Personagens com deficiência na literatura: 17 livros para apresentar a crianças e jovens
Sugestões podem ser usadas por educadores e famílias para mostrar diferentes formas de ser e estar no mundo, o que ajuda a construir uma sociedade mais empática e consciente

A literatura é uma janela para o mundo e, para muitas crianças e adolescentes, também pode ser um espelho. Ao apresentar a elas histórias com protagonistas diversos, que vivem diferentes formas de ser e estar no mundo, educadores e famílias ajudam a construir uma sociedade mais empática, respeitosa e consciente. Livros que trazem personagens com deficiência, por exemplo, cumprem um papel fundamental: mostram que todos têm voz, desejos, sonhos e potências — e que a deficiência não deve ser vista como limitação, mas como parte da diversidade humana.
Doutoranda em literatura e crítica literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e curadora na A Taba, Denise Guilherme afirma que “pessoas com deficiência precisam ser reconhecidas socialmente, e um dos caminhos para isso é se verem representadas de diferentes maneiras: nos lugares, nas propagandas, nas artes em geral e, claro, na literatura. Ter livros com personagens com deficiência é uma forma de dizer que essas pessoas existem, têm voz e têm histórias que merecem ser contadas. E essas histórias não precisam, necessariamente, girar em torno da deficiência”.
A jornalista Marta Avancini sabe bem a importância disso. Ela conta que ver a filha, uma pessoa com Síndrome de Down, se sentir representada na capa de um livro foi um dos momentos mais marcantes de sua trajetória como mãe. “Eu sempre tive muitos livros infantis em casa, incluindo vários da escritora Cláudia Werneck, e nunca vou me esquecer de um dia em que a Zoë, na época com seis anos, pegou o ‘Meu Amigo Down em Casa’, olhou para a capa, apontou para o rosto do personagem e disse: ‘Eu sou igual a ele’. Aquilo foi muito forte. Foi ali que ela se reconheceu como uma pessoa com síndrome de Down”, lembra.
Enxergar o mundo para além das fronteiras
Para Katia Chiaradia, autora de materiais pedagógicos e pesquisadora de literatura, os livros com personagens com deficiência são essenciais também para a formação de pessoas sem deficiência. “Uma das coisas mais bonitas que a literatura faz com a gente é abrir os nossos olhares para o mundo, abrir a nossa capacidade de enxergá-lo para além das nossas fronteiras. Um mundo sem pessoas com deficiência não é um mundo real, mas limitado. Por isso é importante que a gente veja, conviva, entenda, se relacione e pense novas maneiras de perceber o outro”, observa.
Pensar em cada um desses pontos é apenas um primeiro — e importante — passo, segundo Denise. “Precisamos, enquanto sociedade, avançar para uma discussão em que pessoas com deficiência também sejam autoras e produtoras de literatura. E que a literatura as considere como leitoras. Ou seja, é necessário construir uma ideia de literatura em que ‘todos’ signifique, de fato, todos”, ressalta a especialista.
Para colaborar com essas reflexões — dentro e fora da sala de aula —, o DIVERSA preparou uma lista de livros com a ajuda das especialistas em literatura infantojuvenil, uma mãe de uma estudante com deficiência e representantes de duas organizações: a Mais Diferenças e a Fundação Dorina Nowill para Cegos. Confira as dicas a seguir e boa leitura!
“O livro narra a história de uma menina cuja rotina muda com a chegada do irmão em casa. Essa segunda criança é retratada de forma que não fica claro qual é o diagnóstico dela — aliás, a obra nem foca nisso —, mas é evidente que ela precisa de cuidados diferentes da maioria das crianças. O que acho interessante é justamente a adoção do ponto de vista da irmã. Toda criança, quando ganha um irmão mais novo, tem dúvidas sobre quem é esse novo alguém e também algumas expectativas sobre como será a vida a partir dessa chegada. Nesta história, o irmão é uma criança que tem comportamentos diferentes: ele sai, volta, chora, se agita, desaparece e reaparece de maneira misteriosa. A irmã não entende exatamente o que está acontecendo com ele, mas aos poucos esse estranhamento inicial vai sendo transformado. Ela começa a tentar encontrar um lugar para ele na vida dela. Vai percebendo que ele não faz algumas coisas que talvez fossem esperadas para crianças da idade dele, mas que faz outras — e, nesse jogo, nessa relação que ela vai construindo, surge um vínculo, um lugar de irmandade. Por que eu gosto tanto deste livro? Porque ele discute a questão da diversidade de uma forma que pode ser aplicada a qualquer situação. Toda criança, ao esperar um irmão, cria expectativas — e essas expectativas nem sempre são correspondidas. A convivência mostra que o vínculo se constrói justamente com aquele que é diferente do que imaginávamos. Isso vale não só para pessoas com deficiência, mas para qualquer pessoa que seja diferente daquilo que esperávamos.”
