Diário de bordo: estratégias para o AEE durante a pandemia

Proposta envolve encontros semanais com estudantes e familiares para garantir o aprendizado durante o fechamento das escolas

Sou professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) da E.E. Maestro Antonio Marmora Filho, localizada no município de Mogi das Cruzes (SP), e atendo estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na sala de recursos multifuncionais.

Encontrando alternativas diante da suspensão das aulas presenciais

Neste momento de pandemia — uma experiência que foge do controle de nossa realidade pessoal e profissional —, nós, enquanto educadores, nos perguntamos: Como podemos continuar atendendo nossos alunos dentro de suas casas? Qual a melhor forma para abordarmos essa situação com eles? Quais estratégias e recursos tecnológicos podemos utilizar para mediar sua aprendizagem?

Enquanto professora do AEE, senti-me desafiada a buscar uma proposta de atendimento pedagógico atraente e dinâmica para oferecer a continuidade dos estudos aos alunos.

Busquei conversar com as famílias para identificar de quais recursos tecnológicos dispunham. Minha ideia era elaborar uma proposta pedagógica de atendimento condizente com as possibilidades dos estudantes, levando em consideração as condições de acesso à internet, computadores e celulares.

O “Diário de Bordo”

A partir do contato que tive com os familiares dos estudantes, resolvi elaborar o “Diário de Bordo”, atendimento semanal com diversas atividades aos estudantes. Além de continuar explorando competências curriculares, as atividades contam com a participação dos familiares e permitem que o vínculo entre aluno, escola e docente permaneça.

Compartilhada semanalmente com a coordenação pedagógica da escola onde atuo, a proposta visa a oportunidade de garantir aos estudantes aprendizagem continuada. Para a realização das aulas, conto com o auxílio de recursos tecnológicos, como o Microsoft Teams e o WhatsApp, para possibilitar comunicação em tempo real em um ambiente virtual.

Mas como isso funciona?

O atendimento é realizado de forma individual duas vezes por semana e em grupo a cada quinze dias. Em relação aos conteúdos das aulas, organizei as atividades em articulação com a professora de matemática e montamos estudos de acordo com o que os estudantes estavam aprendendo na sala comum, como a Matemática das Coisas.

Dentre os objetivos propostos pelas atividades estavam a resolução de problemas que envolvem determinadas medidas usando o centímetro e a escolha e seleção de objetos pequenos para realizar medições e identificar tamanhos. As atividades também envolveram o estudo da régua e alguns estudantes construíram cartazes para reforçar o aprendizado.

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Pautei o trabalho para eliminar dificuldades de aprendizagem e fortalecer as potencialidades de cada um. Com as atividades, os estudantes também estimulam a oralidade, a escrita, gêneros textuais e raciocínio lógico.

Na semana do brincar, utilizamos os conhecimentos adquiridos nas aulas anteriores para a confecção de um Bilboquê (brinquedo que exige encaixar uma bola a um suporte utilizando o movimento das mãos). Os estudantes utilizaram a fita métrica para medir a garrafa pet e o barbante utilizados no processo. As famílias foram responsáveis por apoiar a construção do projeto.

Além dessas atividades, enviei para a casa dos estudantes um kit com jogos pedagógicos. Algumas atividades já haviam sido vivenciadas e elaboradas por eles na escola e acrescentei mais algumas integradas aos conteúdos que estamos trabalhando. É importante que o professor respeite o perfil de aprendizagem de cada aluno, retomando o conteúdo e utilizando materiais concretos sempre que possível para fortalecer o aprendizado.

Além das aulas propriamente ditas, os encontros também contam com brincadeiras como o bingo, para aproximar os estudantes de suas famílias. Os prêmios, que acabam sendo apenas simbólicos, são oferecidos de forma espontânea pelos participantes, como caixas de bombons e estojo confeccionado por uma das mães. Temos como meta a realização de um mega encontro após a pandemia.

Tirando lições

Após algumas semanas do projeto, é possível identificar que as aulas virtuais têm aumentado a atenção dos estudantes, uma vez que não há interferências externas, e possibilitam a construção de uma rotina de estudos.

Além disso, as ferramentas tecnológicas são um atrativo, permitindo tornar a aula mais dinâmica e interativa. Sabemos que a convivência social, a interação com os amigos e a convivência com o professor no ambiente escolar é fundamental. Mas, quando retornarmos para a escola, precisaremos repensar e incluir novas metodologias mais fortalecidas pela tecnologia.

Por fim, o retorno das famílias tem sido muito positivo. Eles relatam que os estudantes estão demonstrando grande entusiasmo pelas aulas e pelas atividades escolares do AEE e da sala comum, e que é possível notar o desenvolvimento de autonomia e protagonismo no cotidiano deles.


O DIVERSA está acompanhando as práticas inclusivas de ensino durante a suspensão das aulas presenciais em sua nova seção DIVERSA na pandemia.

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