Giz, pneus usados, garrafa pet, tubos de PVC, fita adesiva. Usando materiais reutilizados como esses, a Escola Terezinha Souza, em Belém (PA), driblou os altos custos associados à prática do tênis e garantiu que estudantes com e sem deficiência vivenciassem juntos o esporte. A iniciativa foi resultado da participação de nossa unidade no curso Portas abertas para a inclusão em 2016, pela segunda vez consecutiva. Um ano após a implementação do circuito de miniatletismo, o desafio era outro: unir professores regentes e do atendimento educacional especializado (AEE) na estruturação de um projeto de minitênis com um recorte inclusivo.
Situada na fronteira entre a capital paraense e a cidade de Ananindeua, a unidade oferecia educação infantil e ensino fundamental para 760 alunos no ano de realização da iniciativa. A direção, constantemente, incentivava a construção de uma cultura cada vez mais inclusiva na escola. Além de abordar a questão diretamente no projeto político-pedagógico (PPP) e nos planos de ação, a equipe gestora oferecia apoio e motivação para o desenvolvimento de ações inclusivas. De modo geral, sempre consideramos as especificidades de turmas heterogêneas e os desafios de uma educação mais participativa.
Mas, apesar desses esforços, a ausência de trabalho colaborativo entre os docentes de sala de aula e do AEE ainda era uma barreira à efetiva inclusão. Com isso em mente, e provocados pela formação oferecida pelo Instituto Rodrigo Mendes, unimos os profissionais da educação física, das artes e do atendimento educacional especializado na elaboração de um projeto de minitênis para todas nossas crianças e adolescentes do ensino fundamental. Doze delas apresentavam algum tipo de deficiência (transtorno do espectro autista, deficiências intelectual, auditiva e múltipla e síndrome de Down e de Turner). Durante meses, elas participaram de atividades de confecção com materiais reutilizados e praticaram o esporte em grupo, cada um conforme suas potencialidades.
Sustentabilidade dos materiais
O primeiro passo foi apresentar o esporte para os estudantes. Na biblioteca da escola, projetamos vídeos sobre o tênis tradicional e a modalidade em cadeira de rodas. Após uma breve conversa, partimos para as vivências iniciais dos movimentos. Com pedaços de papelão, tesoura, fita adesiva e papéis, eles improvisaram raquetes e bolinhas e deram suas primeiras tacadas. Ao final, colocaram uma das mãos dentro de um saco plástico para simular uma limitação e foram desafiados a encontrar outras formas de jogar a partir dessa realidade.
Por fim, a última ação antes da prática do minitênis foi a montagem conjunta do espaço. Sob a supervisão da professora de artes, as crianças e adolescentes deram os retoques finais nas raquetes e dividiram a grande quadra de esportes da escola em “miniquadras” de 3 por 5 metros, desenhando marcações de giz no chão. Essa formação foi escolhida por permitir que um grande número de estudantes pudesse jogar ao mesmo tempo. O docente de educação física furou pneus oferecidos por uma oficina mecânica próxima com faca quente, encaixou tubos de PVC e amarrou neles telas de fios de sisal e nylon para criar a rede que separou os quadrantes. As bolinhas foram compradas pela internet e não tiveram custo elevado.
O minitênis
Antes de cada partida, os jogadores se cumprimentavam, como forma de valorizar o colega. Durante o jogo, cada dupla deveria fazer a bola cruzar a rede para o campo do time adversário. Para fugir do rigor da técnica, os estudantes podiam sacar por baixo e de qualquer lugar na quadra. Também foi permitido rebater a bola mesmo que ela tivesse quicado mais de uma vez. Os movimentos eram revezados, para que todos participassem. Assim, o primeiro jogador sacava e recuava. Quando a bolinha retornava, o segundo executava a tacada e também se afastava. Caso a bola invadisse o campo vizinho, ficou estabelecido que as crianças a deixariam rolar até que parasse, evitando atrapalhar o jogo dos colegas.
Resultados e continuidade
Para os anos seguintes, temos a intenção de prosseguir com a iniciativa, desafiando-os a irem além, partindo do movimento que já conseguem executar. Com relação ao aspecto sustentável, pretendemos adotar o uso de fibra de miriti, uma planta típica da região, na confecção das raquetes, o que irá aumentar sua durabilidade.
Projeto participante do curso Portas abertas para a inclusão. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2016.