Escola realiza gincana entre crianças e famílias para se aproximar de comunidade

Após observar o afastamento das famílias da vida escolar de seus filhos, nós, um grupo de educadoras da Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) Juarez Sodré Farias, em Cuiabá, decidimos criar estratégias para atrair mães, pais e responsáveis de volta à unidade. Na época, éramos participantes do curso sobre educação inclusiva Portas abertas, do Instituto Rodrigo Mendes (IRM).

Desafiadas pela proposta da formação de desenvolver atividades físicas que pudessem ser praticadas em conjunto por nossos estudantes com e sem deficiência, e dispostas a reaproximar a comunidade da instituição, elaboramos uma gincana familiar. Por meio da iniciativa, os familiares voltaram à escola, desta vez para brincar com todas as crianças.

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A EMEB Juarez Sodré Farias atendia cerca de 310 alunos da educação infantil nos turnos matutino e vespertino. Quatro deles apresentavam transtorno do espectro autista (TEA) e realizavam o atendimento educacional especializado (AEE) na própria unidade, no horário de contraturno. Todos participaram das brincadeiras da gincana junto com seus responsáveis e colegas.

Momentos de diálogo e diversão com as famílias

A ausência das famílias da vida escolar de seus filhos, muitas vezes, se dá não por falta de interesse, mas de oportunidade. Com o projeto, tivemos a intenção de proporcionar essa chance. Para isso, desenvolvemos estratégias para trazê-los para dentro da instituição de maneira não invasiva. Para todas as ações, pais, mães e responsáveis foram convidados a participar com antecedência, por meio de bilhetes colocados no material dos pequenos.

Nossa primeira iniciativa foi estabelecer momentos de conversas informais com a comunidade sobre assuntos como diferenças, família e escola. No primeiro encontro do “sarau com prosa”, como nomeamos esses espaços de troca, exibimos o clipe “Normal é ser diferente”, de Jair Oliveira, e a animação “Cuerdas”, sobre a amizade entre uma menina e um garoto com paralisia cerebral. Para o segundo sarau, convidamos a mãe de uma de nossas estudantes com autismo. Em seu depoimento, ela contou sobre seu processo de aceitação da deficiência, sua experiência em uma instituição privada na qual a filha era deixada de lado, suas impressões sobre a inclusão na rede pública etc. Durante as conversas, procuramos deixar os familiares à vontade para participar e trocar ideias.

Durante uma festa já tradicional da unidade, aproveitamos para introduzir a participação das crianças no projeto. Nesse dia, orientamos a equipe docente a comandar as seguintes brincadeiras:

Reconhecimento pelo toque

Com os olhos vendados, os alunos tentaram descobrir quem era seu pai, mãe ou responsável por meio do toque no rosto. Em seguida, foi a vez dos adultos identificarem seus filhos.

Estoura balão

Cada jogador carregou um balão amarrado ao tornozelo por um barbante. O objetivo da brincadeira era estourar a bexiga do colega sem deixar que estourassem a sua.

Mímica

Cada participante deveria pegar uma figura de dentro de um saco para fazer gestos para que os outros tentassem adivinhar. Só não valia emitir som.

A gincana familiar

Por fim, realizamos a gincana entre estudantes e famílias. No primeiro dia participaram as turmas de quatro anos dos períodos matutino e vespertino. As atividades com as classes de cinco anos ocorreram no dia seguinte, também nos dois horários. Por não haver uma quadra de esportes na unidade, as brincadeiras aconteceram no pátio.

Durante os quatro momentos de realização da gincana estiveram presentes cerca de 50 familiares, além de toda equipe da escola. Ao longo das atividades, que foram coordenadas pela professora de educação física, tivemos a preocupação em não incentivar a competição. Por isso, embora houvesse quem chegasse primeiro, não valorizamos esses momentos de premiação. Sempre que uma atividade acabava, passávamos rapidamente para a próxima, incentivando a participação e flexibilizando as regras para quem apresentasse mais dificuldade. Ganhar era ter todo mundo se divertindo junto.

Em duplas formadas preferencialmente por um adulto e um aluno, os participantes realizaram as seguintes atividades:

Corrida com os pés amarrados

As duplas percorreram um caminho determinado com os pés amarrados um ao outro.

Corrida do limão

Um dos integrantes da dupla deveria levar um limão equilibrado sobre uma colher até seu companheiro, do outro lado do pátio. Quando a fruta caia, o jogador voltava para o início do percurso.

Cabo de guerra

Dois times, formados pelo mesmo número de pessoas, deveriam puxar a corda para o seu lado.

Passa bambolê

Crianças e adultos ficavam um ao lado do outro de mãos dadas. O objetivo da brincadeira era fazer um arco chegar até a outra ponta da fila sem soltar-se. Para permitir que todos pudessem executar a tarefa, quem tivesse dificuldades ganhava uma segunda chance.

Dança da laranja

Duplas de estudantes deveriam dançar com a fruta presa pelas testas sem deixá-la cair. A flexibilização feita foi manter a brincadeira rolando mesmo quando alguém apoiava a laranja com a mão.

Resultados da iniciativa

Mesmo com uma participação abaixo da nossa expectativa, sentimos que a fala da mãe da aluna com TEA durante o sarau com prosa teve uma repercussão positiva na comunidade. Por isso, temos a intenção de continuar a promover esse espaço de diálogo. Sabemos que a relação com as famílias demanda tempo. Demos a partida, mas é necessário articular e pensar em mais ações.

Projeto participante do curso Portas abertas para a inclusão. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2016.

Comentário

  • Ótima iniciativa!
    A Escola deu o ponta pé para que a família participe da escola junto com o estudante. Este problema é nacional e é necessário repensar nossa prática pedagógica para mudar a realidade.

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