Matriculado com nove anos em nossa escola, Rafael adaptou-se facilmente, pois era amável, tranquilo e apresentava bom equilíbrio emocional. Embora não tivesse problemas de fala, seu histórico de exclusão lhe causou dificuldade de pronunciar as palavras e as frases. No 5º ano do ensino fundamental, Rafael frequentava as aulas e participava ativamente das atividades, mas se negava a tentar a escrita. Na hora da produção de textos, ele dava sempre um jeitinho de escapar. Também se negava a frequentar o reforço de escrita que ocorria fora do horário regular. Até que se apaixonou pela ideia de trabalhar com pai, levando flores para o mercado no caminhão. Aproveitamos sua motivação para incentivá-lo a aprender a ler e a escrever. De fato, ele passou a ter interesse pela escrita, embora de forma alternativa. Na hora da saída, enquanto esperava pelo pai no portão da escola, ia escrevendo os nomes dos carros que passavam na rua, assim como seus acessórios. Elegeu como sua alfabetizadora a servente da escola que controlava a saída das crianças. Sentado no chão com o caderno no colo, Rafael iniciou seu processo de aquisição da escrita e da leitura. É preciso lembrar que isso ocorreu quando ele já estava no 8º ano, com 13 anos de idade. O processo foi bem-sucedido e, após alguns meses, o menino estava alfabetizado.
Fonte: Relato retirado do livro Inclusão na Prática, de Rossana Ramos (Summus Editorial, 2010).