![]() |
Menino baleia, de Lulu Lima, com ilustrações de Natália Gregorini, Editora Mil Caramiolas, 2021
Quem indica: Denise Guilherme |
“Esta é a história de um menino chamado Roger que, segundo o narrador, tem ‘olhos de baleia’ — e o texto diz que ele carrega uma enorme baleia dentro dele. Acho interessante como a Lulu Lima cria essa metáfora da baleia: um ser profundo, submerso, gigante, que vive dentro de Roger. E essa baleia tem vontades que os meninos, em geral, não têm. As ilustrações da Natalia Gregorini, que são lindíssimas, ajudam muito a contar a história. Elas mostram que esse menino tem um grande interesse por certas coisas, que ele gosta de ordenar os objetos e de organizar o mundo ao redor. São características que podem nos sugerir que ele está dentro do espectro autista, mas isso não é dito diretamente. Ao longo da narrativa, a autora vai mostrando comportamentos comuns entre as crianças e aquilo que Roger não faz — não porque esteja errado, mas porque ele é um menino que tem uma baleia dentro de si, um mar de silêncio. Ele gosta de ouvir o silêncio e prefere ficar um pouco mais afastado, longe do barulho. Às vezes, uma criança se aproxima dele; outras vezes, não. E isso também é parte da história. Há uma cena muito interessante sobre o aniversário dele. Ele quer receber os amigos, e as ilustrações da Natalia trazem um cuidado muito especial: ela representa crianças com deficiência, crianças negras, diferentes tipos de corpos — uma diversidade visual muito rica. Só que, na festa, o excesso de ruído provoca um estranhamento nele, e ele precisa buscar um lugar de respiro. O texto e as imagens trabalham juntos para construir essa metáfora: como essa criança lida com o seu mundo interior e com o mundo exterior, que às vezes é muito agressivo à sua sensibilidade. A melhor amiga dele aparece como uma ponte entre esses dois mundos, ajudando nessa mediação. A autora mostra, com delicadeza, uma maneira diferente de se relacionar com o mundo e com os sons. A metáfora da baleia é muito bonita, e as ilustrações, ao mostrar uma diversidade de corpos, enriquecem o repertório visual das crianças e ampliam o olhar delas sobre o que é humano, sobre como podemos ser diferentes — e isso também é formação leitora.”
![]() |
Não somos anjinhos, de Gusti Rosemfett, Editora Solisluna, 2018
Quem indica: Denise Guilherme |
“O livro é de um autor argentino chamado Gusti, com tradução de Cisa Fittipaldi. Gusti é pai de uma criança com Síndrome de Down. Acho brilhante a forma como ele lida com os estereótipos que costumam cercar as pessoas com deficiência — especialmente as crianças. A história é narrada pela própria criança com deficiência. Ela começa contando que, quando nasceu, os pais não entendiam muito bem o que estava acontecendo, porque ela era diferente das outras crianças. Então ela explica que tem um ‘cromossomo meio maluquinho’. Ao longo da narrativa, o autor brinca com frases que os pais de crianças com deficiência ouvem com frequência, como: ‘Ah, vocês são abençoados!’, ‘Esse filho é um presente de Deus!’, ‘Ter uma criança assim é uma missão!’. E também clichês como: ‘Essas crianças são muito carinhosas’, ‘São uns anjinhos’, como se fossem seres especiais e sem defeitos. E é aí que o protagonista afirma: ‘Não, a gente não é anjinho!’. O livro vai mostrando, de maneira muito divertida e irônica, que esse menino faz tudo o que as outras crianças fazem. Ele faz xixi no lugar errado, apronta, briga e desobedece aos pais. Ele é, antes de tudo, uma criança — como qualquer outra. O texto funciona quase como um manifesto. Ele desmonta esse imaginário que coloca as crianças com deficiência em um pedestal de pureza ou bondade absoluta. As ilustrações, que têm um humor muito afinado com o texto, trazem camadas extras: às vezes complementam o que está sendo dito, outras vezes criam contrastes que enriquecem a leitura. É um livro importante porque mostra que não precisamos fingir que todo mundo é igual — mas sim entender que as crianças são diferentes entre si, e que as crianças com deficiência também são crianças. Isso pode parecer óbvio, mas ainda é uma batalha para muitas famílias, porque, socialmente, essas crianças muitas vezes são colocadas fora da experiência da infância. E isso não é verdade. Elas têm direito à infância, ao brincar, à imaginação, a viver a vida com toda a intensidade que a infância permite.”
