Comunicação entre família e escola: ferramentas para o dia a dia

A inclusão educacional traz diversos desafios para a escola, para as famílias, para os profissionais envolvidos no atendimento dos estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades/superdotação e para a sociedade em geral. Um deles é a comunicação. Muitos responsáveis deixam seus filhos trancados em casa, por medo ou por não saberem como lidar com o preconceito, atitude que assusta e segrega os alunos público-alvo da educação especial. Porém, quando existem ações planejadas e compartilhadas por um canal de diálogo eficiente, o trabalho da escola e da família pode se tornar mais consistente e de relevância para a vida dessas crianças e adolescentes.

Para incluir, faz-se necessário conhecer os estudantes, suas condições e, principalmente, a partir de suas potencialidades, oferecer suporte para que aprendizagem aconteça, tanto na sala de recursos multifuncionais (SRM) quanto na sala de aula regular e nos demais espaços escolares. Isso proporcionará a eles mais independência e autonomia para executar tarefas quando estiverem fora de casa ou da escola. Na SRM, os professores do atendimento educacional especializado (AEE) contam com várias possibilidades de ação para criar e fortalecer os vínculos entre os alunos com deficiência e suas famílias, cuidadores e demais profissionais envolvidos nas terapias e atendimentos extraescolares.

 

Cadernos de comunicação

Os cadernos de comunicação apresentam-se como fortes aliados na construção de um diálogo entre todas as pessoas participantes do processo de inclusão. Trata-se de um caderno comum, que é usado coletivamente para registrar e transmitir à família o desenvolvimento da criança. Essa ferramenta permite aos docentes conhecer melhor o estudante por meio de anotações constantes sobre quais atividades realizou ao longo de um dia, quais foram suas reações, que preferências e expectativas demonstrou, o que o incomodou ou o entristeceu, o que o motivou etc.

Para iniciar o uso colaborativo desse meio de comunicação, os professores podem apresentar um modelo já pronto para os familiares. Assim, eles terão mais facilidade para compreender a proposta e se sentirão mais motivados a participar. Depois, pode-se solicitar fotos de momentos importantes da vida do estudante junto de seus parentes, amigos, outros profissionais envolvidos em seu atendimento extraescolar, animais de estimação etc. É importante que as fotos estejam identificadas com o nome das pessoas e qual sua participação na vida do aluno. Isso será indispensável no momento da utilização do caderno na escola ou em outros ambientes.

O caderno é de uso livre. Ou seja, docentes, familiares, médicos, terapeutas etc., devem não só serem informados sobre a iniciativa, mas também convidados a sentirem-se livres para apreciar, opinar e também registrar o que acreditarem ser pertinente. Vale adicionar imagens, escrever à mão, fazer colagens. As informações fornecidas pelos diversos atores do processo de inclusão serão elementos enriquecedores no trabalho com as crianças no AEE.

Um diferencial importante do caderno de comunicação é que sua intenção vai muito além de manter os pais informados sobre as atividades que o estudante realiza. Sobretudo para a família de alunos com dificuldades de comunicação ou mesmo com ausência de fala, os registros podem funcionar como uma “voz” que permitirá aos responsáveis se interessarem em saber como foi o dia, se a criança comeu, se participou de alguma atividade diferenciada durante o período de aula, se interagiu com os professores e de que forma isso aconteceu também com colegas. Há intencionalidade em cada troca de informação e experiências.

 

Ferramenta digital

Minha primeira experiência com o uso de grupos no Whatsapp para dialogar com as famílias aconteceu na escola onde atuo como docente do atendimento educacional especializado, na zona oeste da cidade de São Paulo, no início de 2016. A princípio, as mães levaram um certo tempo para se apropriarem da ferramenta de forma efetiva. Durante meses, elas mais receberam minhas mensagens do que tomaram a iniciativa de escrever algo, seja para me questionar, seja para apresentar sugestões. Nas poucas vezes em que isso ocorreu, elas mostraram-se receosas e se culpavam pela falta de habilidade com o aplicativo. Mas com palavras de ânimo, consegui que a participação fosse aos poucos aumentando.

Os registros enviados para o grupo, em geral, eram sobre as atividades que seus filhos realizavam em tempo real. Conforme ampliava os desafios trabalhados com os estudantes, compartilhava os momentos, a fim mostrar-lhes o quanto os alunos eram capazes. Dois pais manifestaram interesse em participar do grupo, que antes só contava com mães.

No ano seguinte, surgiu a ideia de ampliar esse canal de comunicação. Foram incluídos no grupo professores de sala de aula regular, especialistas, estagiários e auxiliares de vida escolar (AVE) – os profissionais de apoio que acompanham a rotina de alimentação, higiene e locomoção dessas crianças. Com isso, a ferramenta tornou-se um meio de diálogo também entre docentes. Eles passaram a registrar e acompanhar quais conteúdos eram trabalhados em sala de aula, o que fomentou diversas possibilidades de atuação conjunta.

Comprovamos, nesse período, que a utilização de grupos no Whatsapp com parcimônia e bom-senso torna a comunicação mais ágil. As mães e pais trocam fotos dos filhos em atividades extraescolares, tiram dúvidas e por vezes orientam uns aos outros. É gratificante perceber a felicidade dos pais ao receberem mensagens mostrando os estudantes na escola, o que aumenta a confiança da família em relação à escola.

Atualmente, essa ferramenta está sendo aperfeiçoada. Além da troca sobre o dia a dia das crianças, passamos a utilizar o grupo de modo mais formativo, por meio de indicações de vídeo-aulas no Youtube, palestras e cursos sobre pessoas com deficiência e do incentivo ao compartilhamento e busca por informações sobre direitos e legislação. Pequenas ações cotidianas que contribuem para o engajamento e aumento da colaboração das várias pessoas envolvidas no processo de inclusão dos estudantes com deficiência.

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