Projeto envolve toda a comunidade escolar para eliminar barreiras ao aprendizado e estimular o protagonismo dos estudantes
A EMEF Adolfina J.M. Diefenthäler está localizada na periferia da cidade de Novo Hamburgo, no estado do Rio Grande do Sul. Temos aproximadamente 765 estudantes matriculados em turmas da educação infantil até o último ano do ensino fundamental. A comunidade do entorno é formada por comerciantes, industriais e trabalhadores informais.
Em 2012, assumi a coordenação pedagógica da escola, juntamente com minhas colegas da gestão. Nesse momento, a unidade tinha inúmeros problemas de ensino e convivência: muitos alunos e alunas apresentavam distorção entre idade e série ou não estavam alfabetizados no ensino fundamental II; o índice de reprovação era alto; a escola apresentava nota baixa no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb); havia histórico de violência entre estudantes; não estava organizada nenhuma metodologia de trabalho coletiva e não havia um olhar crítico sobre todas essas questões.
Realizamos então um diagnóstico inicial e trabalhamos para resolver primeiro os problemas que consideramos mais graves. Dessa forma, ao final do primeiro ano, colocamos em prática duas ações importantes: o estímulo à gestão democrática (por meio de assembleias de familiares, estudantes, professores e funcionários) e o desenvolvimento de uma proposta de aprendizagem que visava minimizar a distorção idade/série e alfabetizar os estudantes mais velhos.
Nos anos seguintes, muitos projetos e ações articuladas aconteceram e foram finalizadas com êxito, mas eram pontuais e não seguiam uma linha condutora que abarcasse toda a diversidade da escola.
Escola inovadora: aprender e compartilhar
Por conta disso, idealizamos um projeto para ser o grande guarda-chuva de todas as ações escolares e identificar os principais problemas da unidade para propor soluções. Foi assim que nasceu o “#aprenderecompartilhar: escola inovadora”.
Nossa pretensão era fortalecer os projetos principais, como a iniciação científica, aprendizagem matemática, gestão democrática e aprendizagem compartilhada; e analisar com mais objetividade as potencialidades e as fragilidades de cada ação, buscando desenvolver novas saídas para as questões levantadas.
Tomamos a responsabilidade de garantir a aprendizagem de todos os estudantes na nossa mão, sem jogar a culpa dos nossos fracassos nas famílias, no sistema educacional ou nos próprios educandos.
Objetivos de conhecimento e BNCC
Nossos objetivos eram conhecer e analisar profundamente a realidade pedagógica da escola e relacioná-la com os índices de aprendizagem. Além disso, pretendíamos desenvolver projetos institucionais direcionados a necessidades específicas da escola, melhorar os registros dos estudantes e oferecer acesso a todos os envolvidos.
Pretendemos ser uma escola na qual todos aprendem e compartilham conhecimento com colegas, professores e com toda a comunidade. Percebemos que o nosso desejo foi devidamente espelhado nas competências gerais da Base nacional comum curricular (BNCC) para a educação básica.
Como o projeto aconteceu na prática
No início de 2018, escrevemos o texto do #aprenderecompartilhar descrevendo todas os projetos executados nos anos anteriores e como eles transformaram a escola e seus atores. As ações para o projeto foram as seguintes:
1) Continuar e ampliar a discussão sobre os projetos institucionais: realizamos reuniões presenciais na escola e, quando necessário, utilizamos planilhas online para dar sequência ao debate.
O projeto que teve uma avaliação e reformulação mais profunda foi o “#foradacaixa”, que consiste em oficinas semanais ministradas por educadores aos estudantes da educação infantil e dos anos iniciais separados por grupos multisseridados. Todos os professores participam ministrando uma oficina por semana.
A circulação dos alunos e dos professores pela escola, promovida pelo “#foradacaixa”, estimulou a convivência entre a comunidade escolar e eliminou barreiras de relacionamento entre estudantes de idades diferentes.
2) Registro de estudantes unificado em planilhas virtuais abertas: construímos e intensificamos o uso de registros compartilhados dos estudantes. O sistema permite que as informações dos alunos não sejam perdidas de ano para ano e possam ser acessadas pelos professores a qualquer momento. As atas de conselho de classe também passaram pelo mesmo processo.
3) Portfólios virtuais para o registro da trajetória dos alunos utilizando o Google sites: iniciamos a construção de sites individuais em que o aluno e sua família podem registrar sua história na escola. Nossos educandos passavam 9 anos ou mais na escola e tudo o que faziam se perdia ao longo do tempo.