![]() |
O mundo de Arturo, de Roberto Parmeggiani, com ilustrações de João Vaz de Carvalho, Editora Nós, 2016
Quem indica: Denise Guilherme |
“Baseado na experiência do próprio Roberto, que é italiano, trabalha com crianças com deficiência e foi, ele mesmo, uma criança que demorou muito para aprender a ler e escrever, a obra conta a história de Arturo, um menino que não consegue ler da mesma maneira que os colegas. A gente, como adulto, logo percebe que ele tem dislexia, mas o livro não nomeia isso diretamente. O que aparece com força é o medo, a vergonha que ele sente, a dificuldade de se expressar, o desejo de desaparecer e o sofrimento por não entender as palavras escritas. Arturo se sente diferente, deslocado, e acaba sendo alvo de bullying na escola. As outras crianças tiram sarro dele, o que só aumenta o seu sofrimento. Mas tem um personagem fundamental nessa história: o tio de Arturo. É esse tio que, ao ver o menino trocando palavras, diz para ele: ‘Você é um poeta’. E, a partir daí, ele começa a apresentar para Arturo uma outra perspectiva — ele conta, por exemplo, a história de Dom Quixote, fazendo uma associação entre o olhar diferente de Arturo e a maneira única de ver o mundo que o personagem de Miguel de Cervantes tem. O que o tio propõe é uma inversão muito bonita: aquilo que muitos veem como erro ou deficiência, ele vê como poesia. É uma mensagem potente — a de que olhar o mundo de um jeito diferente pode ser também uma forma de criar, de imaginar e de reinventar. As ilustrações são belíssimas e dialogam com essa sensibilidade do texto. O mais interessante neste livro é justamente esse deslocamento de foco: não é a pessoa que tem uma deficiência — é o mundo que falha em acolher a diferença, que tem uma deficiência em aceitar quem não se encaixa num padrão. Geralmente, esse padrão está vinculado à ideia de produtividade. Tudo o que escapa disso, seja física ou cognitivamente, passa a ser considerado uma deficiência. E isso, para mim, é uma grande mentira do capitalismo — algo que a gente precisa começar a questionar. ‘O mundo de Arturo’ é um livro sobre isso: sobre perceber que, onde muitos enxergam um obstáculo, pode haver poesia, criatividade e imaginação. E que é possível — e urgente — inventar um mundo, e uma escola, em que isso seja reconhecido e celebrado.”
![]() |
Meu amigo Down em casa, de Claudia Werneck, Editora WVA, 2000
Quem indica: Marta Avancini, jornalista, editora pública na Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), coordenadora-geral da Fundação Síndrome de Down e integrante do Comitê de Comunicação da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD). |
“‘Meu amigo Down em casa’ faz parte de uma série de livros de Cláudia Werneck, que é uma jornalista e ativista importantíssima. Desde os anos 1990, ela trabalha com as questões da deficiência e, hoje, está à frente da Escola de Gente, uma organização que tem um papel fundamental na luta por inclusão e acessibilidade. Eu tinha este e outros livros dessa coleção desde que minha filha era pequena. Zoë nasceu em 2006, então, por volta de 2010, 2011, eu já procurava livros que tratassem de forma respeitosa e afetiva a deficiência. Não era fácil encontrar, e as obras de Cláudia foram um achado. Eu sempre tive muitos livros infantis em casa, e esses estavam lá, entre os outros, disponíveis para ela.
Nunca vou me esquecer de um dia em que Zoë, com seis anos, estava no quarto mexendo nos livros. Ela pegou ‘Meu amigo Down em casa’, olhou para a capa — na qual aparece um menino com traços típicos de pessoas com síndrome de Down — e apontou para o rosto do personagem, dizendo: ‘Eu sou igual a ele’. Aquilo foi muito forte. Para mim, foi um momento decisivo. Foi ali que ela se reconheceu como uma pessoa com síndrome de Down.
