Trabalho colaborativo, rede de apoio e promoção de atividades interativas em variados espaços da escola marcam plano pedagógico de rede do Guarujá (SP)
Em 2019, nós – educadoras e gestoras da rede municipal de Guarujá (SP) – participamos do Diversa Presencial, curso de formação em educação inclusiva voltado a profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns.
Percebemos que estávamos diante de uma grande oportunidade de enriquecer nossa experiência e vivência nas escolas para acompanhar as ações desenvolvidas junto a estudantes com deficiência.
Histórico de práticas inclusivas
A rede de ensino de Guarujá passou a oferecer um ambiente inclusivo desde 2005. Algumas escolas do município apresentavam projetos inclusivos, colocando os estudantes com deficiência na sala de aula comum.
Algumas unidades escolares também contavam com salas de apoio. Elas eram similares às salas de recursos multifuncionais do serviço oferecido atualmente pelo Atendimento Especial Especializado (AEE): atendiam alunos com deficiência e com dificuldade de aprendizagem no contraturno escolar.
O caso do estudante com TEA
Na formação, levamos para ser discutido o caso do estudante Augusto*, um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que apresenta muita dificuldade para acompanhar as propostas escolares em sala de aula junto com a turma. Ele está matriculado no 2º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Vereador Afonso Nunes, localizada em bairro periférico do distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá. Temos 604 alunos matriculados no ensino fundamental I.
Na sala de Augusto estão matriculados 32 alunos que são exemplarmente frequentes. A escola conta com um pátio escolar, quadra anexa ao prédio da unidade e sala de recurso multifuncional, além de laboratório compartilhado de informática, ciências e matemática. Nossa unidade é acessível, com rampa de acesso e banheiro exclusivo.
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Quando Augusto chegou à escola, apresentava grande desinteresse pelas atividades propostas, agindo com impaciência, impulsividade e/ou agressividade em momentos desafiadores. Tinha muita dificuldade para se expressar e ficava muito irritado ao não ser compreendido.
O estudante também se indispunha com colegas e professores para ter suas vontades atendidas. A família de Augusto, por sua vez, apresentava resistência para colaborar com o processo escolar do aluno, com dificuldade de se adaptar a mudanças.
Rompendo barreiras com trabalho colaborativo
Com os conhecimentos construídos na formação, fomos aprendendo a traçar um plano pedagógico para mudar aquela realidade. Trabalhamos juntos, cada qual assumindo responsabilidade, e conseguimos avançar em muitos pontos.
Fizemos análises contínuas das dificuldades do aluno e flexibilizamos propostas educativas, além de diversificarmos as estratégias pedagógicas e ampliarmos o uso do espaço físico da escola.
A ideia foi tornar o aluno protagonista do próprio aprendizado. Para isso, reestruturamos as ações pedagógicas em todos os ambientes da escola para otimizar a gestão do tempo de forma ativa e produtiva. Favorecemos os momentos de interação, colaboração e envolvimento com outras classes.
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Dessa forma, as aulas se tornaram menos expositivas e mais práticas, estimulando ações interativas e em grupo. Essas atividades favoreceram o desenvolvimento da sala como um todo e o aumento da participação e interesse dos estudantes em decorrência de uma aprendizagem mais significativa.
Além disso, para as atividades pedagógicas, houve maior aproveitamento do uso do espaço físico escolar, como pátio, sala de recursos, quadra, biblioteca e espaço multimídia de aprendizagem.
Rede de apoio e aposta no diálogo
Criamos também uma rede dinâmica e coletiva de atuação por toda a equipe escolar e estabelecemos diálogo com a família e profissionais da saúde que atendem o aluno.
Nas reuniões com os familiares, a gestão escolar pontuou com ênfase o tema da educação inclusiva, que foi muito bem aceito por conta da conduta da escola em todas as ações. Acreditando no diálogo e por meio dessas estratégias de manejo, articulação e suporte social, conseguimos respostas positivas de Augusto: ele passou a ter mais autonomia e já não toma ações impulsivas quando contrariado.
Compartilhando saberes
Queremos ressaltar a importância da perspectiva trazida pela formação de alinhar todas as instâncias hierárquicas escolares em um mesmo foco, em uma mesma condição de busca de soluções e possibilidades quanto às questões de inclusão que cercam nosso universo profissional.
Todos se sentiram importantes dentro do processo. A busca de alternativas e os espaços para discussões e revisão dos protocolos foram ampliados. Além disso, a formação nos trouxe luz e desvelamento sobre a educação inclusiva, nos fazendo entender de fato como funciona em nossa cidade esse trabalho.
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Enfim, o compromisso com o processo de formação cidadã do aluno precisa e deve ser coletivo. Precisa e deve ser entendido por todos os atores da escola – estudantes, familiares, funcionários da manutenção, alimentação, corpo docente, equipe gestora, secretaria de educação.
Percebemos com a formação que estamos no caminho certo e que, em breve, o fruto do nosso trabalho será visivelmente mensurado, principalmente no aspecto qualitativo de todo o processo.
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*nome fictício
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do DIVERSA Presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.