Meu relato de experiência como professora, assim como nos demais, também envolve um trabalho com alunos diferentes: sou surda e o meu trabalho consiste em mediar o conhecimento sobre os principais aspectos que envolvem a língua de sinais, e seus usuários, a alunos ouvintes. No começo de 2010, fui contratada pela EAESP – Fundação Getulio Vargas, para ensinar LIBRAS como disciplina eletiva para graduandos em administração. Senti-me honrada com o convite para atuar no primeiro curso de Libras oferecido em uma das mais bem conceituadas instituições de ensino do país e, ao mesmo tempo, preocupada com o conteúdo programático das aulas para este público, pois minha experiência, até então, consistia no ensino da língua de sinais para educadores e profissionais de saúde. Logo nas primeiras aulas percebi que a especificidade da língua nos seus aspectos visuais, atraia a atenção e curiosidade dos alunos diante de possibilidade de uso de outros canais de comunicação de “fala e escuta”, além da boca e ouvido. Aprendem quão significativos podem ser um gesto, um olhar, a força da expressão e, fico feliz quando ao final do semestre alguns objetivos de aprender a língua para “ajudar uma pessoa com deficiência”, são transformados por “compartilhar conhecimentos com a diferença”. Para que as aulas possam ser dinâmicas e produtivas faço uso de inúmeras filmagens, jogos e dramatizações, com o apoio do CTAE – Coordenação de Tecnologia Aplicada à Educação da FGV e faço uso também do ambiente virtual eClass para a prática de discussões sobre diversos temas, já que a barreira linguística dificulta esta prática em sala de aula. Ao final do semestre sempre visitamos uma escola de educação especial, para que os alunos tenham contato com outros surdos e outra realidade social! Sinto-me profundamente realizada no meu trabalho na FGV, sou respeitada como profissional; valorizada no meu trabalho; atendida nas minhas necessidades especiais e, tenho, ainda, a oportunidade de estudar com acompanhamento de intérprete de Libras. O meu exemplo é o maior recado que a FGV poderia dar aos seus alunos no sentido de como integrar um profissional diferente, ao contrário da contratação feita apenas para o cumprimento da Lei de Cotas. Sem essa consciência por parte das instituições todo o trabalho dirigido para a educação dos surdos terá sido em vão.