E isso mudou muito a forma como eu, como mãe, comecei a lidar com a questão. A gente sempre fica na dúvida: falo ou não falo? Trato com naturalidade ou evito? Será que vai trazer peso? São dúvidas que passam pela cabeça de muitas mães — pelo menos passavam pela minha. Mas, a partir desse momento de identificação dela com o personagem do livro, eu fiquei mais tranquila. Comecei a incorporar o tema no nosso dia a dia com mais naturalidade, e isso fez toda a diferença. Hoje, com 18 anos, Zoë se reconhece como uma pessoa com síndrome de Down.
Recentemente, ela teve uma situação na escola em que um colega a chamou de ‘Down’ em tom pejorativo, e ela não teve dúvidas: defendeu-se, posicionou-se com firmeza e disse: ‘Eu tenho síndrome de Down e estou feliz do jeito que eu sou. Gosto de ser como sou’.
A gente nunca vai saber exatamente o que marca uma pessoa, mas tenho certeza de que a abertura que o livro trouxe, essa possibilidade de representação e de identificação, teve um papel essencial para que ela chegasse a esse lugar de aceitação e autoestima. Foi um livro muito importante para mim — e para nós.”
“Este é um dos meus livros preferidos, justamente porque foi escrito por uma pessoa com deficiência, mas o assunto dele não é a deficiência. Acho isso incrível. Livros assim são muito importantes porque mostram personagens com deficiência vivendo outras histórias, sem que isso seja o foco ou a única característica deles. ‘O que aconteceu com você?’ é sobre um menino que está brincando no parquinho, e aí começa aquela curiosidade das outras crianças. Ele, que tem uma perna, responde com as explicações mais criativas e divertidas! Inventa histórias: “Eu estava lutando com um pirata e o tubarão me pegou!”. Vai contando várias versões, e tudo com muito bom humor. O livro é muito bonito, tem uma narrativa divertida e um trabalho de ilustração superinteligente, especialmente na escolha das cores. Quando ele está contando as histórias imaginárias, a paleta de cores é uma. Já quando ele está ali no parquinho, vivendo a cena real, as cores são outras. Esse recurso visual funciona super bem para as crianças, ajuda a diferenciar os momentos e instiga a imaginação. É um livro sensível, divertido e, acima de tudo, muito bem construído, sem reforçar estereótipos ou colocar a deficiência como centro da narrativa.”
![]() |
Mamamóvel, de Lucy Catchpole, com ilustrações de Karen George, Editora L&PM, 2025
Quem indica: Katia Chiaradia |
“Outro livro que eu adoro é ‘Mamamóvel’, escrito pela Lucy Catchpole, esposa do James Catchpole e também uma pessoa com deficiência. Ele é uma graça e tem algo que eu acho muito especial: a história é contada do ponto de vista de uma criança bem pequena. Na narrativa, essa criança vai descrevendo os carros da família. Ela fala, por exemplo, que o carro do pai é ‘assim e assado’, e a gente percebe que é um carro adaptado, porque o pai tem uma perna. E aí, quando fala da mãe, ela diz que o carro é a cadeira de rodas. E é isso: simples, direto, com aquele olhar infantil que naturaliza tudo de um jeito muito bonito. É muito fofo! O que eu mais gosto tanto neste quanto no outro livro do casal é que a deficiência não é o tema central. Ela está ali, faz parte da história, mas não define os personagens. E isso é muito bonito. São livros delicados, sensíveis, que tratam da diferença com naturalidade.”
![]() |
Lalá é assim: diferente, igual a mim, Lak Lobato, Editora Sobretom Comunicação, 2020
Quem indica: Katia Chiaradia |
“Escolhi este livro porque ele trata de um tema raramente abordado na literatura infantil: uma forma específica de lidar com a surdez. Quando se fala em crianças surdas, geralmente a conversa gira em torno de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), mas esta obra apresenta outra possibilidade: a Lalá, personagem principal, é uma menina surda que usa implante coclear. Por isso gosto tanto: ela mostra, de maneira sensível, que o implante coclear é uma possibilidade real. E mais do que isso, mostra que existem diferentes formas de ser surdo, de se comunicar e de viver. É uma história que amplia repertórios.”
