Projeto utiliza matemática para tornar casas acessíveis

Desenvolvida por estudantes do ensino médio, iniciativa utiliza conceitos matemáticos para proporcionar acessibilidade a casas populares

Meu nome é Ederson, sou professor de matemática há 9 anos na Escola SESI do município de Birigui (SP). Em 2018, desenvolvi com as três turmas do ensino médio um projeto de aplicação dos conceitos matemáticos para proporcionar soluções de acessibilidade para uma residência adaptada.

Desenvolvimento do projeto

Quando pensamos em acessibilidade, a primeira coisa que vem à cabeça é ter acesso a parques, shoppings e meios de transporte. Porém, poucas vezes nos perguntamos sobre a importância de programas de construção de casas populares para promover melhores condições de vida para as pessoas com deficiência.

Turma de estudantes posa para foto com os materiais desenvolvidos durante o ano letivo: a planta da casa popular acessível, o guarda-roupa adaptado e o protótipo de porta automática. Alguns dos alunos estão usando óculos de realidade aumentada. Fim da descrição.

Sabemos que no Brasil há um déficit habitacional bastante significativo e agravante, principalmente nas grandes cidades. É notório o quanto ainda necessitamos avançar em políticas públicas voltadas a oferecer moradia para uma grande parte de nossa população.

Com essas inquietações, propus a estudantes do ensino médio o projeto “Matemática e Acessibilidade”. A ideia era questionar como os conhecimentos da matemática poderiam contribuir para fomentar políticas públicas voltadas à construção de casas populares acessíveis a cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida.

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O projeto na prática

O projeto foi desenvolvido a partir de temáticas propostas nos Eixos Integradores de Matemática do currículo do SESI São Paulo. Para cada turma, trabalhamos um tema diferente. Assim, cada uma identificou uma barreira à acessibilidade e apresentou uma solução por meio do desenvolvimento de pesquisa relacionada.

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“Legal para você, ideal para todos”

O tema proposto ao 1º ano foi “Legal para você, ideal para todos”. Por meio de votação, os estudantes do 1° ano decidiram desenvolver um projeto de criação de uma planta baixa para uma residência popular que fosse acessível para pessoas que utilizam cadeira de rodas ou possuem mobilidade reduzida.

Explorando os conceitos de “áreas de figuras planas”, eles aplicaram normas que asseguram a acessibilidade em uma residência considerada popular, encontradas na ABNT. O projeto também foi assessorado por um arquiteto de nossa cidade que nos deu maior embasamento.

A planta da casa popular acessível foi desenvolvida utilizando o software de modelagem 3D SketchUp e o protótipo foi apresentado para a comunidade escolar e para as famílias dos estudantes.

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“Engenhocas fantásticas”

Paralelamente, os estudantes de 2º Ano do Ensino Médio foram desafiados a pensar no desenvolvimento de “Engenhocas fantásticas”, elaborando um projeto que estivesse relacionado ao do 1º Ano, porém sem perder a particularidade do tema proposto a eles.

Jovem com deficiência física observa guarda-roupa adaptado juntamente a mulher que segura sua cadeira de rodas. Ao lado, três estudantes assistem. Fim da descrição.

A turma decidiu desenvolver móveis adaptados, agregando conceito e funcionalidade à casa popular acessível. Contamos com uma profissional de design de interiores para orientá-los no desenvolvimento do desenho técnico e aplicamos os conceitos de áreas e volumes estudados.

Os estudantes, entusiasmados, produziram um guarda-roupa, não apenas utilizando o software, mas também transformando em realidade. O presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Birigui (ADEFIBI) foi convidado para conhecer o guarda-roupa e dar um parecer quanto à funcionalidade.

“As soluções para o futuro passam por aqui”

Assim como nas turmas anteriores, apresentamos ao 3º ano as propostas sugeridas no 1º e 2º ano para que, por meio do tema “As soluções para o futuro passam por aqui”, pudessem pensar em um projeto que contribuísse com o que estava sendo desenvolvido.

Após diversas ideias apresentadas, os estudantes decidiram desenvolver um protótipo de porta automática. Ele foi desenvolvido utilizando MDF e os recursos tecnológicos do arduino, software para o desenvolvimento da programação para abrir e fechar a porta automaticamente.

Ao criarem a programação, os estudantes exploraram os conceitos de lógica matemática necessários para execução do projeto. Os estudantes tiveram o cuidado de pensar no visual da porta, pois entenderam que a estética era tão importante quanto a funcionalidade.

Quais foram os resultados?

A grande marca do projeto foi o protagonismo dos estudantes. Em todos os instantes, foram eles que tiveram as ideias, fizeram questionamentos e trouxeram soluções. Desde o começo, o projeto estava alinhado ao propósito e interesse dos alunos, estimulando a autonomia de cada um.

O projeto também tornou o ensino dos conteúdos matemáticos mais prazeroso e estimulante. Os estudantes perceberam como os conceitos da matemática podem ser significativos em sala de aula ao produzir conhecimento para além da escola.

Ao final do ano letivo, cada turma entregou o seu “produto final” como proposta de solução ao problema por eles levantado. Para que os materiais desenvolvidos pudessem convergir entre si, as turmas tiveram que trabalhar colaborativamente e alinhar as pesquisas desenvolvidas.

Guarda-roupa adaptado para pessoa com deficiência física. Fim da descrição.Todos os materiais foram apresentados na 2ª Mostra dos Eixos Integradores organizada pela escola e posteriormente o guarda-roupa adaptado desenvolvido pelos estudantes foi doado para uma família indicada pela ADEFIBI.

Foi um momento de grande emoção, pois era a escola fazendo a diferença na vida de um jovem e de sua família, como resultado de todo um trabalho desenvolvido em sala de aula, tornando a aprendizagem significativa.

 


Ederson Sales Pastor foi um dos 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2019 com o projeto “Matemática e Acessibilidade”.

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