5 livros para entender mais sobre capacitismo
Confira sugestões que ajudam a compreender o conceito e a ampliar o repertório de estratégias para combater o preconceito em relação às pessoas com deficiência
Capaz, no dicionário, é aquele que pode, que possui qualidades necessárias ao desempenho. Não há nenhuma especificação a respeito de critérios para identificar quem é capaz ou não de ser ou fazer algo, até porque isso envolveria muitas variáveis. No entanto, da definição teórica à realidade imposta pelo cotidiano, há quem não hesite em predeterminar e julgar quem é ou não capaz. Quando quem está no centro da questão é uma pessoa com deficiência, muita gente entra nesse grupo de juízes e adota posturas e atitudes de preconceito e discriminação. A isso, dá-se o nome de capacitismo.
Combater esse tipo de preconceito, que muitas vezes pode ser atravessado também por questões raciais, sociais ou de gênero, é um processo que demanda entender melhor o que é capacitismo e como ocorreu o desenvolvimento histórico da luta das pessoas com deficiência, bem como reavaliar atitudes e comportamentos. Para os profissionais da educação, é preciso refletir a respeito das práticas pedagógicas e das mudanças necessárias para caminhar em direção a uma educação efetivamente inclusiva.
Para colaborar com esse aprendizado, o DIVERSA pediu a um grupo de educadoras e de ativistas que indicasse livros a respeito do tema e contasse o porquê de cada escolha. Uma das obras foi apontada por duas pessoas. Confira a seguir as sugestões, que incluem títulos de estilos e gêneros diferentes para abordar os muitos aspectos da luta anticapacitista. Boa leitura!
1 – Capacitismo: Que Bicho é Esse?, de Antonio Silva, com ilustrações de Adão Silveira de Lima Júnior, editora Uiclap, 2024.
Quem indica: Priscila Siqueira, psicóloga, ativista e fundadora da ONG ValePCD, que oferece apoio psicoterapêutico à população LGBT+ [lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, dentre outras sexualidades e identidades sexuais e de gênero] com deficiência e consultoria sobre acessibilidade e diversidade para empresas.
“Este livro traz uma leitura superacessível e descomplicada sobre o tema, perfeita para quem está começando a estudar esse assunto tão importante. Foi o último livro que li, e acho que todo mundo deveria conhecer. Cada página te faz refletir sobre a importância de rever atitudes e comportamentos. E o melhor de tudo é que foi escrito por uma pessoa com deficiência especialista no assunto. Uma leitura para quem quer não apenas se informar, mas também apoiar a arte def [produção artística de pessoas com deficiência].”
2 – O que é Deficiência, de Debora Diniz, editora Brasiliense, 2007.
Quem indica: Nathália Meneghine, professora regente e também do atendimento educacional especializado (AEE) na Escola Municipal (EM) Professor Oswaldo Velloso, em Juiz de Fora (MG).
“É uma leitura fundamental para quem está iniciando os estudos da deficiência, pois permite compreender os processos históricos que nos conduziram até a construção do modelo social de compreensão da deficiência [norteador da legislação atual brasileira]. A autora, que é professora e antropóloga, discorre de modo acessível sobre essa travessia, desbastando conceitos e indicando as distinções conceituais entre os modelos médico e social.”
Quem indica: Paloma Santos, ilustradora, fez a charge para a reportagem Capacitismo: o que é como a escola deve enfrentá-lo.
“Apesar de não ser tão recente, é uma obra muito importante, pois traz muitos dos conceitos que usamos até hoje. É um livro curto, mas muito educativo. Com certeza é um ótimo lugar para começar a entender e se aprofundar mais sobre a história e a luta das pessoas com deficiência.”
3 – Capaz, de Emília Nuñez, com ilustrações de Paloma Santos, editora Tibi, 2024.
Quem indica: Paloma Santos, ilustradora.
“‘Capaz’ foi escrito pela Emília Nuñez e ilustrado por mim. É um livro infantil que celebra a diversidade, a inclusão e a construção de uma sociedade anticapacitista, especialmente nas escolas. A obra destaca a importância de itens de acessibilidade, como piso tátil e escrita em Braille, e enfatiza que tanto adultos quanto crianças podem mudar a vida de alguém por meio de suas ações.
Para mim, foi muito importante ilustrar algo assim, pois, sendo uma mulher com deficiência, tive uma infância repleta de desenhos, livros e personagens que não me representavam. Cresci com a sensação de que não parecia possível existir com o meu corpo, já que ele não era visto e representado em lugar nenhum. Agora, como ilustradora, tenho a possibilidade de desenhar novos mundos e possibilidades para as crianças. Espero que, em algum nível, todas elas consigam se sentir representadas.”
4 – Estudos da Deficiência na Educação: Anticapacitismo, Interseccionalidade e Ética do Cuidado, organizado por Solange Cristina da Silva, Rose Clér Estivalete Beche e Laureane Marília de Lima Costa, editora Udesc, 2022.
Quem indica: Francisca Geny Lustosa, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Grupo Pró-Inclusão: Pesquisas e Estudos sobre Educação Especial, Inclusiva e Alfabetização, Práticas Pedagógicas e Formação de Professores/CNPq. É membro da Comissão de Direitos Humanos da UFC.
“O livro reúne um conjunto de 12 artigos, com foco nos estudos feministas da deficiência e nos estudos da deficiência na educação. É uma obra potente, de autoria de pesquisadores com e sem deficiência unidos no desejo de construir um mundo e uma escola mais justos e igualitários. As reflexões produzidas indicam a necessidade de analisar a deficiência a partir de uma perspectiva interseccional e do cuidado como necessidades e direitos humanos.
Que este livro e os escritos de seus autores nos inspirem no processo de defesa inegociável da educação inclusiva e de qualidade, em todos os níveis de ensino, como um convite ao leitor para comprometer-se com o respeito e com a emancipação humana, além do enfrentamento a todas as formas de opressão e/ou presunção de incapacidade.”
5 – Inclusão: O Olhar que Ensina! A Construção de Práticas Pedagógicas de Atenção às Diferenças, de Francisca Geny Lustosa e Rita Vieira de Figueredo, Edições UFC- Imprensa Universitária, 2021.
Quem indica: Disneylândia Maria Ribeiro, professora do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ensino e coordenadora do curso de Pedagogia do Campus Avançado de Pau dos Ferros, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Capf/Uern). Atuou como professora da educação básica no período de 2006 a 2010, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental.
“Nesta obra, as autoras sistematizam as reflexões advindas de uma pesquisa-ação colaborativa, implementada no decurso de três anos junto a um grupo de professoras de uma escola pública municipal de Fortaleza [CE], e apresentam todo o movimento de mudança e da transformação das práticas pedagógicas desenvolvidas nesse contexto educativo.
O título do livro se volta para duas dimensões: o quanto aprendemos quando nos constituímos como professores orientados por princípios inclusivos e como ensinamos mais e melhor aos nossos estudantes com e sem deficiência quando nossos referenciais aspiram ‘ensinar a turma toda’, sem exclusão ou qualquer outra negação de direitos e de oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento, pela organização de práticas educacionais e pedagógicas não capacitistas e de justiça social.
Esta obra é um material valioso em transfiguração do espaço pedagógico em todas as dimensões. Apresenta concepções e situações didáticas, que nos desafiam cotidianamente a combater a exclusão e a “orquestrar” práticas de atenção aos estilos e ritmos de aprendizagem dos estudantes, ao trabalho com centros de interesse e iniciativa dos estudantes e à gestão da sala de aula.”