Marcelo, de 15 anos, possui paralisia cerebral e se locomove com uma cadeira de rodas. Segundo seus professores na Escola Municipal Vicentina Campos Lopes Marinho, em Fortaleza (CE), o jovem era um estudante esforçado e tinha uma boa relação com colegas e funcionários. Sua participação nas aulas de educação física, contudo, se restringia aos momentos teóricos. Isso porque a unidade não dispunha de uma quadra de esportes. Como alternativa, os alunos utilizavam locais da comunidade, como um campo e uma praça. O primeiro espaço, contudo, possuía um terreno irregular e o segundo era muito distante. Devido a essas barreiras, o garoto não conseguia participar das atividades. Diante dessa situação, resolvemos aplicar um projeto de educação física inclusiva que envolvesse a confecção de brinquedos.
Antes de definir as estratégias, tivemos uma conversa com a turmo de 6º ano que o adolescente frequentava para apresentar a proposta e pedir opiniões. Explicamos que nosso objetivo era incluir Marcelo e que precisaríamos do apoio de todos. Os alunos ficaram empolgados e destacaram que seria muito bom ver o colega participando também das aulas práticas.
Para superar a barreira de acesso aos locais, definimos algumas medidas. Caso as atividades fossem realizadas no campo próximo, a turma também se responsabilizaria por conduzir o colega. Para as aulas na praça, que é mais distante, o professor de educação física se comprometeu a levá-lo de carro. O pátio interno da unidade, onde há uma rampa de acesso, seria usado para outras atividades.
Criando os brinquedos
A execução das atividades foi dividida em três momentos: sensibilização, oficinas de confecção de brinquedos e prática de brincadeiras inclusivas. Na primeira etapa, apresentamos a animação “Cuerdas”, que conta a história de uma garotinha e seu amigo com paralisia cerebral e, após a exibição do curta-metragem, fizemos uma roda de conversa. Os alunos associaram a deficiência da criança do vídeo com a de Marcelo e destacaram que juntos poderiam pensar em atividades para sua inclusão. O garoto disse que gostaria muito de participar.
Em seguida, eles sugeriram recursos e jogos para serem usados, tomando como base práticas de aulas anteriores que eles gostariam de compartilhar com o colega cadeirante. Por fim, decidimos confeccionar brinquedos e realizar atividades lúdicas como bandeirinha, cabra-cega, bambolê cooperativo, vôlei com lençol e mãos que ajudam.
As oficinas aconteceram nas duas aulas seguintes. Na primeira, confeccionamos vai e vens e na segunda, pipas. Os estudantes trouxeram garrafas e palitos. A escola e as demais docentes colaboraram com fitas coloridas, cordas, sacos e papéis de seda. A turma foi dividida em duplas e todos foram orientados a se ajudar no manuseio dos materiais. Para montar seu vai e vem, Marcelo segurou as garrafas enquanto seu colega colou as fitas e o cordão. Na oficina de pipas, ele passou a cola e com a ajuda do amigo colou os palitos. Ao final, todos puderam utilizar os brinquedos criados.
Na etapa posterior, reservamos três aulas para a prática das atividades lúdicas escolhidas pela turma. As brincadeiras com cordas, lençol e bolas, por exigirem mais espaço, foram realizadas no campo próximo à escola. Um de nossos alunos com deficiência intelectual montou um balanço em uma árvore para que todos pudessem brincar. Logo depois, fizemos diversos exercícios motores com cordas e bolas. Ao final, reunimos a turma em dois grupos para um jogo de vôlei com lençol. Marcelo participou de todas as brincadeiras com a ajuda de colegas e professor.
Brincadeiras inclusivas
Em outro dia, propusemos a atividade bandeirinha. Para ajudar na locomoção do garoto, um dos colegas ficou responsável por empurrar a cadeira de rodas. O adolescente demonstrou muita empolgação com o jogo. Na última aula prática, eles brincaram de bambolê cooperativo, cabra-cega e mãos que ajudam, na própria sala de aula.
• Bandeirinha: os estudantes foram divididos em duas equipes, cada uma ocupando metade do campo. O objetivo de cada time era atravessar a área do adversário para pegar uma bandeira fixada no fim da quadra. Se um jogador fosse capturado dentro do território da outra equipe, deveria ficar parado aonde estivesse e só poderia ser libertado por outro colega. Ganhava o time que pegava a bandeira e a levava primeiro para seu campo.
• Bambolê cooperativo: de mãos dadas, todos ficavam em círculo. O bambolê deveria passar por cada aluno sem que a roda fosse desfeita. Foi necessário repetir a atividade várias vezes até conseguirmos completar o circuito.
• Cabra-cega: metade dos estudantes foi vendada e a outra metade foi colocada a sua frente. Individualmente, os alunos que estavam sem visão deveriam identificar o colega adiante por meio do toque. Marcelo conseguiu dizer quem era seu amigo e ficou muito empolgado em alcançar o objetivo da brincadeira.
• Mãos que ajudam: colocamos o tatame no chão e pedimos que os alunos deitassem um ao lado do outro com as mãos levantadas. Nesse momento, o garoto passou por cima do grupo, que deveria garantir que Marcelo chegasse ao outro lado da fila. Essa atividade foi bastante intensa, pois foi possível perceber o cuidado da turma e a confiança do estudante em seus colegas.
Acreditamos que as atividades serviram para despertar alunos, professores e equipe gestora da Escola Municipal Vicentina Campos Lopes Marinho. Mesmo diante da falta de uma quadra de esportes e de espaços acessíveis, conseguimos chamar a atenção da comunidade escolar para o tema da inclusão. Nossa intenção é dar continuidade ao projeto no próximo ano letivo e inseri-lo em nosso projeto político-pedagógico (PPP).
Projeto participante do Portas Abertas para a Inclusão 2015.