![]() |
O menino e a gaivota, de Ana Paula de Abreu, com ilustrações de Ana Cardia, Editora Troinha, 2023
Quem indica: Katia Chiaradia |
“‘O menino e a gaivota’ eu conheci recentemente, e as ilustrações são um verdadeiro desbunde: são lindíssimas, absolutamente encantadoras. A deficiência não está em primeiro plano na narrativa, mas a gente percebe que ela está presente em tudo. A história é sobre um menino que faz uso de cadeira de rodas, muito sensível, artístico, que sonha bastante. O livro transita muito bem nesse limiar entre sonho e realidade. É uma obra belíssima, mas, ao mesmo tempo, um pouco fraturante. Há algo ali que merece atenção. O menino, nos sonhos, anda e até voa. E isso me deixa com certo incômodo, porque fico pensando se essa é, de fato, uma forma potente de ajudar as crianças a lidarem com a deficiência. De todo modo, é um livro muito bonito, visualmente impactante e sensível. Mas é importante que a leitura seja feita com uma mediação cuidadosa, para abrir espaço para essas reflexões também.”
![]() |
Quando as mãos podem falar, de Filipe Macedo, com ilustrações de Amma, Editora Ciranda na Escola, 2024
Quem indica: Katia Chiaradia |
“O autor deste livro não é uma pessoa com deficiência, mas se envolveu com Libras e passou a escrever sobre esse universo. A história gira em torno de uma menina que começa a perder a audição. A família vive em uma região muito distante, em uma cidade com poucos recursos. Mais adiante, com a ajuda de várias pessoas, mãe e filha conseguem ir para uma cidade maior, onde encontram um centro especializado. A história é inspirada na vida de duas alunas do autor. Naquele local, a menina conhece uma garota um pouco mais velha, que acaba se tornando uma espécie de mentora para ela. As ilustrações também são muito bonitas — feitas por uma ilustradora que eu adoro, Amma. É um livro de que gosto bastante, talvez o melhor do autor, mas também carrega um aspecto que considero fraturante. Me incomoda o fato de que, para que a menina tenha acesso ao atendimento no centro especializado, o poder público não esteja presente. Tudo depende de uma rede de ajuda informal, de solidariedade. Isso pode, sim, ser lido como uma denúncia — e é importante que seja —, mas também revela algo duro: se não houver alguém para ajudar, para arrecadar dinheiro, essa criança simplesmente não terá acesso ao que precisa. Por isso, acho que o livro exige uma mediação cuidadosa, sensível, para que esse ponto não passe despercebido.”
“Este livro apresenta a trajetória inspiradora de um dos maiores cientistas da história, convivendo com esclerose lateral amiotrófica (Ela). A linguagem é simples e acessível para o público infantojuvenil, e o conteúdo mostra como a deficiência não o impediu de contribuir significativamente para a ciência. É interessante porque convida os jovens leitores a refletirem sobre superação, inteligência e persistência, além de naturalizar o uso de recursos de acessibilidade, como a comunicação assistiva.”
![]() |
Beethoven, de Claudio Maroto, com ilustrações de Eduardo Vetillo, Coleção + Inclusão, Editora Mostarda,2023
Quem indica: Perla Assunção |
“Beethoven é uma figura conhecida mundialmente, e a forma como a coleção aborda sua surdez progressiva e sua genialidade musical é tocante e educativa. A obra mostra que a deficiência auditiva não impediu o compositor de criar algumas das peças mais emblemáticas da música clássica. O livro também ajuda a desmistificar a ideia de que limitações físicas ou sensoriais são sinônimo de incapacidade, valorizando o potencial e o legado de pessoas com deficiência. Tanto este título, como o sobre Stephen Hawking, também nos chamam a atenção, pois são obras que já ‘nasceram’ acessíveis e só existem no formato braile tinta para aquisição.”
![]() |
Nori e eu, de Masanori Ninomiya e Sonia Ninomiya, Editora WMF Martins Fontes, 2019
Quem indica: Denise Guilherme |
“Outro livro muito legal, voltado para leitores mais experientes — adolescentes, principalmente — é ‘Nori e eu’. Ele conta a história de uma família formada por Sônia, a mãe, e seu filho, Nori, que está dentro do espectro do autismo. Nori foi diagnosticado por volta dos quatro anos e começou a falar apenas aos 12. Mas, desde muito pequeno, ele já se expressava com muita força por meio dos desenhos. Ele tem uma habilidade impressionante com imagens, e essa expressão visual é central na narrativa. O que torna este livro especial é a estrutura: a história é contada a partir de dois pontos de vista — o da mãe e o do filho. Ambos são autores do livro, e Nori ilustra as duas versões. A gente acompanha o desenvolvimento dele, o seu desabrochar na adolescência, suas dúvidas, seus questionamentos, e como ele se relaciona com o mundo sendo uma pessoa autista. É um livro sensível, potente e que dá voz real à vivência da neurodivergência.”
