Embora pessoas com TEA enfrentem alta taxa de desemprego, equipes inclusivas no mercado de trabalho proporcionam ambientes harmônicos, autônomos e engajados
Cerca de 80% das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) adultas está desempregada. A estimativa é da Organização das Nações Unidas (ONU) e revela um cenário de preconceito e desconhecimento.
“Respeito para todo o espectro”
Desde 2007, a ONU intitulou a data de 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O objetivo é eliminar preconceitos em relação às pessoas com TEA e proporcionar um ciclo de debates e conscientização social. O tema de 2020 é “Respeito para todo o espectro”.
A campanha reforça a importância da sociedade compreender a complexidade do Transtorno do Espectro Autista e de respeitar todo e qualquer indivíduo. Para Danilo Garcia, consultor de TI e tem TEA, a data é importante para discutirmos sobre a efetivação de direitos.
Respeitar as pessoas com autismo é eliminar preconceitos e oferecer condições de trabalho para que cada uma possa mostrar o seu potencial.
Cenário atual
Em 2012, foi sancionada a Lei 12.764, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A lei assegurou benefícios às pessoas com autismo nas áreas de saúde e educação e reforçou direitos básicos, como ao trabalho.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que há cerca de 70 milhões de pessoas com autismo em todo o mundo. No Brasil, ainda não é possível quantificar as pessoas que possuem o espectro, pois não há dados oficiais sobre o assunto. Somente no ano passado foi sancionada a lei que prevê a inclusão de perguntas sobre o TEA no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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No entanto, uma em cada 54 crianças é diagnosticada com autismo no mundo, segundo dados do Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos. Seguindo essa conta, o Brasil apresenta mais de 3 milhões de pessoas com TEA.
Formação de profissionais em TI
Diante desse cenário, há iniciativas que visam a inclusão de pessoas com TEA no mercado de trabalho. A Specialisterne é uma delas: oferece formação gratuita em Tecnologia da Informação para pessoas com autismo e faz a mediação com empresas para a contratação dos profissionais. As organizações parceiras também recebem formação de valorização da diversidade e das diferenças.
O projeto age em sintonia com os Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, no que diz respeito às metas de educação de qualidade e redução de desigualdades.
Desde 2016, a Specialisterne já formou cerca de 160 profissionais, dos quais mais de 110 estão empregados. Danilo, de 25 anos, é um dos jovens. Após passar pela formação da Specialisterne, atualmente ocupa o cargo de consultor de TI na empresa.
Ele, que deseja ser bem-sucedido na carreira e ter uma vida autônoma, entende que é preciso eliminar o preconceito em relação às pessoas com autismo. Para isso, a convivência com as diferenças é fundamental.
A convivência com a diversidade potencializa as habilidades de cada pessoa.
Engajamento e inovação
Para Gláucia Ribeiro, analista de comunicação da Specialisterne, é necessário conscientizar a sociedade sobre os direitos das pessoas com autismo: elas podem e têm o direito ao trabalho.
A valorização da diversidade no ambiente de trabalho contribui com a humanização e o engajamento de toda a equipe.
Gláucia acredita que a construção de uma cultura inclusiva gera benefícios a todas e todos, estimulando equipes mais harmônicas e autônomas. Para ela, as pessoas com autismo tendem a ser detalhistas e concentradas, o que possibilitaria resultados inovadores para as empresas.
A mesma avaliação é compartilhada por Thamara Alencar, analista de Recursos Humanos do núcleo de Diversidade e Inclusão da Sodexo, empresa que recebeu em 2018 o Selo de Direitos Humanos e Diversidade, concebido pela Prefeitura de São Paulo.
A nomeação reconhece organizações que têm boas práticas na promoção dos direitos humanos e valorização da diversidade. A Sodexo foi selecionada pela contratação e apoio a pessoas com deficiência, refugiadas e em situação de rua. Para Thamara, empresas inclusivas são mais criativas.
“Quanto mais diversa a equipe for, mais inovadora ela é!”
A análise de Thamara é reforçada pelo estudo Getting to Equal 2019: creating a culture that drives innovation (Rumo à inclusão 2019: criando uma cultura que estimula a inovação), realizado em 2018 pela consultoria Accenture. De acordo com a análise, companhias inclusivas e diversas são 11 vezes mais inovadoras e têm funcionários seis vezes mais criativos do que a concorrência.
O levantamento foi realizado com 18.120 profissionais de 27 países, incluindo o Brasil. Os dados dão conta de que uma empresa inclusiva oferece um ambiente mais criativo e flexível, o que proporciona aos funcionários a possibilidade de errar e inovar.
Na visão de Danilo, para além da inovação e criatividade empregadas, é fundamental construir uma comunidade que abrace as diferenças em todos os ambientes. “É preciso eliminar o preconceito contra a diversidade e contra as pessoas com deficiência para que a sociedade seja mais inclusiva e aberta às diferenças”.