UFRJ debate a inclusão de estudantes com síndrome de down e TEA

Além de curso para educadores da rede municipal de Piraí (RJ), ação de extensão universitária disponibilizará aplicativo colaborativo para as escolas

A pandemia da covid-19 ampliou a exclusão de crianças e jovens com deficiência das atividades escolares. Fatores como o isolamento, o ensino remoto e a imunidade reduzida de algumas crianças dificultaram sua participação em atividades que antes faziam parte de seu cotidiano. A retomada do ensino presencial, portanto, aponta a urgência do debate sobre inclusão.

Pensando nisso, em um curso de extensão iniciado em 2021, o Laboratório de Inclusão, Mediação Simbólica, Desenvolvimento e Aprendizagem (Limda), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem debatido com professores da rede municipal de Piraí, no Rio de Janeiro, a inclusão de estudantes com síndrome de down (T21) e Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas da rede pública de ensino.

Por meio de uma pesquisa para estudar, criar e desenvolver uma alternativa ao processo tradicional de formação de professores e ao processo de ensino-aprendizagem de todos os estudantes, teve início a criação do aplicativo “Comjuntos”.

Segundo a professora Marinalva Oliveira, uma das coordenadoras do projeto, mesmo antes da pandemia as escolas já tinham dificuldades para incluir estudantes público-alvo da educação especial. “Com o isolamento e a necessidade de aulas remotas, isso piorou e muito”, afirma a pesquisadora, que também é mãe de um jovem de 16 anos com síndrome de Down.

Alguns estudantes apresentam deficiência intelectual e, assim como os demais que possuem ou não dificuldade de aprendizagem, necessitam de diferentes métodos de ensino, que muitas vezes estão relacionados às aulas presenciais. “O contato face a face é importante tanto para o aluno quanto para o educador, que pode compreender melhor o que o estudante está comunicando. Pela internet, esse processo pode ser dificultado”, explica Marinalva.

Falta de condições adequadas

Muitas escolas não têm oferecido condições adequadas para as pessoas com deficiência retornarem com segurança às atividades presenciais, embora a deficiência não possa ser fator de exclusão e impedimento. Marinalva destaca: “As escolas devem garantir a formação continuada dos professores, preparando-os para as novas dinâmicas do pós-pandemia, com a indicação face a face e o uso de máscaras, por exemplo”.

De acordo com Sandra Cordeiro de Melo, também coordenadora do Laboratório, o debate com os educadores busca responder às questões: “De que maneira o aplicativo pode contribuir para o desenvolvimento do professor, em articulação com seus pares?” e “Como essa ferramenta digital, inserida no processo de ensino-aprendizagem, pode beneficiar pessoas com TEA e síndrome de Down em seu processo de escolarização formal?”

Além de propor o uso da tecnologia como aliada para as aulas, a UFRJ também aponta o suporte emocional como imprescindível no recebimento de todas as crianças de forma presencial ou remota: “Os professores precisam entender e acolher experiências que podem ter ficado confusas para as crianças e jovens. Caso contrário, muitos não permanecerão na escola ou sequer retornarão”, explica Marinalva.

Aplicativo Comjuntos

O aplicativo que está sendo desenvolvido pelo Laboratório de Inclusão, Mediação Simbólica, Desenvolvimento e Aprendizagem (Limda) apoiará o planejamento das escolas da região, em adição ao curso ministrado na universidade. Inicialmente, a plataforma será utilizada pelos profissionais da rede municipal de educação de Piraí (RJ).

A ferramenta ”Comjuntos” conta com a elaboração de perfis personalizados de educadores e estudantes, registro de atividades e planos de aula e, ainda, um mapa das unidades escolares locais, com informações sobre as turmas.

Atualmente, o protótipo do aplicativo já está construído e um link de download será disponibilizado para início do período de testes, com objetivo de estabelecer o compartilhamento de experiências pedagógicas.

Em seguida, haverá uma fase de colaboração com os docentes participantes para aprimorar o aplicativo, agregar novas estruturas e torná-lo mais funcional.

Na intenção de expandir seu alcance para outras partes do Brasil, o projeto iniciou uma parceria com a rede municipal de educação do município de Queimadas, na região metropolitana de Campina Grande (PB).

Projetos inclusivos

O curso e a criação do aplicativo “Comjuntos” são parte de uma ação da extensão da UFRJ, setor responsável por conectar a universidade aos demais setores da sociedade. Nela, as ações são desenvolvidas por 50 mil estudantes, envolvidos em 3 mil iniciativas de diferentes áreas.

As iniciativas já beneficiam mais de 2 milhões de pessoas por ano, no Rio de Janeiro e em outros estados, com pesquisas, eventos, cursos, oficinas e capacitações.

Outro exemplo de projeto inclusivo, realizado na instituição, é o “TO Brincando”, voltado para o desenvolvimento de jogos de tabuleiros e digitais acessíveis. A iniciativa é atrelada ao curso de Terapia Ocupacional (TO), coordenado pela terapeuta ocupacional, professora e pesquisadora Myriam Pelosi.

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