Como elaborar uma sequência didática baseada no DUA

Confira o passo a passo proposto por Rosana Kelly Baldan para planejar aulas de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental. A abordagem usada pode servir de inspiração para outros componentes

Verificar o conhecimento prévio dos estudantes e quais meios eles costumam utilizar para se informar é essencial para elaborar a sequência didática. Crédito: © Monkey Business Images via Canva.com e arte de Duda Oliveira

Planejar sequências didáticas é sempre desafiador: escolher o tema, definir objetivos e preparar as atividades com intencionalidade e coerência pedagógica. E como fazer isso considerando os princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA)?  

Organizado por pesquisadores do Center for Applied Special Technology (Cast, na sigla em inglês, ou Centro Especial de Tecnologia Aplicada), nos Estados Unidos, o DUA propõe um planejamento que atenda a todos os estudantes. Para isso, segue três princípios orientadores: proporcionar formas diversas de apresentação dos conteúdos, de ação e expressão (para os alunos mostrarem o que aprenderam e o que não aprenderam) e de engajamento e envolvimento das turmas. O raciocínio por trás da metodologia é que, ao oferecer múltiplas opções, é possível atender todos os estudantes, respeitando diferentes maneiras e ritmos de aprendizagem (leia reportagem que explica o conceito) 

É justamente sobre a experiência de colocar de pé uma sequência didática que se trata o projeto de mestrado da professora de língua portuguesa Rosana Kelly Baldan. A dissertação dela, intitulada “Sequência Didática Pautada no DUA na Área de Linguagens e suas Tecnologias”, foi aprovada em 2023 no Programa de Pós-Graduação em Educação Inclusiva da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de Presidente Prudente.  

O produto final do trabalho é o passo a passo da construção da sequência, mostrando a fundamentação teórica apoiada no DUA, listando as diretrizes e os objetos propostos e como fazê-lo e apresentá-lo, além da análise de seus resultados. 

O que considerar para elaborar a sequência 

Rosana recomenda que alguns aspectos técnicos sejam conhecidos do professor no início do processo de construção. “Após a definição do tema e dos objetos de estudo, é preciso ter bem definidos os recursos materiais e o tempo para cada atividade, além de ter o domínio do gênero textual e do assunto, no caso de língua portuguesa.” Ela avalia, com relação à sequência que criou, que o tempo necessário para trabalhá-la, da concepção à avaliação, seja de 25 aulas, ou mais ou menos um mês da disciplina de língua portuguesa. O modelo foi pensado tendo como base os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio.   

Verificar o conhecimento prévio dos estudantes e quais meios que eles costumam utilizar para se informar também é essencial no início do trabalho, correspondente à primeira etapa da montagem.  

Outra dica é pensar quais atividades poderão ser realizadas em paralelo com professores de outras disciplinas, como, por exemplo, história e sociologia, e tentar ajustar com eles para que determinados objetos do conhecimento sejam trabalhados na mesma semana, por meio de um projeto interdisciplinar.  

No caso de Rosana, ela optou pelo gênero texto jornalístico, o que permitiu abordar questões bem contemporâneas, como o conceito de fake news. Ela aconselha reservar o maior número de aulas para a segunda etapa, “a construção propriamente dita”, pois a escolha de objetos, meios e materiais deve contemplar a todos. “É preciso apoiá-los, caminhar junto.”  

Na apresentação dos trabalhos, é necessário levar em conta o que cada um é capaz de fazer, evitando comparações. “Deve-se persistir para que não desistam. Motivá-los é reforçar que são capazes”, afirma a professora. 

Por fim, Rosana alerta para algo que pode parecer trivial, mas não é. “Os alunos que costumam dar mais trabalho são aqueles que mais precisam de suporte. Muitas vezes, eles buscam chamar a atenção de modo negativo, a fim de mascarar alguma dificuldade. Mostrar-lhes que eles têm algo a oferecer é o melhor jeito de evitar a dispersão”, conclui.  

Processo contínuo e coletivo 

O pesquisador espanhol Eladio Sebastián-Heredero conta quais têm sido as estratégias das escolas que estão utilizando o DUA. Ele é autor do livro “Desenho Universal para Aprendizagem (DUA): Uma Abordagem Curricular Inclusiva”, organizado em parceria com Jacqueline Lidiane de Souza Prais e Célia Regina Vitaliano (Editora de Castro, disponível na internet). Segundo ele, ainda não há nenhuma instituição de ensino que esteja trabalhando com o DUA em todos os conteúdos de todos os anos do ensino fundamental e do ensino médio. É preciso ir aos poucos. “[A estratégia é] produzir sequências didáticas e planos de aula, de modo que esse material planejado possa servir [e ser aperfeiçoado] por alguns anos. Esse é um trabalho que se faz em equipe, sem dúvida. Eu planejo uma determinada sequência didática e a aplico. Vejo o que acontece, analiso”, afirma. “Posso preparar uma sequência por bimestre, uma com cada um dos diferentes componentes curriculares, o que significa que no primeiro ano já tenho quatro por componente. No próximo ano, trabalho outros quatro. E assim por diante, até que complete todo o meu planejamento. E, ao mesmo tempo, serve para fazer uma pesquisa/ação, presente nas escolas brasileiras e em outros lugares, para aprimorar esse trabalho. Isso servirá ao longo dos anos”, completa (leia entrevista com Eladio na íntegra).  

A sequência compartilhada pela professora Rosana é, portanto, um estímulo para iniciar esse processo. “Cabe destacar que a proposta não é um roteiro pronto para ser reproduzido incondicionalmente, pelo contrário”, ressalta. “Ao compartilhar a sequência didática desenvolvida, busca-se demonstrar que é possível levar os princípios e diretrizes do DUA para a sala de aula e inspirar outros educadores a refletir como essas ferramentas podem ser utilizadas no planejamento e no trabalho diário em sala de aula, defende a pesquisadora. 

 

 

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