Projeto identifica predileção de alunas e alunos por música para trabalhar conteúdos de arte, como sons e movimentos
Somos educadoras da EMEF Aurélio Arrobas, localizada na zona leste da capital paulista. Em 2019, o 4ª ano do ensino fundamental da escola era composto por uma turma bem heterogênea. Havia 31 estudantes, dentre os quais um aluno com Síndrome de Down e Transtorno do Espectro Autista e cinco estudantes com dificuldades de aprendizagem.
Identificando barreiras
Percebemos que a turma como um todo apresentava muitas dificuldades para manter a concentração e atenção ao longo das atividades. Isso impactava em todo o processo de aprendizagem e se estabelecia como uma barreira ao desenvolvimento de todas e todos.
Diante desse cenário, decidimos que precisávamos eliminar tal barreira. Em articulação com os educadores da equipe escolar e com o Atendimento Educacional Especializado (AEE), pensamos em elaborar um material pedagógico acessível (MPA) que pudesse contemplar todos os estudantes.
Predileção pela música
Como identificamos um interesse latente pela música em toda a turma, consideramos propício trabalhar conteúdos musicais em nossa proposta. Notamos que a atividade musical aproximava os saberes dos estudantes: muitos gostavam de dançar e cantar e se mostravam mais participativos assim. Além disso, percebemos que o trabalho com música e ritmo fazia com que o aluno com TEA conseguisse estabelecer mais contato com os outros estudantes.
A partir dessa observação, começamos a idealizar o nosso material. Fizemos várias tentativas e vários projetos até chegar ao MPA que mais nos agradou. Imaginamos trilhas musicais, dominó com figuras de instrumentos musicais, dado sonoro etc. Mas entendemos que nossa proposta seria mais atraente, e mais acessível a todas e todos os estudantes, com a Caixa de instrumentos musicais.
+ Aprenda a construir a Caixa de instrumentos musicais
A Caixa de instrumentos musicais
A ideia era possibilitar o estudo de instrumentos musicais a partir da interação com as funcionalidades do material. Assim, idealizamos a elaboração de efeitos visuais e sonoros para que os estudantes tivessem um aprendizado mais lúdico e prazeroso.
Em sintonia com o currículo de Arte da cidade de São Paulo, o material possibilitaria a todos o aprendizado de conteúdos musicais e também estimularia a concentração e a participação em grupo, além de potencializar a autonomia e o saber ouvir.
+ Saiba como o material se articula com a BNCC
Elaboração das aulas
A partir da definição do material, elaboramos um plano de aulas para aplicá-lo na disciplina de Arte. Definimos o cronograma da seguinte forma:
A) Atividade 1: assistimos ao vídeo “As famílias dos instrumentos musicais – sopro, corda e percussão” e, em seguida, realizamos uma roda de conversa sobre o conteúdo.
B) Atividade 2: pintamos desenhos de instrumentos musicais, recortamos e fizemos cartazes, separando-os em sopro, corda ou percussão.
C) Atividade 3: assistimos ao vídeo ilustrado da canção “A banda“, de Chico Buarque. Posteriormente, fizemos a leitura compartilhada das estrofes da música e, em seguida, realizamos uma roda de conversa com interpretação da canção. Os estudantes também ilustraram a música em atividade individual.
D) Atividade 4: fizemos uma roda de conversa e apresentamos vários instrumentos musicais para que os estudantes manuseassem e ouvissem o som que produziam.
E) Atividade 5: levamos a Caixa de instrumentos musicais para a turma. A apresentamos aos estudantes para que conhecessem o seu funcionamento, ouvimos os sons que ela produz, reconhecemos os sons dos instrumentos e refletimos sobre a importância do silêncio.
Em grupos, os estudantes escolhiam um participante para adivinhar o som de um instrumento musical presente no MPA e classificá-lo em: sopro, percussão e corda. Um aluno acionava um botão da caixa, correspondente a um instrumento, para que outro, de olhos vendados, descobrisse qual era. Posteriormente, finalizamos a atividade montando uma brincadeira de “vivo ou morto” musical.
Aprendizado significativo e autônomo
O material foi muito importante para o aprendizado dos estudantes e atendeu a todas as nossas expectativas. Notamos ampla apreensão dos conteúdos propostos por todos os estudantes. Eles se mostraram mais autônomos e participaram ao longo de todo o processo.
Percebemos ainda que eles desenvolveram mais capacidade de concentração e escuta, bem como a noção de trabalho em equipe. Todos gostaram muito do material e se demonstraram muito satisfeitos com as atividades propostas.
O uso de elementos visuais, como ícones, e efeitos sonoros facilitaram o processo de assimilação dos conteúdos de música. O material, sem dúvidas, possibilitou um trabalho pedagógico mais lúdico e prazeroso a todos.
Por conta disso, colocamos a Caixa de instrumentos musicais disponível para a utilização por toda a escola. Atualmente, a professora do laboratório de informática a utiliza com os demais estudantes. O material tem potencial para ser aplicado em diversas turmas e séries.
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes Site externoSite externoem parceria com a Fundação LemannSite externo Site extern. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.