Primeira pessoa com Síndrome de Down a escrever e protagonizar peça teatral, atriz atua pelo combate ao preconceito
Atriz, modelo, ativista, influenciadora digital, blogueira, rainha de bateria, empoderada e feliz com sua trajetória. Tathi Piancastelli é a primeira pessoa com Síndrome de Down do mundo a escrever e protagonizar uma peça teatral profissional.
![Em cenário de peça teatral, Tathi olha para cima com os dois braços estendidos. Ela segura uma fita em cada uma das mãos. Fim da descrição.](https://diversa.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Tathi-6.jpg)
No Dia Internacional da Síndrome de Down, comemorado em 21 de março, ela fala sobre sua trajetória como defensora dos direitos das pessoas com trissomia do cromossomo 21. “A data é uma oportunidade para refletirmos sobre inclusão”, avalia.
Apaixonada por teatro e por Charles Chaplin, Tathi também se tornou a primeira pessoa com Síndrome de Down a ter uma peça premiada internacionalmente. A obra “Menina dos Meus Olhos”, história de uma adolescente em busca de amor e aceitação social, recebeu o prêmio de melhor Teatro/Espetáculo no Brazilian International Press Awards USA 2016.
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“Como eu amo teatro, eu queria deixar um recado de inclusão por meio das artes”. É assim que Tathi define “Menina dos meus olhos”, em que a personagem principal é uma jovem com Síndrome de Down que passa por inúmeras situações de discriminação e reivindica direitos. A peça já foi apresentada em Nova York a pedido do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de promover debate internacional de combate à violência e ao preconceito.
“Não sou especial”
E não é só por meio do teatro e das artes que Tathi manifesta sua mensagem por um mundo mais inclusivo. Ela é ativista voluntária pelo Instituto MetaSocial defendendo os direitos das pessoas com Síndrome de Down, participando de eventos internacionais e representando o Brasil em reuniões da ONU.
Para ela, ainda há muito preconceito contra as pessoas com deficiência e é preciso um esforço coletivo para eliminar barreiras ao pleno acesso desse público a todas as esferas da sociedade.
É por isso que faço palestras: para as pessoas conheceram mais sobre a importância da inclusão. Faço pensando no futuro das pessoas com deficiência.
Como blogueira, a atriz faz vídeos para conscientizar a sociedade em relação a inclusão de pessoas com deficiência. Em um dos vídeos do seu canal no Youtube, ela ensina a forma correta de se referir a pessoas com Síndrome de Down:
Não sou especial, nem anjinho, sou apenas uma pessoa com um cromossomo a mais.
“Oi, eu estou aqui”
Atualmente, Tathi trabalha com o projeto “Oi, eu estou aqui”, que incentiva pessoas com Síndrome de Down a morarem sozinhas e se tornarem autônomas.
A gente pode trabalhar, morar sozinho e ter qualquer outra coisa na vida, reivindica.
![Sentada em deck de madeira, Tathi posa foto com um vestido azul. Em seu braço e perna direta está escrito: "Hi, I'm here" e "Tathi Piancastelli by Gabi Artz". Fim da descrição.](https://diversa.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Tathi-1024x705.jpeg)
O projeto cresceu e ganhou apresentações artísticas nos Estados Unidos: uma curta, para ser interpretada ao ar livre; e uma versão longa, para teatro. A peça tem previsão de chegar ao Brasil nos próximos meses.
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A atuação de Tathi foi parar inclusive na avenida. Em fevereiro, a Escola de Samba Unidos da Alvorada, de Manaus (AM), levou a reflexão sobre inclusão social para a passarela do Carnaval 2020 com o tema “Oi, eu estou aqui! Alvorada com um cromossomo a mais mostra que ser diferente é normal”.
E a atriz foi a grande estrela. Homenageada, levou para a passarela a discussão sobre inclusão social, levantando a bandeira da luta por direitos das pessoas com Síndrome de Down e com deficiência, dos negros e dos povos originários. Também promoveu debate sobre intolerância religiosa, homofobia e feminicídio.
O samba-enredo pedia “respeito e inclusão para viver”, e para Tathi é a valorização da diversidade que nos torna mais inclusivos. Em sua infância e adolescência em Campinas (SP), estudou em escolas especiais, mas também em escolas comuns inclusivas e acredita que a convivência entre as diferenças pode eliminar preconceitos e valorizar as potencialidades de cada um. “Por que separar? Temos que incluir todas as pessoas. Viver a inclusão é uma coisa muito positiva para todos!”.
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“Eu me sinto bem feliz por tudo que já fiz”
Tathi é uma jovem que sonha e não se cansa. Mesmo com tantas atividades e atuações, se engana quem pensa que não há tempo e espaço para novos projetos. Ela ainda pretende elaborar novos trabalhos inclusivos e sonha em realizar um musical. Para ela, é importante acreditar em si e no potencial próprio para estimular autonomia e protagonismo. “Eu me sinto bem feliz por tudo que já fiz”.