplos e muito mais significativos tanto para o professor quanto para os estudantes.
Talvez o desconhecimento das inteligências múltiplas por parte de professores e o fato deles não contemplarem em seus planejamentos atividades para potencializar essas inteligências sejam a causa do insucesso de muitos na escola. Diante desta realidade é possível afirmar: a menos que o professor diversifique suas estratégias pedagógicas em sala de aula, fazendo observações cuidadosas na tentativa de identificar as múltiplas inteligências, o processo ensino-aprendizagem será um limitador do potencial dos estudantes. E isso vale para todos os alunos, com e sem deficiência.
É fato que para um expressivo número de educadores essa é uma tarefa até prazerosa de ser executada: planejar e mediar aulas com estratégias diferentes. Dessa mesma parcela, muitos receberam uma formação profissional consistente que os capacitasse para tanto. Outros, porém, conseguem tal façanha conjugando certo grau de criatividade e experiência adquirida pelos anos de trabalho. Mas, àqueles que ainda não planejam de modo a contemplar as inteligências múltiplas em sala de aula, a formação continuada em nível individual e coletivo pode ser um bom caminho a ser trilhado a fim de adquirir tal competência.
Questionar a própria prática pedagógica, constantemente, é o ponto de partida para um trabalho profissional exitoso com resultados satisfatórios para estudantes e professores.
Adriangela Bonetti é professora na rede municipal de ensino de Guaporé (RS), graduada em pedagogia e especialista em administração, supervisão e orientação educacional.
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