O paradigma da educação inclusiva

No mundo inteiro os problemas das crianças com deficiência são, em parte, o resultado de séculos de ignorância, superstição e medo. Por toda a parte, a população não tem acesso à informações sobre causas, prevenção e tratamento da deficiência infantil, possuindo, no entanto, informações errôneas sobre o assunto. As principais causas da deficiência são resultado da pobreza e ignorância. Nas áreas rurais e nas favelas do mundo em desenvolvimento ficam especialmente evidentes as inter-relações entre a deficiência e a pobreza (Unicef, 1980).

A ignorância, que é a base dos preconceitos, toma aspectos dos mais diversos. Ora são noções equivocadas referentes às características físicas, tradições culturais ou crenças de um povo, ora verdadeiros mitos que facilitam entendimentos sobre-humanos ou de fraquezas. A ignorância provém tanto da ausência de conhecimentos, como da presença de idéias falsas.  A ignorância em si não faz nascer o preconceito, mas favorece o seu desenvolvimento.

Quanto ao preconceito, este é acompanhado quase sempre de opiniões inexatas ou sem fundamento no que se refere às pessoas que são objeto desse preconceito. Julga-se as pessoas não pelos seus méritos próprios, mas em função de ideias exageradas e deformadas referentes àquilo que se crê ser as características do seu grupo, admitindo-se erradamente que todos os membros de um mesmo grupo são idênticos e que as exceções não existem ou são insignificantes. A informação é arma poderosa que combate as ideias falsas e completa o conhecimento atacando diretamente o preconceito (Rose, 1972).

O movimento em favor da integração surgiu na década de 70, com o conceito de normalização, que significa que devem ser dadas à pessoa com deficiência condições semelhantes, e tanto quanto possível, às oferecidas na comunidade onde ele vive. Este princípio representa a base filosófica e ideológica da integração (Goffredo, 1997). Sendo assim, a palavra integrar significa, acima de tudo, oferecer oportunidades iguais, apesar das diferenças; Integrar para ter acesso à educação, à saúde, ao trabalho, à cultura, ao lazer e à atividade física; acesso ao mundo físico sem barreiras. Em Educação Especial a integração é conceituada como um processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais que implica em reciprocidade (Brasil, 1994). Porém no modelo integrativo espera-se que a pessoa com deficiência e só ela cumpra a sua parte, ou seja, a sociedade de braços cruzados aceita receber  as pessoas com deficiência desde que sejam capazes de “adaptar-se” e vencer os obstáculos físicos e atitudinais.

A inclusão como processo social amplo vem acontecendo paulatinamente em todo o mundo e efetivamente a partir da década de 50. A inclusão é a modificação da sociedade como pré-requisito para que a pessoa com deficiência possa buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania (Sassaki, 1997). Segundo o autor, é um processo amplo, com transformações pequenas e grandes nos ambientes físicos e na mentalidade de todas as pessoas, inclusive do próprio indivíduo com deficiência, que contribui para um novo tipo de sociedade. Uma sociedade que aceite e valorize as diferenças individuais, aprenda a conviver dentro da diversidade humana, através da compreensão e da cooperação (Cidade & Freitas, 2002).

Na escola, “pressupõe, conceitualmente, que todos, sem exceção, devem participar da vida acadêmica, em escolas ditas comuns e nas classes ditas regulares onde deve ser desenvolvido o trabalho pedagógico que sirva a todos, indiscriminadamente” (Edler, 1998, p.170). A escola como espaço inclusivo têm sido alvo de inúmeras reflexões e debates. A ideia da escola como espaço inclusivo nos remete às dimensões físicas e atitudinais que permeiam a área escolar, onde diversos elementos como a arquitetura, engenharia, transporte, acesso, experiências, conhecimentos, sentimentos, comportamentos, valores etc. coexistem formando este locus extremamente complexo.  A partir disto a discussão de uma escola para todos tem suscitado inúmeros debates sobre programas e políticas de inserção de alunos com necessidades especiais e sobretudo dos estudantes com deficiência. A grande polêmica está centrada na questão de como promover este processo na escola de forma responsável e competente. Dizendo de outro modo, “pensar na inclusão sem que haja integração psicossocial e pedagógica entre todos os alunos é uma forma requintada e perversa, embora habilmente mascarada, de segregação e de exclusão, apesar de estarem juntos, fisicamente e apenas” (Edler, 1998, p.171).


Ruth Eugênia Cidade é mestre e doutora em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), especialista em Formação de Professores em Educação à Distância pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Educação Física Treinamento Desportivo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmente, atua como docente no Departamento de Educação Física na UFPR.

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