Criatividade no ensino e o exercício da inclusão

A expressão da criatividade no ensino e o exercício da inclusão educacional estão intrinsecamente relacionados. A ação de ensinar se funda em concepções e teorias sobre a aprendizagem e seus sentidos, oriundas da formação inicial e continuada, e das experiências pessoais e profissionais do professor. Essas concepções traduzem expectativas sobre o sucesso escolar e interferem no grau de investimento docente para estruturar a sua prática de forma a potencializar a aprendizagem e a participação dos estudantes.

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Quando se fala em estratégias pedagógicas criativas, na perspectiva da inclusão em educação, essas expectativas são mediadas por três disposições essenciais: para o diálogo, para se colocar no lugar do outro e para articular teoria e prática. Tais disposições ampliam o olhar sobre o sujeito que aprende e desafiam o professor a se abrir a novas experiências e à ambiguidade, valorizar a diversidade, não subestimar os erros e a tomar consciência do inacabamento do ser humano.

Desse modo, a expressão da criatividade no ensino tende a valorizar a singularidade do processo de aprendizagem, na medida em que favorece a motivação intrínseca e a autorregulação, conduzindo os alunos à consciência do que sabem, do que não sabem e do que necessitam saber; eleva a autoestima; desenvolve o autoconceito positivo e o sentimento de determinação para superar os próprios limites.

Exemplos de estratégias pedagógicas criativas

Dentre as estratégias pedagógicas adotadas por professores reconhecidos por sua criatividade, destacam-se:

• A adequação do tempo, do espaço e dos materiais para atender as necessidades dos estudantes;
• A realização de atividades que promovem a aprendizagem colaborativa;
• A criação de sistemas de monitoria entre os alunos, nos quais os mais experientes auxiliam os menos experientes;
• O planejamento do processo de ensino, de forma a manter o interesse e o foco nos assuntos abordados;
• A diversificação das atividades e dos instrumentos de avaliação.

Essas ações criam um ambiente de segurança onde os estudantes podem negociar os sentidos e os significados da aprendizagem, da liberdade, do respeito e da autonomia.

Criatividade e inclusão

A questão que se coloca é que criatividade e inclusão são vistas, em alguns casos, como “trabalho extra” e “obrigação” e não como um direito e uma necessidade. Vale dizer que o exercício da inclusão é um processo permanente que exige assumir compromissos e responsabilidades diante das mudanças, por parte dos professores, dos alunos, da família, enfim, de toda a comunidade escolar. Esses compromissos não se restringem a questões de ordem técnica sobre o “como fazer para incluir”. Envolvem, sobretudo, o debate crítico a respeito de quem são, onde estão e por que determinadas pessoas e grupos são alijados do direito de aprender.

Para valorizar a singularidade do processo de aprendizagem é necessário, portanto, ultrapassar as noções humanitárias de caridade, benevolência, boa vontade a fim de transformar a relação com o outro em uma relação de troca. Não no sentido econômico, mas no da inversão de posição que permite olhar o meu próprio lugar com outros olhos. O conhecimento acadêmico, a capacidade de interagir com os alunos e a disponibilidade para lhes dar a voz são imprescindíveis.

Conforme destacam os pesquisadores Tarso Mazzotti e Renato Oliveira: nós não escolhemos nossos estudantes, nem eles escolhem a nós. Dessa forma, a diversidade da audiência (no caso os alunos) também significaria a diversidade, talvez infinita, de possibilidades de criação e inclusão.


Kátia Regina Xavier da Silva é pedagoga e licenciada em educação física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui mestrado e doutorado em educação pelas universidades do Estado (UERJ) e federal (UFRJ) do Rio de Janeiro, respectivamente. Para saber mais sobre o assunto, acesse a tese “Criatividade e inclusão na formação de professores: representações e práticas sociais“, de sua autoria.

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