Vejamos os seguintes exemplos. Quatro crianças nascem com algum tipo de deficiência. A primeira nasce paraplégica, a segunda nasce cega, a terceira nasce surda e a quarta vem ao mundo com Síndrome de Down. Mesmo tendo eventualmente nascido em cidades mais distantes das grandes metrópoles e com menos recursos financeiros, é provável que todas elas venham a estudar nas escolas que hoje chamamos de inclusivas. Afinal, é objetivo da Política Nacional de Educação Especial assegurar a inclusão escolar de todos os alunos com deficiência, orientando os sistemas de ensino para garantir acesso ao ensino regular.
Mas essa inclusão educacional criará condições para que no futuro esses alunos venham a se tornar profissionais competentes, que de fato desenvolvam as tarefas solicitadas, que atingem metas e, portanto, alcançam resultados? Mais do que isso, essa inclusão educacional trará a cada um deles satisfação pessoal de, tornando-se profissional de fato, virem a ser seres humanos mais autônomos a ponto de serem reconhecidos mais pela possibilidade de alcance, do que pela restrição do limite?
Isso vai depender de duas coisas. Em primeiro lugar, que os professores recebam apoio e formação continuada para ensinar alunos com deficiência. Significa dizer que eles não apenas conheçam e estejam de posse de instrumental pedagógico adequado, mas principalmente que saibam lidar, no aspecto humano, com esses alunos. Em segundo lugar, que as escolas estejam conectadas ao mundo do trabalho. Significa dizer que elas conheçam as exigências que as empresas fazem àqueles que contratam e que preparem os alunos com deficiência para que eles próprios se desenvolvam para responder de forma eficiente e eficaz às essas exigências.
A diversidade reina também entre os alunos com deficiência. O instrumental pedagógico adequado é importante. Mas, se o professor não conseguir perceber o potencial individual de cada aluno, jamais conseguirá desenvolver as habilidades e os alcances de todos. Por mais que dois alunos cegos tenham à sua disposição o mesmo software leitor de tela, que vai ajudá-los pedagogicamente a obter uma informação na Internet, cada um deles conseguirá, à sua maneira, apreender cognitivamente a informação que construa o seu aprendizado. Cabe ao professor, portanto, a fina e delicada percepção das particularidades e dos detalhes humanos de cada aluno.
Por sua vez, as escolas conectadas ao mundo do trabalho são aquelas que estão em constante diálogo com líderes empresariais, os quais são uma fonte de referência sobre as competências exigidas pelo mercado de trabalho. Bebendo com seriedade dessa fonte e descartando por completo a atitude complacente para com os alunos com deficiência, elas poderão ensiná-los a serem competentes e terem postura profissional. Mais do que isso, saberão orientar o aluno paraplégico ou àquele que tem Síndrome de Down para o atendimento das expectativas das empresas e, assim, fazer deles seres humanos independentes, autônomos e verdadeiramente sociais.
João Ribas é antropólogo, é coordenador do Programa Serasa Experian de Empregabilidade de Pessoas com Deficiência e é paraplégico.
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