Irlanda promove modelo educacional inclusivo com sete níveis de apoio

Proposta intergovernamental tem como pilares a formação de educadores, o financiamento estatal e o oferecimento de uma série de serviços de suporte a estudantes

Para possibilitar o acesso de todos os estudantes à pré-escola, o governo irlandês lançou em 2016 o Acess and Inclusion Model (AIM), ou Modelo de Acesso e Inclusão, em português. O objetivo é auxiliar educadores e familiares na construção de experiências inclusivas, garantindo que todas e todos possam participar plenamente do processo educativo, possibilitando o desenvolvimento de seu máximo potencial.

O modelo é uma iniciativa intergovernamental, liderada pelo Departamento de Assuntos da Infância e Juventude e envolvendo o Departamento de Saúde e o Departamento de Educação e Habilidades. A combinação entre os departamentos de educação e saúde, que trabalham juntos, serve para garantir a aprendizagem e os apoios terapêuticos necessários às crianças.

 

Em volta de mesa circular, três mulheres e um homens (membros do governo irlandês) posam para foto. Sobre a mesa livros. brinquedos e bichos de pelúcia. Ao centro, banner do modelo em que se lê: "AIM: Acess and Inclusion Model". Fim da descrição.
Membros do governo irlandês em divulgação do AIM. (Foto: divulgação. Fonte: Zero Project Conference 2020)

Paul Gleeson, do Departamento de Assuntos da Infância e Juventude, explica que o modelo inclusivo está alicerçado em três pilares: financiamento estatal, formação de educadores e fornecimento de profissionais de apoio.

O principal objetivo do AIM é permitir que tantas crianças com deficiência participem de maneira significativa da pré-escola. Só precisamos de uma mente aberta e um pouco de treinamento.

Contextualização

Em 2010, a Irlanda iniciou a pré-escola universal gratuita, equivalente ao jardim de infância, por meio do Early Childhood Care and Education (ECCE) Programme, ou programa de Educação e Cuidados à Primeira Infância, em português. Contudo, muitas crianças com deficiência não puderam acessar ou participar significativamente devido a barreiras físicas e falta de recursos e/ou treinamento de pessoal.

Após cinco anos do início do programa, em novembro de 2015, o governo irlandês lançou um relatório do Grupo Interdepartamental sobre o apoio ao acesso para crianças com deficiência aos ambientes pré-escolares. O documento estabeleceu uma visão clara para a construção de um modelo abrangente de apoio centrado na criança.

O modelo de acesso e inclusão

A partir da visão trazida pelo relatório, o novo modelo com base no acesso e inclusão foi planejado. O AIM não está incorporado à legislação irlandesa, mas trabalha com a cooperação voluntária de centros de aprendizagem e assistência precoce.

 

Em sala com brinquedos e materiais didáticos, professora vesta fantoches interagindo com quatro crianças. Fim da descrição
Modelo inclusivo foi idealizado para garantir acesso à pré-escola a todos os estudantes. (Foto: divulgação. Fonte: Zero Project Conference 2020)

Para isso, possibilita a oferta de suporte prático e personalizado, com base nas singularidades, e não requer um diagnóstico de deficiência. O modelo foca o nível de desenvolvimento das crianças, sua capacidade funcional e suas habilidades.

A principal meta é capacitar as pré-escolas a criar ambientes inclusivos que compreendam as diversas especificidades de cada criança, sobretudo aquelas com deficiência. Dessa forma, o programa oferece cursos de formação gratuitos para que os educadores desenvolvam habilidades e possam atuar na eliminação de barreiras.

Para Gleeson, a principal questão a ser trabalhada é justamente criar uma cultura de conscientização em prol da educação inclusiva.

Temos dois desafios: um é fazer com que todos entendam que existem apoios e como esse esquema ajuda crianças com deficiências. O segundo é como podemos ajudar as pessoas e os familiares a compreenderem as deficiências e que seus filhos podem frequentar as pré-escolas.

Sete níveis de apoio

O AIM foi projetado para responder às particularidades de cada criança. Portanto, foram desenvolvidos sete níveis de apoio progressivo, com base nas especificidades do estudante e no serviço pré-escolar.

O Grupo Interdepartamental recomenda práticas de apoio para permitir a inclusão completa e significativa, partindo dos suportes universais, para todas as crianças (níveis 1 a 4), para apoios altamente direcionados (níveis 5 a 7), voltado a crianças com demandas mais complexas.

Para muitos estudantes, os suportes universais oferecidos no modelo são suficientes. Para outros, um apoio específico é necessário, como o acesso a um equipamento especializado. Já para um número pequeno, é recomendado um conjunto de diferentes serviços, como intervenção terapêutica e assistência adicional em sala.

As pré-escolas também podem solicitar, em acordo com os familiares, outras medidas de apoio. Dentre elas estão a orientação de uma equipe de especialistas qualificados em acesso e inclusão, equipamentos de apoio e serviços de terapia direcionados, além de profissionais de apoio na sala de aula.

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O governo central fornece financiamento às agências governamentais desde a introdução do programa e também oferece uma ferramenta de autoauditoria para ajudar as unidades educacionais a determinarem as necessidades de apoio.

Desde a sua implementação, em setembro de 2016, a política tem financiamento assegurado pelo governo irlandês. Em 2019, o orçamento foi de 35 milhões de euros, tendo sido aumentado para 43 milhões de euros em 2020.

Bom para todas e todos

Em 2018, após dois anos de implementação do AIM, a proporção de crianças com deficiência que participam da educação regular havia aumentado de 45% para 65%. Além disso, 78% dos familiares relataram que seus filhos se beneficiaram do programa e que isso havia tornado a cultura na pré-escola mais inclusiva. Ao todo, 8.500 crianças receberam apoio do modelo no ano letivo de 2018/19.

Gleeson vê os dados como muitos positivos e explica que a educação inclusiva é benéfica para toda a comunidade escolar.

Muitas pessoas falam em como é bom para a criança com deficiência frequentar uma pré-escola regular, mas entendemos que isso é muito bom para todas as outras crianças, ajudando-as a serem mais maduras, confiantes e protagonistas.


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