![]() |
Não era você que eu esperava, de Fabien Toulmé, Editora Nemo, 2017
Quem indica: Denise Guilherme |
“‘Não era você que eu esperava’ é uma obra autobiográfica que narra a experiência do autor ao descobrir que sua filha vai nascer com Síndrome de Down. O livro é muito sincero e, por isso mesmo, impactante. Ele começa expondo, como o título já sugere, um estranhamento inicial, a frustração diante da idealização de uma criança que não veio como ele imaginava. Mostra o quanto esse tipo de sentimento pode estar presente nas famílias, embora seja muitas vezes silenciado por medo de julgamento. Há um momento que me emociona muito, quando ele diz: ‘Não era você que eu esperava, mas fico feliz que você tenha vindo’. Esse trecho resume lindamente o processo de transformação dele como pai. O livro é dividido em capítulos que acompanham a trajetória da família desde a descoberta da síndrome até os três anos da filha. A narrativa mostra como ele vai, pouco a pouco, se apropriando dessa experiência da paternidade, com todos os desafios e aprendizados que ela traz. É uma leitura muito bonita, tocante e verdadeira. E embora seja indicado para adultos, acho que leitores jovens, a partir de 15 ou 16 anos, também podem se interessar e se envolver bastante com a história.”
![]() |
Daniel e o mundo do silêncio, de Walcyr Carrasco, Editora Ática, 2011
Quem indica: Guacyara Labonia Guerreiro, coordenadora pedagógica da Mais Diferenças |
“Este livro conta a história de um menino de sete anos que ficou surdo por conta de uma infecção e que, a partir desse momento, aprende a se comunicar em Libras. A história aborda temas fundamentais quando fala sobre a inclusão nas escolas regulares, a importância da Libras, a relação da deficiência com as barreiras ambientais, além do respeito às diferenças e dos direitos para que as oportunidades sejam equiparadas para todas as pessoas.”
Este título está disponível gratuitamente na Biblioteca Virtual MD.
![]() |
Tom, de André Neves, Editora Projeto, 2012
Quem indica:Guacyara Labonia Guerreiro |
“‘Tom’ é um livro que traz a história sensível da relação de dois irmãos. Um deles, o autor, de forma sutil e delicada, narra a maneira diferente do irmão de ver e estar no mundo. Sem estranhamentos com as formas e jeitos de se relacionar com pessoas e objetos, André Neves reforça que não existem dois mundos, mas um único onde cabem todas as diferenças.”
Este título está disponível gratuitamente na Biblioteca Virtual MD.
![]() |
Serei sereia?, de Kely de Castro, com ilustrações de Amanda de Azevedo, Editora Kapulana, 2016
Quem indica: Guacyara Labonia Guerreiro |
“Este livro conta a história de Inaê, uma menina usuária de cadeira de rodas – ‘uma menina-sereia ou uma sereia-menina’. A personagem, como todas as crianças, passa por momentos de alegrias, tristezas, dúvidas e incertezas e, para enfrentar alguns obstáculos, tem a fabulação como sua aliada. A história traz a personagem com deficiência como protagonista e ela conta como é possível ser incluída, mesmo em um ambiente em que as pessoas a veem como incapaz de realizar seus desejos.”
Este título está disponível gratuitamente na Biblioteca Virtual MD.
3 Comentários
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Bom dia!
Senti falta da coletânea ” Era uma Vez um Conto de Fadas Inclusivo” de Cristiano Refosco.
Olá, senti muita falta do livro SEU NOME É DAVID E ELE É AUTISTA, da Cortez Editora.
Parabéns pela indicação dos livros acima mencionados
O livro foi indicado em primeiro lugar na lista dos 11 livros que melhor abordam o tema autismo
Confiram no site (entre outros)
https://www.terra.com.br/noticias/educacao/11-livros-para-conscientizar-sobre-o-autismo,d766e1597cb20d511e2db4dbedd2cbf3cn1xrufu.html
Olá, acrescento à lista meus livros:
Charles, a estrela autista.
Sabrina, a menina albina.
O pequeno grande Tião, o menino com manismo.
Bruna, uma amiga com Down mais que especial.
Sara, a sereia rara.
Todos com o personagem PCD.
Celina Bezerra
Publicados pela Editora Inverso