Preocupada com um estudante com deficiência visual de 8 anos, recém-matriculado na escola, a professora resolveu desenvolver jogos que lhe proporcionassem conhecimentos sobre a localização dos objetos e das pessoas. Como o menino apresentava, além da cegueira, dificuldade de linguagem, em virtude da exclusão vivida até então, o objetivo das atividades era melhorar a interação do garoto com o ambiente e os colegas. O primeiro jogo feito com toda a classe foi "O rabo do burro", que consiste em vendar os olhos da criança e orientá-Ia, por meio de comandos, a colocar o rabo no local exato, no traseiro do burro. O jogo pode ser feito de várias formas e adaptado para o conteúdo escolar. A professora buscou tornar suas aulas cada vez mais auditivas e táteis. Em fase de aquisição da escrita – alguns alunos ainda não estavam alfabetizados -, os próprios alunos construíam letras, números e sinais gráficos com canudos de jornal ou outros materiais que lhes permitissem realizar o conhecimento abstrato por meio de ações concretas. Na hora do recreio, a professora dirigia jogos de natureza sinestésica, como "Morto/vivo”, “A linda rosa juvenil”, "Cabra-cega" etc. Em decorrência desse trabalho, tanto o aluno com deficiência como as outras crianças se desenvolveram – especialmente aquelas com defasagem na aquisição da leitura.
Fonte: Relato retirado do livro Inclusão na Prática, de Rossana Ramos (Summus Editorial, 2010).