Pesquisa analisa modelos de formação continuada sobre educação inclusiva

Em seminário de celebração dos 30 anos da Declaração de Salamanca, Alana divulga estudo que analisa políticas públicas em oito localidades brasileiras e internacionais

Crédito: Jessica Ribeiro/Alana

O que redes de ensino estão fazendo para ajudar os professores a promover a educação inclusiva e, assim, garantir oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes? A pergunta direcionou a pesquisa a respeito de experiências diversas, que resultou na publicação “Educação Inclusiva e a Formação Continuada de Professores: Aprendizados Nacionais e Internacionais”, realizada pelo Alana, em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e coordenação da Vindas Educação Internacional, de Portugal. O lançamento ocorreu na última terça-feira, 10. 

O estudo analisa políticas públicas, práticas e estruturas organizacionais criadas para a implementação da formação continuada para a educação inclusiva a partir de oito casos: Maracanaú (CE), Pinhais (PR) e Santos (SP), no Brasil; Buenos Aires (Argentina); Glasgow (Escócia); Comunidade Autônoma Valenciana (Espanha); Portugal e Uruguai.  

Esses locais foram escolhidos pela diversidade de modelos de gestão e perspectivas e porque são ou estão em países signatários da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU).  

As iniciativas não são abordadas enquanto experiências de sucesso a serem replicadas, mas como uma amostragem de políticas públicas a serem analisadas. Em conjunto, elas contribuem para o planejamento, o monitoramento e a avaliação de processos formativos que podem apoiar o trabalho dos professores e o projeto de uma educação inclusiva na escola e na rede de ensino às quais pertencem. 

Um dos desafios apontados pelo estudo é o fato de que, de modo geral, as ações de formação continuada em educação inclusiva têm sido direcionadas apenas aos professores de educação especial e outros profissionais técnicos e de apoio que atuam diretamente com estudantes com deficiência. No entanto, os autores da pesquisa indicam ser necessário que todos os professores participem dessas iniciativas. 

Nas localidades investigadas, os pesquisadores também encontraram evidências de que, na construção das ações de formação continuada, há o desejo de que elas atendam às expectativas e necessidades levantadas pelos educadores.  

Como conclusão, o estudo apresenta 25 recomendações para realização de formação continuada de professores voltadas à educação inclusiva. Veja abaixo três delas: 

  • As políticas educativas devem ter a formação continuada de professores como uma de suas prioridades, estabelecendo o planejamento orçamentário de recursos e meios organizacionais, financeiros e materiais que garantam as condições para apoiar o percurso docente de forma sistemática e ao longo da vida profissional; 
  • Os sistemas educativos devem considerar inclusivas apenas as escolas e as salas comuns, que abarcam todos os estudantes, sem exceção, e mobilizar as escolas para, internamente, trabalharem em prol da construção de ambientes e estratégias pedagógicas que levem em conta todos e cada um dos estudantes, aprendendo e compartilhando saberes e experiências juntos; 
  • As instituições de formação de professores devem organizar o currículo dos cursos de formação inicial para que a diversidade humana seja trabalhada transversalmente, qualificando os futuros profissionais dentro do pressuposto de que todas as pessoas aprendem, desenvolvem-se e podem encontrar dificuldades ao longo do seu percurso educativo. 
David Rodrigues e Luzia Lima-Rodrigues comentam os principais resultados do estudo, durante seminário que celebrou o aniversário de 30 anos da Declaração de Salamanca e do próprio Alana. Crédito: Jessica Ribeiro/Alana

Sobre a pesquisa 

A pesquisa, encomendada à Vindas Educação Internacional, foi realizada por um grupo de oito pesquisadores que trabalharam sob a coordenação de Luzia Lima-Rodrigues, professora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, investigadora e formadora de professores em Portugal e em outros países; e David Rodrigues, professor da Universidade de Lisboa e membro fundador da Pró-Inclusão Associação Nacional de Docentes de Educação Especial. 

A metodologia envolveu entrevistas, grupos focais e análise de legislações, documentos e recomendações internacionais sobre educação inclusiva de cada localidade. Os pesquisadores sintetizaram achados, reflexões e elementos para construir formações continuadas relevantes e promover a educação inclusiva a partir de dez categorias:  

1) legislação;
2) estruturas de formação;
3) demandas prioritárias dos professores e gestores;
4) perfil dos formadores;
5) participação e impacto das formações continuadas na carreira docente;
6) tipos e ambientes de formação continuada;
7) temáticas mais presentes;
8) metodologias;
9) avaliação dos participantes e das ações de formação continuada;
10) políticas públicas e financiamento. 

“As dez dimensões que analisamos funcionam como um guia para reflexão nas escolas, sendo verdadeiros chamados para a ação. Não podemos continuar como estamos; é necessário assumir essa responsabilidade”, afirmou Luzia durante o lançamento da publicação, ocorrido em Brasília (DF).  

Segundo ela, as políticas de formação continuada devem ser ajustadas, e os tomadores de decisão devem levar em conta medidas que aperfeiçoem a legislação, as estruturas de formação, a consulta aos próprios profissionais, o perfil dos formadores, o impacto na carreira docente, o espaço para ações formativas, as temáticas e metodologias inclusivas, a avaliação da própria formação e o financiamento. Luzia indica que não faltam recursos para implementar essas mudanças: “É preciso coragem política para colocar o dinheiro onde ele precisa ser colocado”, enfatiza. 

Baixe a pesquisa: 

Seminário que celebra os 30 anos da Declaração de Salamanca 

O lançamento da pesquisa ocorreu durante Seminário 30 anos da Declaração de Salamanca: Conquistas e Desafios para a Educação Inclusiva. O evento foi realizado pelo Alana, que também celebra três décadas de existência. A iniciativa contou com a cooperação da Globo, do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), do Ministério da Educação (MEC) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

+ Acesse no site do IRM outras informações sobre o seminário. 

+ A íntegra do seminário está disponível no canal do MEC no YouTube. 

Comentário

  • * temos que conhecer e analisar a realidade de nossos educandos para saber quais seus anseios e dificuldades para podermos trabalhar de acordo com as diferenças para que todos se sintam acolhidos no ambiente escolar.

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