Nos últimos meses, e em diferentes contextos, uma questão interessante me foi apresentada. Enquanto ensinava sobre o poder da tecnologia texto-para-voz, muitos professores me interrogaram se seu uso não poderia levar a um impacto prejudicial, no longo prazo. Esses preocupados educadores indagavam se a possibilidade de ouvir o texto acarretaria na diminuição da capacidade literária e na eliminação da necessidade dos estudantes de aprender a ler.
Entretanto, um artigo de 2013 indica que mídias digitais são mais eficazes do que os meios impressos para alguns casos de dislexia. Os pesquisadores descobriram que o “uso de dispositivos [digitais] melhora significativamente a velocidade e a compreensão, quando comparado com apresentações tradicionais em papel, para subconjuntos específicos desses indivíduos”, particularmente para os que lutam com a decodificação de sons específicos e a identificação de palavras comuns, de frequência alta – também conhecidas como palavras de reconhecimento automatizado. Além disso, num recente artigo para a revista EdSurge, Valerie Chernek (@valeriechernek, no twitter) escreveu que “para estudantes com dislexia, a experiência sensorial multimodal de ver e ouvir o texto lido em voz alta pode ser uma forma inteligente de reconectar suas mentes para decodificar mais palavras e compreender informações”.
Enquanto as duas colocações acima se referem especificamente a estudantes com dislexia, consideremos o impacto de prover uma experiência de leitura multimodal para todos os estudantes. Se abordarmos esse processo tendo como linha didática o “Desenho Universal para Aprendizagem”, todos os estudantes poderiam se beneficiar dos recursos de acessibilidade e não só aqueles que têm um distúrbio de aprendizagem proveniente da linguagem ou do meio impresso.
Cenário 1: Tocar & conhecer
Uma das melhores características de usar texto-para-voz é o poder de ser capaz de tocar qualquer palavra e ouvi-la em voz alta. Considere o estudante que está se esforçando para identificar vocábulos específicos e pode agora sintetizá-los. Se o objetivo de aprendizagem é compreender o material, e não decodificar a escrita, esse recurso provê uma possibilidade adicional para acessá-lo.
Cenário 2: Apoios multissensoriais
Em diversos leitores de tela atuais, não só o texto é lido para os estudantes, mas as palavras são realçadas no momento em que são ditas, o que pode auxiliar no rastreamento ocular tanto quanto guiar os estudantes para facilitar o processo de compreensão, permitindo que ouçam palavras que, de outra forma, não seriam capazes de decifrar.
Cenário 3: Enriquecimento
Além de cogitarmos em usar texto-para-voz como apoio a pessoas que leem com dificuldade, podemos pensar sobre os que estão trabalhando para sintetizar e analisar textos que estão tanto acima de sua capacidade de leitura quanto abaixo de suas capacidades linguísticas. Ao encorajar estudantes a tirar vantagem da tecnologia, eles podem ter lidar com conteúdos que os desafiam e os levam a fazer conexões mais profundas.
Penso que é importante lembrar que o valor da leitura digital está em sua característica de acessibilidade, o que quer dizer que as ferramentas permitem maior aproximação com o conteúdo e melhor experiência de aprendizagem pelo aluno. Esses instrumentos não substituem a necessidade de ler, mas adicionam funcionalidade ao processo. Ao mesmo tempo em que tal fato não enfraquece o valor da leitura atenta, provê ferramentas de apoio para permitir aos estudantes se envolverem com ela mais autonomamente, tanto quanto a ter múltiplas alternativas para entender o conteúdo.
Dica do DIVERSA: As tecnologias assistivas são importantes ferramentas para possibilitar um ambiente escolar mais inclusivo. Para saber mais sobre o tema, leia o artigo escrito pela Profa. Beth Holland: Pequenas mudanças tecnológicas – Grandes impactos na aprendizagem
Beth Holland lidera workshops de desenvolvimento profissional em escolas pelos Estados Unidos, escreve para diversas publicações, incluindo Edutopia e Edudemic, apresenta-se em conferências e gerencia mídias sociais. Ela é especialista em ensino fundamental e médio, aprendizagem móvel e tecnologias assistivas. A autora tem mestrado em educação no campo da Tecnologia, Inovação e Educação pela Escola de Educação de Harvard e bacharelado em Ciência da Comunicação, pela Universidade Northwestern.
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