Foto 1: Momento de interação de estudantes de anos diferentes. Foto: arquivo pessoal
Foto 2: Conferência escolar com educadores, familiares e estudantes. Foto: arquivo pessoal
Foto 3: Estudantes participam de assembleia. Foto: arquivo pessoal
4) Ampliação do projeto de iniciação científica para os anos iniciais: em pequenos grupos colaborativos, os estudantes dos anos finais do ensino fundamental desenvolvem projeto científico. Anteriormente, os alunos do 5ª ano apenas realizavam trabalhos em suas respectivas turmas. Agora, os 3ª e 4ª anos também participam das atividades.
5) Aprofundamento do projeto de matemática: iniciado em 2016, o projeto pretende favorecer o cálculo mental e a busca por estratégias de resolução de problemas. Percebemos vários resultados positivos, inclusive com um crescimento significativo de acertos dos alunos na prova da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) de 2019.
6) Desenvolvimento das propostas maker dos projetos de iniciação científica: incentivamos a aplicação prática dos trabalhos científicos realizado pelos estudantes dos anos finais. Eles plantaram árvores, incentivaram adoção de cachorros, criaram jogos, fizeram cursos, palestras, seminários e oficinas e desenvolveram aplicativos de celular. Por fim, apresentaram os trabalhos na Feira de Iniciação Científica (FIC).
7) Desenvolvimento de um método de aprendizagem-ensino: os professores dos anos finais estudaram e experimentaram propostas de ensino para desenvolver a autonomia dos estudantes. Em conjunto, idealizaram um projeto que prevê estudo por percursos pedagógicos e orientação à distância, além da escolha individual de aulas dentro de um horário mensal. O projeto foi aplicado de forma piloto e teve o acompanhamento da Secretaria de Educação e do Conselho Municipal de Educação.
Foto 1: Estudantes recebem premiação da Feira de Iniciação Científica Foto: arquivo pessoal
Foto 2: Alunas participam de resolução de problemas do projeto de matemática . Foto: arquivo pessoal
Foto 3: Estudantes apresentam trabalhos na Feira de Iniciação Científica. Foto: arquivo pessoal
Toda a comunidade escolar envolvida no projeto
Toda a comunidade escolar esteve envolvida no processo: professores, funcionários, estudantes e famílias. Cada um participando dentro da sua necessidade ou possibilidade. Nosso projeto foi desenhado para que todos se sintam à vontade para participar e dizer o que pensam.
Ficou a cargo da equipe diretiva e da coordenação pedagógica fazer o trabalho de sustentação das propostas vindas do grupo de professores e dos alunos. Ou seja, criar instrumentos de compartilhamento de informações, fazer as ideias circularem entre os professores, garantir que as decisões de assembleias sejam postas em prática, e dar visibilidade às ações de determinados grupos para que possam ser compartilhadas com todos.
Ainda temos dificuldade em trazer as famílias para a escola, mas criamos alternativas para considerar a opinião dos familiares: criando informativos e bilhetes, movimentando a mídia social e abrindo a escola aos sábados.
Escola em transformação
Em 2018 apenas nove alunos da escola foram reprovados; em 2019, apenas 4. E todas as reprovações foram avaliadas pelo corpo docente. Tanto os estudantes reprovados, quanto aqueles que são avaliados com aprendizagens pendentes recebem acompanhamento pedagógico mais aprofundado no ano seguinte.
Além disso, o Ideb cresceu muito nos anos iniciais, saltando de 5,3 (abaixo da média) em 2013 para 6,4 (igual ou acima da média) em 2017. Já para os anos finais, as notas oscilaram entre 4,4 e 5,3 ao longo do mesmo período.
A partir da análise dos dados e da aplicação de um projeto piloto, os professores dos anos finais discutiram uma nova proposta metodológica para desenvolver mais a autonomia e a autoria dos estudantes. Visto que a forma tradicional que sempre trabalhamos não está operando os resultados esperados, mesmo que seja aplicada com determinação.
A equipe pedagógica da escola está sempre monitorando as aprendizagens e ouvindo os professores. A escuta qualificada das necessidades dos docentes permite que os problemas sejam discutidos por todos em busca de soluções. A autoavaliação é importante e solicitada várias vezes ao ano, tanto para professores, alunos e equipe gestora.
Além dos estudantes, os professores estão muito envolvidos com a execução das tarefas diárias. Isso passa confiança e estabilidade para todos e garante que os projetos não fiquem parados por falta de planejamento.
Joice Lamb é a educadora do ano do Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “#aprenderecompartilhar: escola inovadora”.
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